CAPÍTULO 5.

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MARIA NARRANDO

alguns anos atrás...

Meu dia não havia começado muito bem, com nove meses de gestação a sensação era que minha barriga ia explodir. Todos os dias eu apenas sonhava que Sofia tinha nascido. Meu cabelo estava todo desgrenhado, meu corpo se curvava para a frente, por não aguentar mais o peso que minha barriga suportava.

Levantei da cama e fui direto para o banheiro, após um banho longo, escovei meus cabelos longos - que não iria ficar assim por muito tempo, já que eu iria cortar mais tarde. Vesti um vestido confortável porque não conseguia usar mais calça, nem nada que apertasse minha barriga.

Comi um pão integral, que minha mãe me obrigara, pois não queria que eu saísse sem comer nada. Após comer e tomar um suco de laranja, meu pai me levou para a cabeleireira de carro. O caminho até lá foi silencioso e angustiador. Eu e meu pai estávamos sem nos falar fazia alguns dias por conta de uma briga besta.

Quando Bob estacionou na frente da casa de Luísa, desci e peguei meu casaco de lã que minha mãe fez. Segui pela estradinha de pedras até a porta de sua casa e toquei a campainha. Provavelmente ela estava me esperando pois abriu a porta em menos de dois segundos.

- Oi Maria. - ela me entrega um beijo na bochecha. - Oi Bob.

Meu pai acena e dá uma buzinada, e logo some pelas ruas.

- Então, pretende cortar quanto? - sua mão alisava os fios de meu cabelo, ainda molhado pelo banho mais cedo.

- Quero na altura dos ombros, por favor.

Eu geralmente não sou formal e quieta assim mas eu não gostava nada de Luísa.

Bem, no ano passado meu pai foi ao mercado comigo, eu mexia em meu celular enquanto ele falava com uma mulher que aparentava ter sessenta anos - Luísa. Meu pai achou besteira quando disse a ele, mas eu reconheço uma fura olhos quando eu vejo. Não que ela havia se envolvido com ele, mas seu modo como olhava para meu pai me enojava. Suas mãos enrolavam uma mecha de cabelo e suas perguntas evasivas não ocultavam o que estava claro ali, Luísa era apaixonada por meu pai. Claro que nunca contei à minha mãe ou não estaria aqui hoje.

- Vamos começar? - sua voz me tira de meus pensamentos.

- Vamos. - digo.

O cabelo que eu vou cortar, irei doar para uma instituição de câncer juvenil.

Após cortar o cabelo meu pai veio me buscar e eu voltei para a casa com um visual totalmente novo. Eu estou linda. Nunca achei que fosse gostar de meu cabelo curto, já que sempre o amei grande. Mas agora, com ele um pouco à cima de meus ombros - nunca confie em cabeleireiros - eu me sentia renovada, como se fosse outra pessoa.

Chegando em minha casa, fui direto para a cozinha mostrar para a minha mãe meu cabelo.

- Você está linda, meu amor. - ela me acolheu em seus braços, e eu senti algo estranho escorrer por minhas pernas.

Olhei para o chão, onde havia um líquido. Olhei para minha mãe e pronunciei um palavrão, minha bolsa havia estourado.

[========]

Quando eu pensei que não iria conseguir mais suportar aquela dor, escutei um choro de bebê. Era o som mais maravilhoso que eu tive a oportunidade de ouvir.

- Ela é linda. - ouço minha mãe falar.

Uma enfermeira vem até mim com minha bebê no colo, enrolada em um pano branco sujo por sangue. Pego ela no colo cuidadosamente, tudo nela é perfeito e quando aqueles olhinhos pequenos se abriram e me olharam, eu senti algo que nunca havia sentido, isso era amor de mãe.

- Oi minha pequena. - converso com ela. - Eu prometo ser uma ótima mamãe.

[========]

Depois de dois dias sai do hospital e fui direto pra casa. Eu não saia de perto de Sofia um minuto sequer. Como poderia? Ela alegrou aquela casa.

- Me dê ela filha, você ainda não comeu. - minha mãe pegou ela de meu colo.

- Eu vou ir, consegue fazê-la dormir?

- Eu tive você, sei cuidar de uma criança. - ela diz, brincando com Sofia. - Agora vai se alimentar, não quero que você fique fraca.

Após um jantar completo me deitei na cama, ao lado de Sofia. Fiquei por alguns minutos admirando seu rostinho e me certificando que ela está bem.

- É sua primeira noite em casa meu amor, espero que goste daqui. - sussurro acariciando sua mãozinha.

E assim adormecemos juntas, como mãe e filha.

Cinco Anos AtrásOnde histórias criam vida. Descubra agora