Enquanto acompanhava toda movimentação, o assassino descansava no carro.
Ao som de Journey calculava qual seria o próximo passo, aquele rock dos anos 70 o fazia sentir o quanto aquele lugar era atrasado.
Parecia adequado mas ajustou para uma música clássica de Belchior, enquanto observa as peças sobre o tabuleiro chamado praça.
Davi estava nos planos, mas a morte do seu tio não deu a repercussão esperada, muito em função das eleições, as pessoas que viviam naquela cidade parada no tempo estavam alvoroçadas.
Marta, a revolucionária candidata que ja tinha mudado a cidade a frente da fábrica, fazia propostas concretas para a melhoria na saúde, lazer e com um sonho de trazer a primeira faculdade para região.
Mas... Na verdade as pessoas só queriam saber se uma mulher seria capaz de desbancar o prefeito Nadir.
Mais difícil que modificar o sistema seria modificar as pessoas que são inconscientemente filiadas a ele.
As consequências do atraso da cidade começavam nas estradas sucateadas e refletia na mentalidade pequena dos habitantes.
E era justamente essa mentalidade que estava agora em revolução.
Mas contradizia com as cenas que o assassino acompanhava ali.
Aquele movimento de campanhas eleitorais e autoridades folclóricas como aquele padre e um jovem sem destino.
Um quadro confuso e ideal.
Um sorriso escapou de seu rosto, mas percebeu que iria precisar de mais impacto.
Olhando as opções teve a certeza de que nada mais adequado que eliminar alguém da família do prefeito.
Seria uma bomba.
Escolheu qual seria a peça.
Era a hora de entrar em ação.
••••••••
Já ao fim da tarde Vitória finalmente conseguiu se esvair da cansativa presença de seu pai.
O machismo, Narcisismo e tudo aquilo que lhe revira o estômago estavam presentes naquele homem.
Era como se fosse um sultão ou alguém provido de sobrenomes nobres, tecendo sua opinião ignorante como se fosse um decreto real.
Mas o fato de sua filha o conhecer o trazia a realidade, como se não pudesse esconder de si quem realmente era.
Como um ponto fraco, o lembrando que era apenas um covarde explorador de ignorantes.
Em meio a todo circo em função das eleições Vitoria estava impaciente enquanto se despedia do pai.
- Preciso olhar uns animais que estavam meio sedados quando vim ao centro, disse ela desfivelando o cinto de segurança.
- Você quer o carro denovo né? Cuidado para não atropelar ninguém, seria um escândalo a essa altura da eleição.
A reação do prefeito a confirmavam que seus pensamentos eram coerentes.
- O senhor acha que uma mulher não é capaz de dirigir tão bem quanto um homem né pai, e quer ser prefeito novamente se preocupando mais com a eleição do que com uma possível vítima, o senhor não muda, como
mudar a cidade?Ele assimilou o golpe e abriu um pequeno sorriso de admiração enquanto lhe entregava as chaves.
- Você será ótima em debates.
Ela apanhou o molho de chaves as pressa, e seu pai aproveitou a situação e segurou sua mão.
-Vitória.
Ela levantou o olhar que se focavam nas mãos e viu que o pequeno sorriso ainda estava ali no rosto dele.
Mas não era apenas isso, o olhar de admiração também estava lá.
- Você sabe que detesto política pai?
Ele soltou suas mãos, enquanto ela caminhava devagar em direção ao carro.
Mesmo com toda pressa, sentiu um raro ar de cumplicidade naquele momento, o prefeito permaneceu ali parado, quando deixou o olhar do homem se virando para o carro, escutou sua voz também de costas, virado para a porta da casa.
- Eu também odeio filha, e quando chegar o momento lembre-se do seu velho pai.
Ela não fez idéia do que ele quis dizer com isso, e saiu com o carro, teria que ir a clínica, depois voltaria a cidade novamente.
°°°°°°°
O assassino dirigia com uma destresa incrível, Belchior cantava Apenas um rapaz latino americano, enquanto sorria de empolgação pensando na irônia do destino.
Seguia o carro da frente a distância sem ser notado e não precisava de muita descrição para reconhecer o veículo, a placa vermelha indicava ser veículo oficial de Bouganvile, apesar de não se tratar do prefeito era um dos seus filhos,.
-Essa é minha chance não posso fraquejar.
Ele estacionou próximo a venda do sr Jair, enquanto via sua presa descer do carro e cumprimentar as pessoas sem muito intusiasmo, acendeu um cigarro e esperou até que ela saisse, o que não demorou muito.
O carro oficial já estava novamente na estrada, dessa vez o assassino foi mais ousado, ultrapassou a toda levantando poeira, apenas mexendo com o ego da vítima, que pela resposta ao volante era enorme.
A pessoa sem saber o que lhe aguardava acelerava e piscava o farol como um galã piscando para uma donzela do outro lado do salão.
Mas não era o caso, a donzela ali era um assassino.
Passou a milhão ultrapassando o carro novamente, sorrindo ao ver o farol alto do matador batendo na placa vermelha da prefeitura o fazendo lembrar que era filho de uma autoridade ali, conhecia bem seu perseguidor, conhecia todo mundo da cidade também.
Uma curva antes do ribeirinho de Bouganvile a vítima parou para comprimentá-lo, desceu e ficou a frente do veículo.
- Você quer me pegar desça dai e vamos resolver isso, disse o rapaz tirando um cigarro do bolso e protejendo o vento com as mãos para não apagar as brasas.
-O você quer me dizer, que esta atrás de mim desse jeito?
O assassino desceu lentamente, olhou nos olhos do homem, para o seu pulso com relógíos e pulseiras caras, com um olhar de fúria.
- Sabe quanto vale esse relógio e essas pulseiras.
- Ora min...
- Não me venha com essas!!!Interrompeu o assassino, eu vim até aqui para mudar esse lugar, não para ouvir suas desculpas.
A vítima por mais que estivesse espantanda pela atitude do assassino simplesmente começou a rir e colocou as mãos no peito para aguentar as gargalhadas.
O matador deu um passo rápido a frente e aproveitou seus braços levantados para apunhala-lo.
O corte foi feio mas não mortal, ele segurou as mão do assassino, que deu um passo para trás e fez nova investida dessa vez também sendo golpeada no rosto, pelo corpo que caia.
Enquanto o sangue de um herdeiro do prefeito formava uma poça debaixo deles, o assassino tampava a boca da vítima que perdia a voz de fraqueza pelo sangue perdido.
- Eu vou revolucionar esta cidade.
Os olhos que o encaravam não duvidavam disso, apenas não entendia por que teria que morrer assim, engasgava com o sangue enquanto seu algoz voltava caminhando lentamente pro carro.
-Desculpe, apenas um rapaz latino americano, disse abaixando o som de Belchior.
Você é apenas isso perto da revolução que será Bouganville.
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Revolução ou Crise
Fiction généraleUma pequena cidade tradicional dos anos 90 em revolução. Desaparecimentos misteriosos em sequência. Uma grande conspiração. Marta enfrentará uma batalha política num jogo de assassinos calculistas, mas também não estará sozinha. A cidade é de m...