- Preciso ir Vitória, disse Davi a mil caretas enquanto tentava se levantar, minha família deve estar muito preocupada, eu só não entendo até agora o que aquele maldito homem estava fazendo naquela fábrica, será que foi ele quem deixou o bilhete pra me atrair?
- Será que foi ele mesmo quem matou meu tio, porque essa coisa com a minha família.
Vitória passou por ele e sentou na cama tomando um copo de leite.
- Talvez não seja só família Davi, eu acabei de perder meu irmão, era meio alienado mas não fazia mal a ninguém, e meu pai está internado.
Ele se sentiu culpado pelo comentário e pediu desculpas.
O fato é que a própria Boungaville não era mais a mesma, a cidade ainda mergulhava na expectativa das eleições e as pessoas já se comportavam diferente, as coisas já haviam mudado ao que parece, e algo o dizia que a morte do delegado não teria solucionado os crimes, não enquanto não soubesse os motivos que levaram a todas aquelas mortes, eram três, fora o desaparecimento de Marque e seu filho, quatro com o delegado na verdade, e essa tinha sido por suas próprias mãos.
Ele próprio não era o mesmo.
- Eu também preciso ir conversar com meu acessor, levantou ela tentando demonstrar entusiasmo, o cavalo do seu tio está no fundo mas eu te levo de carro.
- Vitória se você me trouxe de carro, como o cavalo veio parar aqui?
Ela fingiu não entender a pergunta e apenas disse que não sabia. Ele continuou confuso mas só pensava em beijá-la pela última vez antes de enfrentar a cidade denovo.
●●●●●●●●
-Dona Linda, começou o policial, isso não é um interrogatório, a senhorita não é obrigada a responder e nem está sendo tratada como suspeita.
Falando com cuidado pra não assustar a menina, um acordo com Marta.- Mas acho que a senhorita pode e muito nos ajudar, estamos falando de homicídios e pessoas desaparecidas.
Nesse momento Linda e Marta percebiam a sinceridade de Emir, o quanto estava intrigado e engajado em resolver o caso.-Em uma cidade pequena como essa é impossível que o delegado não saiba de três casos consecutivos com um espaço tão curto de tempo, e agora então com sua própria morte, precisamos entender o que esta acontecendo para poupar mais vidas e evitar que as pessoas se machuquem.
Linda o encarava revezando os olhares com Marta, a conhecia a pouco tempo, mas tinha se tornado sua amiga, sua companheira, e de uma forma ou de outra sua presença a transmitia uma segurança enorme, e sentia que a resolução do caso poderia ajudar a amiga com a fábrica de alguma forma.
Enquanto pensava antes de falar, alguém bateu na porta já entrando na sala.
Uma senhora já conhecida dos refeitórios equilibrava uma bandeja com chá para todos, Linda conhecia Marta o suficiente pra saber que a patroa sempre usava xícaras de alguma coisa para iniciar as conversas que considerava importante, mas não foi apenas isso.
A satisfação daquela senhora em serví-los em meio ao recente caos despertou nela um desejo de colaborar também.
No instante em que ela saiu da sala com sua bandeija, Linda começou a contar o que sabia sobre o delegado, mas para isso teria também que contar sua própria história, ela tomou um gole do que parecia ser de erva cidreira.
-Eu sou a mais velha de uma família de quatro irmãs, começou, meu pai tinha um pequeno rancho onde plantava milho e tínhamos animais que eram a nossa renda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Revolução ou Crise
General FictionUma pequena cidade tradicional dos anos 90 em revolução. Desaparecimentos misteriosos em sequência. Uma grande conspiração. Marta enfrentará uma batalha política num jogo de assassinos calculistas, mas também não estará sozinha. A cidade é de m...