Capítulo 67

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RICK

Espalhando o mapa na mesa da cozinha, Rick o estudou, procurando a maneira mais fácil de chegar à base dos Salvadores. Michonne e Rick haviam saído alguns dias antes, logo após o encontro com Dwight, e eles haviam retornado com cerca de cinquenta armas, junto com munições.

- Ela o ama - Rick disse em um tom amargo - Ela realmente se importa com esse maluco.

- Olhe - Michonne disse a ele enquanto segurava sua mão - Ninguém quer que ele morra mais do que eu, mas parece que ele a tratou bem, e ele a resgatou. Então eu posso entender o que ela está passando. Toda essa situação não é fácil para ela. Além dela talvez não o tenha visto fazer a mesma merda que vimos.

Ninguém além de ele e Carl sabiam das outras mulheres e Rick não queria que isso se espalhasse. Claramente era um assunto delicado que Ellie evitou e ele falaria com ela quando estivesse pronta.

- Ainda temos que matá-lo - respondeu Rick - Ele não pode ser permitido viver, não importa o que isso faça para Ellie. Isso é mais do que ela.

Isso seria trair a promessa que ele fez a Ellie, mas Rick não via outra alternativa. Ele deixaria Negan viver, andando livremente por aí? Não.

- Talvez Ellie esteja certa - Michonne disse e os dedos de Rick se contrariam nos dela - Talvez se em vez de matá-lo, nós apenas o prendessemos?

Rick pensou na cela que Morgan havia construído. Ele teria que deixar toda a raiva de lado para tentar fazer isso, e ele não sabia se conseguiria.

Ficaram em silêncio quando um grupo começou a se formar ali, esperando que a reunião começasse.

Daryl entrou e logo após Ellie, mas ambos ficaram distantes um do outro. Sua irmã se aproximou e ele a viu dar uma respiração trêmula antes de falar.

- Então, qual é o plano?

ELLIE

- Conseguimos uma boa quantidade de armas - Rick começou - Vamos entrar em contato com Hilltop, falar com Maggie e Glenn. Por enquanto não queremos que saiba que há outras comunidades envolvidas.

- Eu estou indo junto - Daryl disse prontamente, ajeitando o arco nas costas.

- Eu também - eu concordei - E depois?

- Então voltamos para Alexandria e esperamos pela visita de Negan.

Eu sabia que Rick iria tentar uma abordagem sem agressão primeiramente, mas tinha plena ciência que Negan não aceitaria.

O resto da reunião se resumiu a Rick explicar como tudo funcionaria e um arrepio subiu pela minha espinha quando me lembrei dos tempos na prisão e do Governador. O exército de Negan era bem mais complexo e furtivo, e não seria da noite para o dia que seria tomado.

- Podemos conversar? - eu perguntei quando alcancei Daryl no corredor.

- Não - ele disse duramente e abriu a porta do quarto com truculência, e eu a segurei antes que batesse contra a parede, fechando-a na sequência.

- Daryl...

- O que você quer? - ele virou para mim, os punhos cerrados.

- Eu sei que o que eu disse talvez tenha sido confuso para você...

- Nao foi, acredite, ficou bem claro - ele me cortou, mas eu não ia desistir.

- Até quando acha que vamos poder viver assim, matando uns aos outros?

- Não se trata sobre as outras pessoas, se trata dele - Daryl cuspiu - Você quer protegê-lo.

- Talvez seja, mas isso não é algo que está no meu controle. Eu não queria me sentir assim, ou você acha que eu quero? - eu gesticulei, cansada. Ele me olhou por alguns segundos e não era nem de longe o olhar que eu queria. Era pesado demais.

- Eu não sei, eu não te conheço mais.

Eu não conseguia desviar o olhar apesar da umidade ardente que turvou minha visão. Como ele podia me acusar assim?

Deus sabe que eu não queria entrar nessa briga, eu estava de volta à menos de vinte e quatro horas e já havia discutido com Daryl e Rick, mas como eu poderia deixá-lo falar isso depois de tudo?

- É possível ser a mesma quando o homem que você amou te largou? - eu digo alguns segundos mais tarde; o tempo que precisei para me recuperar do impacto de suas palavras.

As chances de qualquer coisa entre nós voltar a ser como antes era apenas um pouco maior do que a chance de uma bola de neve sobreviver no inferno.

- Eu estou aqui agora - sua voz era baixa e culpada, e meus ombros caíram.

- Eu também.

- Você está, mas sua mente ainda tá naquele inferno, pensando nele - ele acusou, chegando mais perto, todo seu rosto franzido em desgosto - O que há de errado com você, não vê tudo o que ele fez com nós?

- Eu sinto muito - eu disse, e era isso. Eu não estive aqui para ver o que Negan fez e não podia mensurar o estrago. Eu não tinha culpa, mas mesmo assim ele me acusava com o olhar.

Nós ficamos nos encarando e foi eu quem desviou primeiro. Eu sentei na cama, mas Daryl não se mexeu.

- Eu achei que podia ser o mesmo ainda, mas não vai, não é? - eu olhei para cima e ele ainda estava duro como pedra.

Nenhum de nós sabia por onde começar a arrumar a bagunça. Nenhum de nós sabia agir um com o outro depois de tanto tempo e mesmo querendo ignorar, estávamos magoados um com o outro pelas escolhas do passado que criavam uma parede entre nós.

Eu achei que ele fosse gritar ou simplesmente dar as costas, mas eu vi seus ombros tremendo quando ele tomou uma respiração.

- O que eu posso fazer? - ele sussurrou e eu o senti desprotegido - O que eu posso fazer pra consertar tudo?

Eu balancei a cabeça, negando.

- Nada pode ser feito para mudar o que aconteceu, mas podemos fazer algo sobre o futuro.

Antes que eu pudesse sequer piscar, ele me puxou para um abraço forte, do tipo que eu recebia de bom grado tantas vezes no passado. Eu o abracei de volta, sentindo os músculos rígidos de suas costas na palma de minhas mãos.

Isso não era estranho, era algo tão comum entre nós antes e eu me sentia em casa em seus braços, pelo menos um pouco. Talvez fosse assim, pouco a pouco as coisas poderiam voltar a ser como antes.

Eu tinha certeza de que não ia conseguir mudar a mente de Daryl, e nem podia exigir depois do que ele passou, mas eu poderia mostrar a ele que nós tínhamos mais a oferecer ao mundo do que morte e guerra.

Digam o que querem no próximo capítulo, beijos!!


Dois Lados | NeganOnde histórias criam vida. Descubra agora