A Confecção

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No dia seguinte a morte do filho do prefeito, Marta estava tão atolada de compromissos e afazeres que não conseguia ao menos se concentrar na direção enquanto guardava o carro no estacionamento da fábrica.

Desceu do carro observando vários funcionários ociosos, enquanto entrava cumprimentando a todos percebeu o ruído sonoro aparentemente agradável.

O que sugeria máquinas desligadas.

Passou observando o galpão da produção, viu vários outros funcionários parados, pensou em perguntar o que estavam fazendo quando decidiu ir ao escritório e perguntar direto ao chefe de produção.

- Dona Marta, falava Eunice enquanto entrava correndo no escritório da fábrica de Costura.

- Teremos que parar a confecção, não temos material

Marta se levantou imediatamente largando os papéis que a contabilidade enviara.

-Não temos material? Eu pedi ao senhor Marconi que solicitasse um grande pedido, se não me engano chegaria hoje, por favor chame o com urgência!

Enquanto longos 15 minutos se passavam ela pensou nas possibilidades.

Nunca tinham encomendado sequer um caminhão inteiro, o que justificaria algum atraso, por isso fizeram a encomenda com tanta antecedência, procurou a ata da reunião para conferir a data.

                       °°°°°°

As pessoas o esperavam a porta, com aquele silêncio sério de quem pede urgência, mas precisava levar seu crachá, um reserva com aquele acesso seria seu último grande trunfo.

Uma genelidade sagaz que dividia apenas consigo mesmo, afinal conquistou todos os seus objetivos longe dos holofotes.

Mas aquela mulher relutava em apagar seu brilho, e mesmo hoje quando seria seu grande dia.

  Afinal não teria mais espaço para desfarses. Mesmo assim ela o derrubou logo no amanhecer.

Nada mais humilhante para um homem acordar vendo sua mulher se levantar para o trabalho, sabendo que ela não irá voltar, que seu lar estaria abandonado. Nada sujaria mais seu nome do que ser desquitado.

Principalmente por iniciativa da mulher.

Não sentia carinho por ela, mas a amava. Afinal ela era sua.

Ninguém ficaria feliz em ver alguma coisa que lhe pertence saindo porta a fora.

Mas até isso aquela mulher lhe roubou.

Enquanto passava pela porta e subia as escadas as pessoas abriam caminho, como se seguisse por um corredor da morte.

Mesmo ele, um homem alto, no auge dos seus quarenta e cinco anos, era visto de forma hostil por ignorantes assalariados.

Mas eles o veriam de forma diferente em breve, suas próprias reações eram além de previstas, como parte do plano.

Era um homem a frente do tempo delas, por isso guardava sua genealidade para si.

Enquanto se abria a última porta e a frente se revelava ela.

Marta

Quando ele entrou a porta eles se encaram, uma das pessoas fechou a porta sem ninguém solicitar.

Todos anciosos pela resolução do problema.

Mas Marconi mascava chicletes numa expressão de tranquilidade que aos poucos Marta começou a ficor atônita.

- Bom dia Marta.

- Bom dia, o senhor está ciente  não temos material? Quero dizer parados.

-O fornecedor não tinha a pronta entrega. Disse ele tranquilo.

Revolução ou CriseOnde histórias criam vida. Descubra agora