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Se alguém chegasse as sete da noite de uma segunda-feira, na casa dos Tuan, regularmente, encontraria Mark sentado no sofá, assistindo TV ou conversando no celular para se distrair. Era cedo comparado ao horário que ele normalmente dormia toda noite, que era em média uma ou duas da manhã. Nesse horário ele estaria esperando sua mãe chegar em casa, mesmo sabendo que ela só chegaria de nove da noite, era seu costume desde pequeno ficar encolhido naquele sofá, de pijama, assistindo um filme besteirol ou desenho animado, olhando para tv. Olhando através da tv. Imaginando porque sua mãe chegava todos os dias em horários diferentes. Até já ousara perguntar, certa vez, quando ainda tinha dez anos, mas já se achava grande o suficiente para perguntar e suportar respostas. Ela lhe respondeu com gentileza que seu trabalho demorava dependendo dos dias e dos casos, tocou seu rosto e Mark ainda carregava na memória como os seus dedos estavam frios contra a bochecha dele. Essa fora a primeira vez, na segunda já tinha quinze anos, e o seu pouco (porém já mais ampliado do que a de uma criança) conhecimento sobre o mundo, começou a fazer teorias na sua mente. Estava ficando muito preocupado com ela, quando num jantar, o assunto fluiu sem nenhuma iniciativa, apenas a pergunta seca. Ela o olhara com espanto real, como se dissesse a uma cartomante trapaceira que sabia dos seus truques. Dorine sabia que não iria passar despercebida por Mark todos os dias, uma hora ele notaria que a presença da mãe era irregular, podia por culpa no ônibus, mas talvez ele percebesse que a parada perto da sua casa, era mais regular do que ela. Por isso, ao receber a pergunta pela segunda vez, ela se tremeu inteira, não estava preparada ainda, não tinha uma resposta para lhe oferecer. Mark parecia determinado, pousou o garfo no prato, cruzou os braços e esperou pacientemente a resposta de Dorine.

-Conversamos depois. -disse ela. -Não é assunto para o jantar.

-Eu não saio daqui até a senhora me contar. -insistiu Mark. -A senhora nunca me conta, o que tem de tão secreto isso?

  Naquela noite eles brigaram, com vozes controladas, pois nenhum era apto a gritar como ela sempre o ensinou. Trocaram farpas até a insistência de Mark acabar ao ver as lágrimas da mãe, Dorine estava sentada no sofá quando pararam de brigar. Mark ocupou o lugar ao lado dela e a abraçou quando viu que tinha ido longe demais e sua mãe era mais resistente do que ele sobre esse assunto. O silêncio sobre o trabalho durou desde então, mas Mark continuou no costume de espera-la chegar deitado no sofá. Os dois ainda evitavam falar sobre esse assunto, era desagradável para os dois, e sempre terminava nos mesmos termos. Porém, dentre todas aquelas noites de segunda, vividas por Mark, uma em especial deveria ficar marcada para toda sua vida. E estava acontecendo desde que YoungJae o trouxera a caixa de bolinhos levemente úmida. Eles agora estavam postos sobre a mesa numa bandeja, todos delicadamente enfeitados e, Mark não podia negar, amassados nas laterais, mas nada que fosse terrível.

  O nervosismo de Mark chegava a ser palpável já que a sua testa estava cheia de gotículas de suor de ansiedade. Estava planejando aquilo fazia um tempo, tinha o mapa de como tudo aconteceria em mente, mas estava quase em pânico já que nunca havia feito isso. Tentando se acalmar, ele se acomodou no sofá para esperar Jackson. A casa estava vazia, e sua mãe, de propósito, havia chegado bem cedo naquele dia para ajuda-lo a organizar tudo e pouco depois foi embora com uma mala, prometendo mandar mensagem quando chegasse na casa da amiga, onde dormiria. Sete horas. Estava mais do que na hora de Jackson chegar. Mark se sentou com o celular pousado na coxa, olhando de minuto em minuto se chegaria uma mensagem dele, sobre trânsito ou sobre está com o apartamento inundado. Alguma coisa que desse errado. Era oque Mark achava que ia acontecer, que do nada um cano quebraria, um bueiro explodiria, ou aconteceria um acidente e então nada de noite especial.

  O coração estava pulsando nas orelhas, e suas mãos estavam geladas. O nervosismo o afligiu, então ele se levantou procurando ficar longe daquele celular. O largou no sofá e passeou pela sala, contornando-a e procurando defeitos no seu plano, até decidir que estava perfeito. Bolinhos, balões, varanda. Ele gostaria, até o sorriso de Jackson já estava planejado na sua cabeça. Ele subiu e desceu as escadas, foi na cozinha ver se os bolinhos estavam bem, pôs perfume outra vez, conferiu o quarto e a varanda. Foi quando de lá de cima, ele viu o carro de Jackson se aproximando pela esquina. Ele correu para fora do quarto, quase estragando um balão, fechou a porta nas pressas e voltou para a sala. Parou perto da escada, a dois metros da porta, espaço que o daria tempo suficiente para fingir que não tinha planejado nada. Respirou bem fundo para se acalmar, e saltou quando a campainha tocou.

Te vejo às 00:00| Hiatus | Markson  ✶Onde histórias criam vida. Descubra agora