Lights On • Paulo Dybala

Into it

Uma das coisas que aprendemos durante a vida, e que constantemente precisamos ser relembrados, é que uma pequena situação pode mudar todos os seus planos, mesmo aqueles que já pareciam estar certos.

Nossa viagem para Argentina estava toda programada. Eu e a família Dybala iríamos partir no dia oito de janeiro para Buenos Aires, já que o último jogo da Juventus antes da pausa seria no dia seis. Infelizmente, isso não aconteceu. Quando o cronômetro da partida Juventus x Cagliari marcou exatos 50 minutos, Paulo saiu do gramado aos prantos, deixando a equipe, os torcedores e eu, muito assustados.

A lesão na coxa direita foi confirmada poucos minutos depois do jogador passar por uma ressonância magnética. Paulo precisaria de repouso e fisioterapia, para se recuperar do dano e tentar diminuir o prazo lamentável de pelo menos um mês sem poder entrar de volta nos campos.

O acontecimento pegou todos de surpresa e nossa viagem de férias prolongadas acabou virando apenas uma visita rápida que durou uma semana pelo país de Dybala. Ele foi cabeça dura e bateu o pé dizendo que queria sim passar uns dias da sua folga em sua cidade natal, e que estava animado em poder me levar nesse passeio, nem que fosse preciso carregar toda uma equipe médica para isso acontecer.

Mesmo durando poucos dias, eu me apaixonei completamente pela Argentina. O jatinho pousou no Aeroporto Internacional de Buenos Aires pela manhã do dia onze, me fazendo agradecer pelo clima quente e ensolarado que estava fazendo por ali, diferentemente da Itália nessa época do ano. Aproveitamos os dois primeiros dias para turistar pela capital, visitando os pontos turísticos e aproveitando cada restaurante típico que poderíamos encontrar. Era óbvio que eu já estava louca pela gastronomia deles, afinal Alicia era uma ótima cozinheira, mas provar as delícias da região feitas ali mesmo, era ainda melhor.

Depois disso, partimos para Laguna Larga, cidade onde Paulo nasceu, viveu e que até hoje uma parte de sua família mora. A viagem de carro durou algumas horas, já que íamos sempre parando pelo caminho para ver alguma praia ou paisagem. Quando chegamos, Paulo me sequestrou por quase um dia todo para me mostrar cada cantinho do lugar onde sua história estava marcada. Me mostrou a escolinha que tinha estudado, o campinho onde costumava jogar quando criança e até mesmo o parque da cidade onde supostamente ele deu seu primeiro beijo.

E foi em cada um desses pequenos momentos, gestos e palavras, que eu fui me rendendo ainda mais ao jogador. Meu sentimento por ele pareceu triplicar, assim como o que ele sentia por mim também. Durante esses cinco dias, deixamos todas as preocupações de lado e focamos apenas um no outro, sem pensar nas neuras e possíveis problemas do futuro. Foi libertador poder andar de mãos dadas com ele pelas ruas sem me preocupar com alguém nos olhando, aproveitando cada um desses segundos que ficarão pra sempre guardados na minha memória e no meu coração.

Sua família era maravilhosa. Minha insegurança foi embora assim que passei meia hora com eles. Todos os seus tios, primos e parentes mais distantes eram pessoas simples e carismáticas, que sempre tentavam ao máximo me agradar, me deixando confortável e familiaridade com o ambiente. Sabe o lance de não ser muito boa em socializar com pessoas desconhecidas? Bom, acho que posso dizer que superei isso.

Durante todos esses dias longe, mantive meu contato com Ágata, Luca e Massimiliano. Minha amiga estava fazendo uma viagem romântica com o namorado, visitando todas as cidades famosas pela Itália numa road trip. Luca havia ficado pelos Estados Unidos desde o ano novo e só voltaria para Turim lá pelo dia vinte de janeiro, data próxima ao início das nossas aulas na faculdade. Já Massimiliano tinha aproveitado a folga para viajar pra Milão, ficando ao lado da família.

Mentir para Max me fez ficar com um enorme peso na consciência. Para ele, sua filha estava viajando pela Itália com sua melhor amiga e não para um país completamente diferente ao lado do seu rolo/namorado ou sei lá o que Paulo era, afinal não tínhamos definido nada em nossa relação.