Capítulo 33

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Meu celular vibrou incessantemente sob o travesseiro, puxando-me de um sono inquieto. Olhei para o lado e vi Ethan ainda profundamente adormecido, o rosto sereno em contraste com o turbilhão que se formava dentro de mim. Pensei em ignorar a chamada, mas o toque insistente não dava trégua. Suspirei, peguei o telefone sem verificar o número e atendi, ainda com a voz rouca pelo sono interrompido.

— Alô? — minha voz soou fraca do outro lado.

Uma pausa breve, fria. Então, uma voz inconfundível que fez meu estômago se revirar.

— Espero que tenha minha resposta. — Reconheci de imediato o tom calculado. Olhei para o visor e, como suspeitava, era uma chamada anônima.

— Quem está falando? — perguntei, sem esconder a impaciência.

— Petrick. Te vejo na cafeteria em cinco minutos. Não se atrase. — E, sem dar espaço para resposta, a linha foi cortada abruptamente.

Tentei ligar de volta, mas, como esperado, ele não atendeu. Soltei um suspiro pesado, tentando controlar a enxurrada de pensamentos que já me invadia.

— Quem era? — Ethan murmurou, ainda sonolento, sem abrir os olhos.

— Ninguém. — Respondi suavemente, desejando que isso fosse verdade.

Ele voltou a dormir, enquanto eu fiquei ali, deitada, encarando o teto, refletindo. Não tinha certeza se deveria ir, mas sabia que Petrick precisava ouvir um "não" definitivo. Levantei-me, sentindo a decisão pesar sobre mim. Fiz minhas higienes matinais, tentando não pensar no que viria a seguir, mas a ansiedade já se enraizava no meu peito.

Ao chegar à cafeteria, ele já estava lá, como uma sombra à espera de seu momento. O sorriso malicioso de sempre brincava em seus lábios, e eu me preparei para o confronto.

— Achei que não viria. — Seu tom carregava uma falsa surpresa.

— Então, achou errado. — Retruquei, sem esconder o desprezo na minha voz. — E por que não atendeu minhas ligações?

— Não acho apropriado discutir certas questões por telefone. Sente-se. — Ele apontou para a cadeira à minha frente.

— Não precisa. Só vim dizer que eu e o Ethan estamos indo embora. — Falei de maneira firme, deixando claro o fim daquele jogo.

— Quer dizer... — Ele começou, mas eu o interrompi.

— Exatamente. — Concordei, a voz firme, mas baixa. — Não vou fazer o que me pediu. — Sussurrei. — Adeus, Petrick.

Levantei-me, pronta para ir embora, mas senti sua mão apertar firmemente meu braço, forçando-me a parar.

— Pense bem no que está fazendo, Emanuely. — Sua voz estava carregada de ameaça.

— Já pensei. — Tentei me soltar, mas seu aperto era firme. — E minha resposta é não.

— Solta ela. — A voz de Ethan soou como uma flecha, surgindo do nada. Ele se aproximou com passos firmes, o rosto carregado de fúria.

Petrick soltou meu braço com relutância, tomando um gole de café antes de colocar a xícara no balcão com indiferença.

— Eu bem que avisei. — Ele sorriu de canto, provocando.

Ethan não hesitou. Partiu para cima dele, sua raiva explodindo em socos rápidos e potentes. Petrick tentou reagir, mas não conseguiu acompanhar a força e a intensidade de Ethan, que parecia não ter a intenção de parar. O dono da cafeteria, alarmado, veio até nós, furioso.

— Se quiserem continuar brigando, façam isso lá fora. — Ele disse, sua voz cortante. — Aqui é uma cafeteria, respeitem o espaço.

Tentei segurar Ethan, implorei para que parasse, mas ele estava cego pela raiva. Algumas pessoas que estavam tomando café vieram ajudar a separar a briga, mas a tensão no ar continuava palpável.

— Vou dizer pela última vez, se não pararem, vou chamar a polícia. — O dono avisou, ainda mais irritado.

Petrick, agora mais machucado que Ethan, ainda tentou avançar, mas foi impedido por alguns homens.

— Isso não vai ficar assim. — Ele ameaçou, a voz carregada de veneno.

— Digo o mesmo. — Ethan respondeu, com a fúria ainda acesa nos olhos.

Finalmente, fomos empurrados para fora da cafeteria, enquanto o caos que tínhamos deixado para trás começava a se dissipar. Tentei segurar Ethan, levá-lo embora antes que algo pior acontecesse.

— Vamos embora. — Murmurei, puxando-o pelo braço.

Ethan olhou para mim por um instante, o rosto machucado, o olhar intenso, mas a batalha interna entre nós já havia começado. Entramos no carro em silêncio, e, enquanto nos afastávamos daquele lugar, senti que, de alguma forma, as coisas entre nós nunca seriam as mesmas.

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Durante o voo de volta, Ethan permaneceu em silêncio, o que apenas reforçou a distância entre nós. Eu sabia que ele estava furioso, e não o culpava por isso. No fundo, sentia que a culpa de tudo recaía sobre mim.

Ao desembarcarmos, Charles estava à nossa espera, sempre cortês e educado.

— Senhor Ethan, senhorita Miller, que bom revê-los. — Ele sorriu. — Como foi a viagem? Seu primo está bem?

— Agora está. — Ethan respondeu com um sorriso forçado, entrando no carro sem mais palavras.

— Charles! — Exclamei, envolvendo-o em um abraço. — Que saudade!

— Também senti falta, senhorita. Foram muitos dias. — Ele respondeu, retribuindo o abraço caloroso.

Entrei no carro, observando Ethan de soslaio, sua expressão ainda fechada, como se tivesse perdido uma batalha interna. Quando chegamos à mansão, senti uma onda de nostalgia, saudade do lar e das pessoas que deixamos para trás.

Adélia nos recebeu com um sorriso acolhedor, enquanto Sandy, Mayla, e Márcio nos observavam à distância.

— Oi, mãe. — Ethan a abraçou, tentando disfarçar o cansaço evidente.

— Meu filho, que bom vê-lo de volta. — Adélia respondeu com alegria, mas logo voltou-se para mim.

— Manu, como vai? — Ela me abraçou com carinho.

A sensação de estar de volta àquele ambiente familiar me encheu de alívio, mas a tensão entre Ethan e eu pairava no ar, mesmo quando entrei no carro para que Charles me levasse de volta para minha casa. Sabia que, por trás dos sorrisos e dos abraços, havia muitas conversas inacabadas, especialmente com Scott.

Ao abrir a porta da minha casa, fui surpreendida por um coro de vozes familiares.

— SURPRESA! — Gritaram todos, enquanto Valentina corria para os meus braços, o rosto iluminado por um sorriso radiante.

— Mamãe! — Ela exclamou, enquanto eu a apertava com força, beijando seu rosto repetidamente.

— Minha filha, que saudade! — Sussurrei, sentindo os olhos marejados de emoção.

Scott e Chloe me observavam com sorrisos genuínos, e, naquele momento, percebi o quão profundamente eu sentira a falta de estar cercada por eles. Mas, apesar do calor e da felicidade ao meu redor, havia uma sombra que pairava, uma sombra chamada Scott.

Você É Tudo Que Eu Tenho! - Concluído.Onde histórias criam vida. Descubra agora