Grenade

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Quando tudo na sua vida parecer estar dando errado, lembre-se de que pode ficar pior. Era isso que eu repetia pra mim mesma durante esses últimos três dias desde minha discussão com Massimiliano. Naquela noite foi a última vez que meu pai olhou ou dirigiu a palavra para mim desde então. Era como se fôssemos dois estranhos dividindo uma casa e isso estava me matando por dentro. Saber que sua confiança tinha sido quebrada era dolorido pra mim, então imagina para ele.

Eu e Paulo sentamos e decidimos que iríamos contar tudo para Max, apenas precisávamos de um jeito sutil pra fazer isso, com a intenção de causar o menor estrago possível. No final das contas, os dias foram passando e nenhuma oportunidade boa aparecia. Confesso que inúmeras vezes uma coragem espontânea bateu, me fazendo caminhar em direção ao meu pai pela casa, mas bastava olhar pra ele que eu sentia um medo enorme.

Não me leve a mal, Massimiliano nunca faria nada de ruim comigo, porém eu não queria decepcioná-lo mais ainda e não saber como ele reagiria a notícia de que sua filha estava namorando um dos seus jogadores, era complicado. Eu tinha medo dele punir Paulo por conta disso. Tinha medo dele não concordar e me mandar de volta pra Londres. E era desse jeito que vários cenários ruins apareciam em minha mente.

Mas na madrugada anterior, eu e o jogador chegamos a conclusão de que no dia seguinte iríamos conversar os dois com Max pela parte da tarde, no meu apartamento, quando eles saíssem do treinamento. Eu já tinha até ensaiado exatamente o que iria falar para o meu pai.

A única coisa que mantinha longe minha ansiedade por hora, era o fato de estar de volta a faculdade. Eu, Ágata e Lucca estávamos sentados no nosso lugarzinho de sempre, com o sol fraco de Turim em nossas cabeças, enquanto eu contava tudo que tinha acontecido nos últimos dias. Meus amigos pareciam chocados com a descoberta de Max sobre a viagem e tão ansiosos quanto eu pelo desfecho dessa confusão toda.

- Eu ainda tô bem pasmo com tudo isso, Ella. Posso imaginar como está sendo essa situação na sua casa. - Lucca dizia bebendo seu café, tocando meu ombro de leve. - Mas pelo menos seu pai não é um grosseiro violento como o meu era na época que morava com ele.

- Max só está chateado, mas quando você e Paulo conversarem com ele hoje, tudo vai se resolver, assim como foi comigo. - Ágata sorriu, tentando passar ao máximo a impressão de que tudo correria bem.

Acho que a morena também se sentia um pouco culpada pelo fato de seus pais terem falado com Massimiliano, mas eu sabia que não era culpa dela e nem mesmo dos Pinola. A culpa era minha por ter segurado esse segredo por tempo demais.

- Eu realmente espero isso, gente. - falei, passando as mãos pelo meu rosto gelado. - Mas eu sinto como se desde o dia que coloquei os pés de volta em Turim, tudo fosse dar errado.

- Ei, não pensa isso. - o moreno disse, estalando os dedos ao meu redor, como se estivesse espantando todas as energias ruins, fazendo com que eu soltasse uma risada baixa. - Esse pensamento negativo só leva a tristeza e atrai coisa ruim, pode parar!

- A única coisa boa nesse momento é saber que minhas aulas voltaram e agora eu posso me jogar em cima dos livros e das câmeras de novo. - bebi um gole do meu café. - Pelo menos isso sempre me fez relaxar.

- É, pensamento positivo é a palavra da vez, afinal, o que pode dar errado pra piorar essa situação?! - Ágata deu de ombros, quando o relógio marcou que era hora de entrar pro próximo período.

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A professora de Estética da Imagem aproveitou o segundo momento para passar um trabalho em dupla sobre o valor representativo da imagem nos dias atuais. Era pra ser um debate entre todos os alunos mas acabou virando uma análise manuscrita. Estava pesquisando referências e discussões sobre o tema no notebook de Lucca enquanto o rapaz passava a limpo o que já tínhamos feito.

Lights On • Paulo DybalaOnde histórias criam vida. Descubra agora