Capítulo 39

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Cristiano me puxa para seus braços e sinto meu coração inflar, de carinho, ternura, satisfação. Estou onde deveria estar!

Ele me beija com paixão, como quem pedisse perdão e quisesse demonstrar que não concorda com nada que seu pai disse e eu sei que não, ou ele não me defenderia daquela maneira.

Nos perdemos nos lábios um do outro, mas logo somos interrompidos por Maria:

- Eii, casal de pombinhos apaixonados, eu ainda estou aqui.

Eu e Cristiano nos soltamos e ele foi abraçar Maria, todo brincalhão, o que me espantou. Cristiano realmente havia se escondido em uma armadura de medo e amargura, que aos poucos está se desfazendo.

- Ô Maria, minha mãezinha do coração, vem cá. - fala, a puxando para seus braços e a apertando.

- Ô meu filho, que abraço bom!

Fico observando a cena, me deixando envolver por tamanha ternura e carinho que exalam dos dois.

- Essa aqui é minha mãezinha, Lu. Essa mulher aqui, que não me botou no mundo, mas foi quem ajudou meu pai a me criar e hoje vive aqui comigo e continua cuidando de mim.

- E por que você disse que morava sozinho, seu cretino. - falo, me sentindo muito a vontade e dando um tapa no braço dele.

Ele me olha, surpreso por eu ter dado um tapa nele.

- Eii, mulher, não me bata.

Maria vira outro tapa nele.

- Bate, sim. Estava me escondendo, é?

- Mas vocês estão de complô? Eu não falei, porque sei lá. A Maria mora aqui, mas essa casa é gigantesca, ela tem o espaço dela e passa a maior tempo nele e eu na empresa, quando chego ela já se recolheu descansar. É quase como se morasse sozinho mesmo e ela também. Foi só maneira de falar mesmo.

- Unf… Sei!

- Eu acho que vocês tem muito pra conversar, não é?

- É, acho que sim.

- Pois então, por que vocês não vão dar uma volta na praia, enquanto eu preparo um jantar bem gostoso pra vocês?

- Pra nós, Maria, você vai jantar com a gente.

- Tudo bem! Agora vão, vão passear.

Cristiano entrelaça seus dedos aos meus e sai me puxando em direção ao elevador. Descemos em silêncio, sem soltar as mãos. Chegamos e ele sai me puxando, atravessamos o saguão, a avenida movimentada e logo estamos sentados na areia, olhando o mar banhado pela luz da lua e assim ficamos por alguns minutos, em silêncio, sentados um ao lado do outro, ombro a ombro e pensamentos barulhentos.

Estou perdida em meus pensamentos, envolvida pelo barulho das ondas batendo, quando Cristiano decide falar:

- Desde que me entendo por gente, escuto de meu pai que mulher nenhuma presta, que jamais deveria deixar uma delas tomar conta da minha vida, atrapalhar meus planos, que eu só deveria as deixar se aproximar se fossem muito bonitas. Aí, as usaria e depois as descartaria. Com o tempo ele começou a me explicar por que eu deveria agir assim. Lu, a mulher que me colocou no mundo, usou meu pai o quanto foi possível. Ele era louco, apaixonado pela Zenaide, doente de amor, eu sei o que ele me conta, eu tinha dias de vida, quando ela nos abandonou. Eu nem sei qual o rosto da minha mãe, nunca quis saber, até porque meu pai sumiu com tudo que tinha a ver com ela, não sobrou nem uma foto. - ele fala, olhando para o mar, com voz embargada, deixando evidente a mágoa que carrega pela mãe e isso fez meu coração se apertar no peito - Eu era pequeno, mas tenho vagas recordações de por anos a fio, ver meu pai acabado, sempre chorando em algum canto da casa, ás vezes, depois que eu já era maiorzinho, o via dormir bêbado na poltrona da sala. Ele nunca descontou em mim, sempre me deu muito amor, cuidava muito bem de mim e quando eu tinha uns seis anos, a Maria entrou em nossas vidas. Esse anjo, que eu sei que só não sou mais amargurado, porque mesmo contra a vontade do meu pai, ela plantou ternura em meu coração. Ela tentou me ensinar a não tratar nem as mulheres e nem ninguém como objetos, mas a amargura de meu pai foi mais forte, por isso eu sou assim, do jeito que você vê, seco, arrogante, essa pedra de gelo. - fala, finalmente me encarando, abrindo um fraco sorriso triste.

Meu Querido ChefinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora