Dois Lados | Negan

Capítulo 69

Na manhã seguinte eu acordei com um embrulho no estômago que não se dissipou nem depois do antiácido que Maggie me deu. Minha ansiedade estava a mil e tudo contribuía para meu corpo entrar em colapso.

Daryl e eu saímos e eu vi em primeira mão Hilltop; grande, verde e feudal. Glenn me apresentou ao atual líder - que mais parecia uma caricatura - como apenas uma moradora de Alexandria. Ele nem de longe parecia ser confiável e eu tinha medo que ele pudesse ser do tipo que vendia os seus para conseguir empatia dos Salvadores.

Uma mulher estava cuidando de um pequeno grupo de crianças, que estavam cavando na terra e plantando sementes. Era disso que precisávamos, mais amor, mais lugares para se sentir seguro e mais suprimentos em geral.

Era uma pílula difícil para mim engolir, vendo quantos outros seres humanos estavam lutando para construir algo que Negan simplesmente vinha e tomava, e deixei de lado meus próprios sentimentos sobre Negan para me concentrar no que era certo.

Se eu pudesse ter filhos um dia, não desejaria menos para ele ou ela. Um lugar onde eles poderiam se sentir seguros, sem se perguntar de onde viria a próxima refeição ou se alguém iria aparecer para levar tudo embora.

- Estamos limpando as armas que conseguimos - Paul falou quando estávamos reunidos na escada da grande mansão que havia ali.

- Pensei que talvez você pudesse nos ajudar, Ellie? - Maggie sugeriu, numa tentativa para que eu me sentisse a vontade e em família de novo - Ellie é ótima nisso - ela disse a Paul - Quando estávamos na prisão, ela era quem coordenava a maioria das corridas e tudo o que tinha a ver com armas.

Eles me conheciam assim, por ser forte e estratégica, e se eu não contasse, ninguém ia saber que eu me transformei em alguém medroso quando me desprendi deles. Eu não podia deixar de rir; apesar de tudo, é realmente muito bom se sentir parte de um time novamente.

- É disso que precisamos - Paul disse - A maioria das pessoas daqui não sabe sequer empunhar uma faca.

- Então vamos trabalhar nisso - eu disse, curiosa de como esse lugar se mantinha se a maioria das pessoas eram inaptas. Com uma onda de nostalgia e coragem, eu respirei fundo quando Daryl espalmou a mão nas minhas costas - Bem, onde estão essas armas?

×

Enquanto Daryl e Maggie trabalhavam uns com os outros, Sasha e eu examinávamos os rifles que eles acharam, limpando e deixando pronto para uso. Pensei em falar com ela sobre seu irmão ou sobre o tal Abraham, mas ela não parecia inclinada a partilhar, então fiquei quieta. Se fosse comigo, também não compartilharia.

Depois de algumas horas, tudo estava pronto e nós os guardamos em caixas que seriam escondidas. Três viagens foram necessárias e quando terminamos eu estava bebendo água ao lado de um dos trailers quando ouvi um grito, e corri desajeitadamente para frente, meu coração caindo quando vi caminhões familiares passando pelos portões.

Daryl apareceu e quase arrancou meu braço quando saímos serpenteando por entre os trailers, partindo para a casa, onde Jesus nos acenava. Correndo pelos degraus, ele nos levou para as portas da adega do lado direito da casa, nos colocando no canto de trás do porão.

- Não saiam até eu voltar - Paul avisou antes de sair rapidamente.

O ar era espesso e mofo quando Daryl me puxou contra ele ao longo da parede, e nos deslizamos silenciosamente, comigo entre suas pernas. Meu coração estava chorando, pois nós podíamos ouvir homens próximos. Os braços de Daryl se envolveram ao redor de mim enquanto a porta da adega batia, abrindo-se lentamente.

Silenciosamente, eu peguei minha faca enquanto o som de passos ecoava na sala úmida. Olhando entre garrafas, eu podia ver um homem calvo caminhando devagar pela sala, empurrando aleatoriamente caixas com sua bota e levantando lençóis que cobriam móveis velhos. Quando ele se aproximou, eu agarrei a faca na mão, pronta para atacar até que a mão áspera de Daryl cobriu a minha, forçando meu braço para o lado.