Às 5h40, já desperta, tomei um banho rápido, daqueles que só são cronometrados quando a pressa dita as regras. Na minha mente, tudo parecia correr bem até o fatídico momento de encarar o guarda-roupa. Era como se todas as peças tivessem combinado uma rebelião silenciosa: "Hoje, não vamos colaborar!" Entre suspiros e risos internos, peguei meu vestido preto básico — que, francamente, nunca falha — e o par de sapatos escarpins vermelhos, quase como uma provocação ao destino. Afinal, quem disse que o primeiro dia não podia ter um toque de ousadia?
Enquanto me ajeitava no espelho, ouvindo a trilha sonora dos meus pensamentos (que mais pareciam uma comédia romântica de segunda categoria), Valentina, minha filha, surgiu com seus olhos verdes quase fechados, ainda meio dormindo, mas pronta para elogiar.
— Mamãe, você está maravilhosa! — disse ela, num misto de sonolência e ternura.
— Obrigada, meu anjinho. — Respondi, dando-lhe um beijo na testa. — Agora, nada de bagunça enquanto a mamãe estiver fora, hein?
Ela riu, aquela risadinha sapeca que faz qualquer coração derreter, e voltou a dormir como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Dei um último suspiro antes de sair e me vi dentro de um táxi, pronta para enfrentar meu novo trabalho. Não demorou muito para que os imponentes portões da casa dos Drummond surgissem à minha frente. Fui recebida por Charles, o segurança, que — surpresa! — parecia ter uma alma gentil por trás da fachada de durão.
— Bom dia, senhorita Miller. — Ele estendeu a mão com um sorriso discreto, e por um momento pensei: "É assim que começa um filme de ação ou uma comédia romântica?"
— Bom dia, Charles! — Respondi, tentando ser tão formal quanto possível, embora não conseguisse evitar o sorriso.
Ao entrar na mansão, encontrei Sandy, uma figura que parecia sair de uma propaganda de shampoo, com seus longos cabelos loiros e jeito descontraído.
— Qualquer coisa, é só apertar o alarme. — Disse ela com um sorriso, o que soou mais como "Se algo explodir, não hesite em chamar ajuda!"
Depois de vestir meu uniforme e encarar uma maratona de limpeza digna de super-heroína, fui avisada que meu intervalo havia chegado. Honestamente, eu nem sabia que já era meio-dia. O tempo voa quando você está concentrada em remover cada gota de mancha e brilhando superfícies como se sua vida dependesse disso.
Ao terminar de limpar um enfeite de cristal, meus olhos caíram sobre uma foto na estante. Lá estava ele. Um homem que parecia ter saído diretamente de uma capa de revista masculina: barba por fazer, músculos esculpidos e um sorriso que poderia muito bem provocar tumultos no trânsito. "Esse só pode ser o famoso Ethan Drummond", pensei. Mas, antes que pudesse analisar mais a fundo o cenário, passos se aproximaram, e guardei a foto rapidamente como se estivesse cometendo algum crime.
— Não quero parecer chata, mas seu intervalo está se esgotando. — Sandy anunciou com um sorriso simpático.
Logo, seguimos juntas até um restaurante próximo para almoçar. Conversamos sobre o trabalho, a vida, e ela me contou sobre seus três anos com a família Drummond, soltando gargalhadas quando brincou sobre o medo de Ethan vender a mansão.
— Não se preocupe. Acho que ele vai precisar de mais do que uma proposta irresistível para vender essa casa. — Brinquei, enquanto saboreava a comida simples, mas deliciosa.
Quando a conversa enveredou sobre minha filha, Sandy se mostrou interessada e pediu para ver uma foto. Mostrei uma de Valentina, e ela elogiou a pequena, destacando a semelhança com o pai.
— Infelizmente, ela é a cópia fiel do pai. — Respondi, com um sorriso forçado, enquanto as memórias do Othon me invadiam.
Expliquei a ela, de forma resumida, como ele me havia deixado antes mesmo de conhecer Valentina. E assim, a leveza da conversa se misturou com a melancolia de recordar tudo o que eu havia perdido. Mas, ao final, voltei a sorrir, lembrando que, apesar de tudo, eu tinha a Valentina, meu verdadeiro tesouro.
Voltamos à mansão ainda trocando risadas sobre a falta de caráter do Othon, e, por um momento, senti que talvez a vida pudesse ser mais divertida e leve, mesmo entre tantas responsabilidades.
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Você É Tudo Que Eu Tenho! - Concluído.
RomanceEmanuelle Miller, uma jovem resiliente, enfrenta os desafios implacáveis da vida enquanto luta incansavelmente para sustentar sua pequena filha de cinco anos. Em meio à turbulência de uma realidade cada vez mais opressiva, sua esperança vacila, até...