5 - A Viagem

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– Vou viajar semana que vem! – Digo para minha avó sentada no sofá.

– Que bom minha netinha. Mas você vai visitar seus pais?

– Não vó. Quero ir daqui mesmo para os States. – Digo-a me levantando da poltrona e indo para a cozinha.

– Tem certeza? – Ela ergue o olhar para mim.

– Sim vó. Por que a insistência? – Preparo o café para tomar.

– Porque apesar do que aconteceu no passado eles ainda são seus pais. E os problemas foram mais para o seu irmão do que pra você que fica com raiva de algo tão simples.

– Tão simples vó? – Paro para olhá-la. – Não foi fácil para eu ouvir aquelas coisas. De ver aquelas coisas e o que meus pais fizeram com ele quando viram? Nada. Não reclamaram nada com ele. Agora comigo, tudo que eu fazia por minha vontade minha mãe interferia. Reclamava. Só meu pai que procurou entender meus motivos.

– Mas eles não vão pagar agora sua viagem? Acho que se arrependeram por sinal. Já é alguma coisa.

– Em partes vó. Meu pai que tinha cedido e entendido. Minha mãe demorou bastante para compreender e começar a ajudar também. Agora, – olhei em seus olhos cansados. – Meu pai não sabe que não irei voltar.

– Não sabe?! – Você não contou a ele? – Minha avó estranha.

– Não. Não quero que ele fique contra mim e meus sonhos. Ele só vai saber quando eu estiver lá.

– Então para ele não ficar chateado com você, vá visitar sua família e despeça deles pessoalmente do que por telefone. – Minha avó dar uma dica.

– Bem pensada vó. Vou lá visitá-los amanhã cedo para ter tempo para conversar. Aí vou ver como eles estão comigo e como Pedro também está.

– Você não conversou com Pedro nesses três anos longe?

– Não. Deixei um espaço para ele pensar e no que ele fez no que ele disse a mim.

– Minha fia você não deixou um espaço... 

Olho para minha avó com ar de interrogação. – ... Você deixou uma cratera, um buraco negro. – Ela começa a gargalhar e eu contribuo.

[Dia seguinte - 05:00]

– Vó. Vó, acorda! – Cutuco minha avó que abre os olhos cansados pela vida e olha pra mim. – Oi minha netinha, já vai viajar?

– Já vó. Tentei te chamar mais cedo, mas como não quero que a senhora fique dormindo a tarde toda, decidi chamar antes de sair mesmo.

Levanta o corpo com a ajuda de Evelyn e se senta na cama. – Já guardou tudo? – Sim vó. – E os produtos de beleza? – Sim, também. – 'Tá tudo certo mesmo minha fia? – A avó preocupada levanta e vai andando até a porta da sala. – Tudo certo vozinha. – A acompanha e dar aquele abraço apertado. – Dar um abraço meu para seu pai e sua mãe também. – E outra pro meu neto. – Pode deixar vó, que darei. – Me solto do abraço, do afago da minha avó e saio de seu apartamento. 

– Vó? – Me viro. – Diga minha neta. – Eu avisei ao Marcos para lhe fazer companhia hoje e vir te visitar mais vezes com as suas netinhas. – Tá certo minha fia querida. Muito obrigada. Tome cuidado, amo você. Tchau!

Repito meu sentimento pela minha avó e sigo rumo à viagem. Ir de encontro com meus pais depois de três anos é muito complicado. Apesar que me comuniquei via telefone não é mesma coisa quando pessoalmente e além do mais, como está Pedro comigo depois de tanto tempo sem comunicação? Será que ele ainda está chateado com tudo que aconteceu? Ou ele aceitou o seu destino? Será que meus pais brigaram com ele pelo que ele tenha feito? Ou será que ele não me perdoou pelo que eu tenha dito? São tantas perguntas, mas sem respostas.

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