Capítulo 12

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Pov Ethan

— Entre. — Ordenei, mantendo o olhar fixo no monitor do computador, absorto em meus pensamentos.

— Com licença, senhor. — Clara adentrou o escritório, segurando os arquivos e o meu chá de camomila, como se fosse a salvação de um dia árido. — Aqui estão os documentos que me pediu e o seu chá.

— Deixe sobre a mesa, por favor. Obrigado. — Ela se aproximou silenciosamente, depositando os itens com a precisão de um cirurgião. Percebi sua hesitação e, sem desviar o olhar da tela, indaguei: — Há mais alguma coisa que eu precise saber?

— Não, senhor. Por enquanto, não.

— Então já pode se retirar. — Respondi secamente, como um maestro que encerra a sinfonia.

— Com sua licença. — Ouvi o som dos saltos dela se afastando, até que a porta se fechou, deixando o silêncio se instalar no ambiente.

Suspirei e retornei ao trabalho, mas o toque insistente do telefone cortou meu foco. Peguei o aparelho.

— Senhor Drummond, seu amigo Make deseja falar com o senhor. Devo mandá-lo subir?

— Sim, faça isso.

Desliguei e me ajeitei na cadeira, aguardando a visita. Alguns minutos depois, uma batida discreta anunciou sua chegada.

— E aí, meu amigo! — Make entrou, tão radiante quanto uma estrela do rock, e se lançou à cadeira em frente a mim. — Espero que você tenha algo melhor que trabalho pra me oferecer hoje!

— Como sempre, você chega com sua energia contagiante — respondi, um sorriso involuntário surgindo nos lábios.

— Fico feliz que minha presença ilumine seu dia sombrio! — ele disse, fazendo uma pose exagerada de estrela. — Mas vamos lá, como estão as coisas por aqui? Ainda se afundando em papéis e nostalgia?

— Sob controle — respondi, tentando manter a seriedade.

— Sob controle, como sempre. Sabia que você devia ser piloto de avião? — Ele deu uma risadinha. — Esse é o seu lema, não é? “Sobrevoando a turbulência, mas nunca aterrissando.”

— Muito engraçado. — Respondi, revirando os olhos. — E como está o seu lado da vida?

— Tudo indo perfeitamente bem! A não ser que você queira saber sobre meu último encontro com a Claire… — Ele fez uma pausa dramática. — Eu não sei se sou mais eu ou a pizza que ela pediu que estava mais derretida.

— Não posso perder essa história, por favor, continue. — Não pude evitar um sorriso.

— Então, a gente estava lá, conversando, e de repente, a pizza começou a escorregar da mesa! E eu, o galante, fui o único a tentar salvá-la. Resultado? Pizza na camisa, e eu parecendo um quadro moderno.

— Você realmente deveria considerar uma carreira na comédia, Make. — Comentei, rindo.

— Ah, sim, meu verdadeiro chamado! Mas, falando sério, vim aqui para te falar sobre você. — Ele baixou o tom de voz, mas ainda mantinha aquele brilho travesso nos olhos. — Não quero te ver afundando nessa tristeza.

— Eu não vejo outra forma, Make. Não consigo tirar Safira da minha cabeça.

— A vida é como um buffet, meu amigo! Às vezes, você tem que deixar o prato de brócolis pra trás e se servir da sobremesa. — Ele olhou para mim com seriedade, sua expressão mudando. — Você precisa se permitir viver novamente.

— Tem certeza de que não deveria ser um conselheiro? — Brinquei, mas suas palavras ressoavam em mim.

— Olha, eu não sou o guru da felicidade, mas sei que ficar preso no passado é como tentar usar uma calça apertada: não é confortável e definitivamente não é divertido. — Ele riu, mas eu podia ver a preocupação em seus olhos. — Você tem que seguir em frente, irmão. Novas oportunidades estão à sua espera, como uma festa que você não sabia que estava convidado.

— Você está parecendo a minha mãe — resmunguei, tentando afastar o desconforto.

— Posso ser sua mãe se isso ajudar! — ele disse, rindo. — Mas a verdade é que nem sempre as coisas saem como queremos. Às vezes, precisamos ser proativos e tirar o pó das coisas.

Fiquei em silêncio, contemplando suas palavras. Ele estava certo, e a ideia de seguir em frente parecia tão sedutora quanto um convite para uma festa que eu não sabia se conseguiria aproveitar.

— Por que não vai para casa descansar? — sugeriu Make, voltando ao tom leve. — Eu cuido de tudo aqui. Prometo não deixar nada pegar fogo.

— Você faria isso?

— Claro! Vou ficar aqui me divertindo e fazendo um ótimo trabalho. Quer que eu coloque um pouco de música alta e convide a galera? — Ele piscou, enquanto eu tentava não rir.

Concordei com um aceno, sabendo que, embora ele fosse brincalhão, havia um fundo de sinceridade em suas palavras. Antes de ir para casa, parei no supermercado, precisando de algo que silenciasse minha mente. Comprei algumas cervejas e coquetéis. Ao retornar à mansão, a vi.

A empregada estava parada em frente a uma das estantes, seus olhos fixos em uma das fotos, tão absorta que parecia uma estudante admirando a obra-prima de um artista.

— O que está fazendo? — Perguntei, quebrando o encanto.

Ela se sobressaltou, e, naquele instante, a escada em que estava começou a balançar perigosamente. Num reflexo rápido, corri até ela, erguendo os braços para evitar sua queda. Ela despencou nos meus braços, os olhos arregalados de surpresa se fixando nos meus. Pude sentir sua respiração rápida, como se tivesse acabado de correr uma maratona.

— Você... me assustou — murmurou, tentando recuperar o fôlego.

— Se não estivesse tão distraída, nada disso teria acontecido. — Sorri de forma sarcástica, colocando-a de volta no chão.

A foto que ela observava era uma das mais preciosas para mim. Safira e eu, uma semana antes de sua morte, durante nossa viagem a Flora. Um dos últimos momentos de felicidade genuína que tive, agora envolto em um mar de tristeza.

— Me desculpe, eu só... — Ela começou a se justificar, mas a interrompi.

— Não precisa se explicar. Apenas volte ao trabalho.

Recoloquei a foto em seu lugar, lutando contra as memórias que começavam a emergir, e saí da sala, buscando a paz que parecia sempre tão distante.

Você É Tudo Que Eu Tenho! - Concluído.Onde histórias criam vida. Descubra agora