Quando falam que Bouganville não estava mais a mesma, vocês não tem idéia.
A rua estava lotada, camisas com o nome do prefeito se separavam com as que levavam o nome de Marta.
A candidata da oposição.
Mas era mais que isso, os apoiadores dela na verdade eram praticamente apoiadoras.
Enquanto sintonizava a rádio do velho Jeep a lembrança do tio veio mais forte, o som chiava um pouco mas ele reconhecia a música, uma das favoritas do homem que foi assassinado covardemente.
O som de Mary Jane's Last Dance de Tom Petty flutuava nas memórias e na promessa que tinha feito.
Mas não conseguia deixar de perceber que os dois lados tinham sentimentos bem distintos.
Enquanto apoiadoras de Marta cantavam e entoavam gritos de independência e liberdade, os apoiadores do prefeito estavam abatidos e inquietos, alguns clamavam por respeito e por luto, era uma confusão de comportamentos tão grande que nem precisaria das camisetas.
Cada um já dizia quem apoiava pela própria maneira de agir.
Filhos da mesma cidade misturados feito água e óleo.
Mas ele não tinha tempo para eleições, tinha uma pista sobre o assassino e precisava chegar antes que a delegacia fechasse.
Ao estacionar o velho Jeep, olhou para a arma só para garantir que estava bem protegida e caminhou até o temido local de trabalho do delegado.
Para sua surpresa estava aberta, e melhor ainda, vazia.Mais uma vez aquela moça linda com sotaque caipira estava lá, agora com o cabelo estava preso num coque ajeitado por um palito, a sombra negra nos olhos davam a ela um jeito intelectual, moderno e sedutor ao mesmo tempo, teve que dar um suspiro antes de começar a falar pra não perder o foco.
- Boa noite senhoria, eu preciso falar com o delegado, começou olhando pra baixo, a timidez o pegou forte de tão impressionado que ficou.
- Bom senhor Abraão, desculpe Davi, disse ela contendo uma pequena risada com a mão, é que a convivência com o delegado acaba nos dando algumas manias.
Pensou em perguntar seu nome, na verdade a mesma vergonha que sentia por ter medo do assassino quando encontrou dona Carmem, sentia agora por ter ficado impressionado com aquela mulher quando tinha uma pista sobre a morte do seu tio.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa o delegado entrou na delegacia com a mesma delicadeza que um cavalo chega num curral, aparentemente não esperava encontra-lo por lá.
- O senhor por aqui sr Abraão, disse ele colocando o blazer surrado sobre a cadeira da recepção.
- Boa noite senhor delegado, acho que encontrei uma pista e vim comunicá-la ao senhor, disse estendendo a mão que foi ignorada pelo homem.
- Então quer dizer que temos um comerciante, mecânico e agora um detetive, o senhor tem aptidão pra muitas coisas pelo que vejo, então o que seria uma foto, alguma roupa?
- Uma testemunha, se é que dona Carmem poderia ser chamada de testemunha.
- Ah uma testemunha, o senhor conseguiu uma testemunha, então solucionou o crime, a testemunha viu o assassino, diga-nos quem é?
- Bom, ela insinuou que fosse uma mulher, mas acho que ela sabe mais coisas, se o senhor a interrogasse.
O delegado estava abrindo a porta quando baixou a cabeça como se estivesse pensando melhor, Senhor Abraão, por acaso o senhor já viu quantas mulheres existem na cidade?
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Revolução ou Crise
Ficción GeneralUma pequena cidade tradicional dos anos 90 em revolução. Desaparecimentos misteriosos em sequência. Uma grande conspiração. Marta enfrentará uma batalha política num jogo de assassinos calculistas, mas também não estará sozinha. A cidade é de m...