Ciao, Torino!

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Senti que minha vida iria mudar assim que o avião aterrissou no Aeroporto Internacional de Turim ás 14:30 de uma terça-feira.

A ficha de que eu havia deixado Londres para trás, depois de quase 11 anos morando lá com minha mãe começou a cair e uma insegurança se instalou na minha cabeça. Afinal deixar algo que já lhe é seguro e confiável para se aventurar em algo novo sempre gera inseguranças.

Será se eu tinha tomado a decisão correta? Meu coração dizia que sim, já que finalmente eu estava de volta á Itália, e mais importante, de volta para perto do meu pai.

Saí do avião, sentindo o clima seco e abafado de Turim, seguindo os outros passageiros até a grande sala de desembarque para pegar minhas malas. A sala estava cheia de pessoas, todas falando em italiano e aquilo de certa forma confortou minha cabeça. Fazia muito tempo que eu não escutava o som doce e gostoso da minha língua natal, apenas quando eu conversava com meu pai ou com minha amiga Ágata, mas na maioria das vezes era por mensagem, ou seja, eu dificilmente escutava suas vozes.

- Você quer ajuda, ragazza? - o senhor que estava ao meu lado durante todo o voo perguntou ao ver minha dificuldade em colocar as malas pesadas no carrinho.

- Por favor... - abri um sorriso tímido enquanto ele se aproximava e começava a empilhar as malas no carrinho.

Através da parede de vidro comecei a procurar meu pai pelo saguão onde os familiares dos passageiros esperavam a saída dos mesmos. Ele tinha dito na noite anterior que iria me buscar no aeroporto e havia pedido todas as informações do meu voo para acompanhar todo o trajeto.

Eu podia sentir a animação dele desde o dia em que eu cogitei a possibilidade de ir estudar Fotografia na Universidade de Turim.

Desde o divórcio dos meus pais, quando eu tinha apenas 10 anos, eu morava com minha mãe, Glória Bianucci, em Londres. Após o casamento fracassado, minha mãe decidiu que precisava recomeçar em outro lugar onde ela não visse revistas ou programas de fofoca falando seu nome, e Londres foi o local escolhido.

Mesmo com a separação e a distância, eu não perdi o contato com meu pai. Ele sempre se fez presente na minha vida, apesar de toda descrição que eu pedia para ele tomar.

A coisa que eu mais amo no mundo se chama privacidade e isso não seria uma coisa que eu teria se meu pai falasse sobre mim em entrevistas ou nessas reportagens de TV, onde eles querem descobrir como é a vida íntima dos técnicos de grandes times. Por isso a mídia e a maioria das pessoas próximas do meu pai não costumam ligar para minha existência. E eu era grata por isso.

Depois de uma procura rápida pelo saguão, pude avistar o senhor Massimiliano Allegri acenar pra mim, caminhando em minha direção. Ele parecia bem casual, usando um jeans, uma camisa polo simples e um boné, ao contrário do que eu costumava ver pelas fotos dos jogos da Juventus, onde ele usava seu terno clássico.

- Mia figlia! - meu pai falou, emocionado, enquanto me dava um abraços daqueles de tirar o fôlego.

Eu sentia muita falta do meu pai e essa foi uma das coisas que me fez tomar a decisão de voltar para a Itália. Eu sentia falta do seu senso de humor, dos seus momentos de carinho, e mais importante, eu sentia falta da conexão que tínhamos quando eu era criança, antes de ir embora com minha mãe.

- Ciao papà. - disse sorrindo ao vê-lo ali na minha frente. - Adorei o seu look do dia.

- Tentei procurar algo que não chamasse tanta atenção, já que você sente vergonha de ser minha filha. - Massimiliano falou usando aquele tom de brincadeira, empurrando o carrinho com as malas enquanto caminhávamos em direção a saída do aeroporto.

Lights On • Paulo DybalaOnde histórias criam vida. Descubra agora