Capítulo 7

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Ethan

Ao abrir os olhos, uma luminosidade excessiva inundou o ambiente, forçando-me a enfrentar uma realidade que relutava em aceitar. A governanta Mayla já se encontrava em meu quarto, mas seu murmúrio formal soou como uma interrupção desnecessária no silêncio que preferia.

— Bom dia, senhor — sua voz era monótona, como se cada palavra tivesse sido ensaiada.

— Bom dia, Mayla. — A resposta me escapou sem emoção.

— Seu banho está preparado, e suas roupas estão na cadeira. — O gesto dela indicou a área em questão. — Deseja algo mais?

— Não, pode se retirar.

— Com sua licença.

Assim que ela saiu, o vazio se instalou novamente. Levantei-me da cama, arrastando os pés, e dirigi-me ao banheiro. O banho, prolongado e sem sentido, se estendeu por uma hora, não que a água quente pudesse aliviar a tempestade que se agigantava em meu peito. Vesti as roupas que Maysa havia deixado para mim, cada costura parecendo um lembrete da vida que deveria estar vivendo.

— Bom dia, meu filho.

— Bom dia, mãe.

— Como passou a noite? Dormiu bem?

— Sim, dormi. — A resposta, como sempre, foi vaga.

— Venha, seu pai e eu estávamos esperando para tomar café. — Ela colocou a mão em meu ombro, um gesto que não conseguia traduzir em conforto.

Juntos, caminhamos até a sala, onde meu pai me saudou.

— Olá, meu filho.

— Oi. — Sentei-me, o café à minha frente se tornando um mero detalhe em um mundo de pensamentos sombrios.

— Lisa, pode colocar o café na mesa.

— Agora mesmo, senhora.

— Como estão indo os negócios, meu filho? — Meu pai quebrou o silêncio tenso.

— Não poderia estar melhor. — O sorriso que esbocei era uma máscara, um reflexo frio da verdade que me consumia.

— Que ótimo ouvir isso.

Terminei meu café em silêncio, deixando a mesa sem que eles percebessem. Saí para vagar pela casa, perdido em memórias que se transformavam em pesadelos. A perda de Safira ainda pairava sobre mim como uma nuvem escura, e a cada lembrança, o peso da dor se tornava insuportável. Aquela noite fatídica no cinema, onde a vida nos foi arrancada de forma brutal, era uma ferida que nunca cicatrizaria. Se não fossem aqueles assaltantes, ela ainda estaria aqui, e nossa história não teria sido interrompida.

Flashback On

— O que achou do filme, meu amor?

— Um filme maravilhoso, mas não gostei do final. — O biquinho que ela fez, uma tentativa de desviar a conversa, ainda ecoava em minha mente.

— Por que ele morreu?

— Sim, muito triste. Chorei à beça.

— Jura? Não percebi. — Perguntei, desviando o olhar, incapaz de encarar a alegria que ela transbordava.

A gargalhada dela ressoou como música, um som que aquecia meu coração, mas que agora me parecia tão distante. Lembro-me do nosso primeiro encontro como se tivesse ocorrido ontem. Eu estava nervoso, a insegurança evidente em cada movimento. Quando a vi descendo as escadas, uma onda de ansiedade misturada à felicidade me invadiu. Ela estava deslumbrante, com um vestido que contornava seu corpo de maneira que eu mal podia desviar o olhar.

Você É Tudo Que Eu Tenho! - Concluído.Onde histórias criam vida. Descubra agora