Lights On • Paulo Dybala

Getaway car

A primeira parte da batalha interna tinha sido vencida. Meu corpo parecia frágil, assim como minha mente e as mãos frias indicavam que eu estava visivelmente abalada. Não era fácil aguentar o peso do meu coração no peito nesse momento, mas minha cabeça dizia que tinha feito a escolha correta.

Eu tinha tomado a decisão correta ao deixar Paulo sozinho naquele apartamento, provavelmente com o seu coração partido. E agora estacionando o carro na garagem do meu prédio, eu sabia que estava pronta para enfrentar a segunda frente dessa batalha. Massimiliano.

No meu celular já tinha dezenas de chamadas não atendidas do seu número. Foi ilusão cogitar a mera possibilidade dele nunca ver aquela matéria, mesmo sabendo que meu pai tinha uma equipe de assessoria de imprensa que lhe dizia todas as manchetes quando saía algo envolvendo seu nome na mídia. Nessa altura do campeonato, pelas ligações e pelas várias notificações de mensagens, Massimiliano já estava consciente de todo um passado que lhe fora escondido.

Max tinha todo o direito de ficar chateado com a situação e até mesmo de se sentir traído. Apesar dele não ser nenhum santo, por ter sido o principal culpado pelo divórcio, meu pai já tinha pago sua penitência pelo seu erro durante todos esses anos. Com certeza, aquela traição era a maior cruz que Massimiliano carregava nas costas e infelizmente não tinha conseguido uma segunda chance para mostrar o quanto ele havia aprendido com seu martírio.

Mesmo após todos esses anos o sentimento do mais velho em relação a minha mãe ainda não tinha sido uma ferida totalmente curada. Meu pai já havia tido namoradas e relacionamentos duradouros, mas nada que pudesse ser comparado ao que ele um dia sentiu por Glória Bianucci.

Saber que um dos grandes amores da sua vida tinha passado por um momento difícil durante o período de separação deve ter lhe machucado profundamente. Embora com tudo que tenha acontecido, tanto Max quanto Glória, desejavam apenas o melhor um para o outro, me ensinando desde cedo o significado de respeito, e claro, me ensinando que tudo na vida tem uma hora certa de acabar.

Ao subir no elevador, foi como se uma névoa passasse diante dos meus olhos, me fazendo lembrar da primeira vez que tinha entrado ali ao lado do meu pai, quando o mesmo estava ansioso por ter a presença da sua filha novamente ao seu lado depois de tanto tempo. Eu podia lembrar também do que sentia, uma enorme gratidão e felicidade por poder ficar ao lado dele, restabelecendo nosso vínculo afetuoso. Eu o amava mais que tudo e nada nesse mundo mudaria isso, nem mesmo a distância.

A porta do elevador se abriu, me revelando o hall do corredor que se conectava até a sala de estar. O barulho da TV ligada me indicava que Massimiliano estava em casa me esperando. Eu não tinha a menor ideia de como essa conversa aconteceria, mas tinha convicção de que ela precisava acontecer.

Avancei pelo espaço, vendo a figura masculina de costas para mim, sentado no sofá, com um copo de whisky na mão. Massimiliano não era lá o maior apreciador de bebidas alcoólicas, porém pela situação atual, eu entendia a sua fragilidade em se apoiar no destilado.

Ao ouvir o som de passos atrás de si, Max se levantou, virando para poder me encarar. Seus olhos estavam vermelhos, assim como a ponta de seu nariz, mostrando sinais visíveis de que a emoção tinha transbordado na flor da pele. Meu rosto também deveria estar inchado pelas lágrimas das últimas horas.

- Fiorella... Isso que estão dizendo... O que saiu na revista... É verdade? - questionou direto, sem fazer a menor enrolação. Ele queria respostas e era isso que teria.

Andou até mais próximo, tentando uma maior proximidade, como se aquilo ainda fosse algum tipo de segredo partilhado apenas entre nós dois, como se todo o mundo não tivesse o livre acesso ao que estava online.