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Entrei em casa com um certo receio. Realmente não é muito confortável a ideia de levar uma bronca da sua mãe em plena quarta-feira.

E como esperado, a minha progenitora estava parada ao lado da mesa de jantar com um olhar raivoso. Respirei fundo e me aproximei.

– Precisamos conversar sobre o seu comportamento mocinha – falou cruzando os braços.

– Ah, claro. Mas eu acho que preciso de um banho, então que tal prolongar essa conversa para daqui a mais ou menos... meia hora? – disse tentando fugir da possível discussão que iria acontecer.

Me virei para descer ao meu quarto, mas antes que eu o fizesse senti o meu braço sendo puxado para trás.

– Essa conversa tem que acontecer agora. Eu estava no meio de uma reunião quando recebi uma ligação dizendo que você havia se metido em uma briga! Tive que pegar um trem para Oslo rapidamente para ter uma conversa com o diretor.

O olhar que era direcionado a mim continha um misto de raiva e decepção. Mas aquilo me deixou irritada.

– Você não sabe o quão humilhante é ter que conversar com o diretor sobre a sua filha ter se envolvido em uma briga na escola! E ainda por cima com a Ingrid! Pode me explicar por qual motivo fez isso? – perguntou exaltada.

– Ela me atacou e eu apenas revidei – falei dando de ombros.

– Como assim?! Brigas, desentendimento com as amigas, notas baixas! Eu não estou te reconhecendo mais – disse franzindo a testa – Quero explicações do porque dessas suas ações!

– Eu não te devo satisfações da minha vida – falei com toda a coragem que me veio no momento.

Ela arregalou os olhos e a raiva era evidente em seu rosto.

– Eu não te devo satisfações da minha vida a partir do momento em que você parou de fazer parte dela! Você passa dois terços da sua semana viajando a trabalho, mal fala comigo e ainda quer saber o que se passa comigo? – soltei uma risada irônica.

– Você sabe que o meu trabalho é a minha vida. Eu faço isso porque te amo Eva, todo esse esforço que eu faço é para te dar a melhor vida possível!

– De que adianta ter tudo e não ter uma mãe presente? – suspirei debochadamente – Agora eu sei porque o papai nos abandonou, ele foi esperto em fugir de uma mulher que ama mais o trabalho do que a própria família.

Se ela estava estressada antes eu não sei que adjetivo usaria para descrevê-la nesse momento. Poderia jurar que vi fumaça saindo dos seus ouvidos.

– Chega disso Eva Mohn! – gritou altamente alterada – Já conversei com o seu diretor e decidimos que você irá participar de um grupo de apoio para jovens problemáticos que a escola está formando. Não quero mais falar sobre isso, amanhã mesmo irá começar e quero você lá sem falta!

Sem me deixar protestar, ela apenas me deixou plantada na sala enquanto subia as escadas furiosa.

Um grupo de apoio? Será que ela acha que eu uso drogas ou coisa do tipo?

Provavelmente o diretor acha que pelo fato de eu ter me envolvido em uma briga na escola eu ando escondida pelos corredores fumando.

Eu realmente não sou o tipo de garota agressiva que se mete em encrencas o tempo todo. Mas quando a sua ex amiga te da um tapa bem no meio do pátio da escola, apanhar calada não é uma das suas primeiras reações.

Ao perceber que eu estava no meu quarto, me joguei na confortável cama e encarei o teto branco e sem graça.

Eu odeio a minha vida.

[...]

Assim que o sinal da saída se pôs a tocar, me sentei em um dos bancos vazios do pátio e fiquei assistindo os felizes alunos saindo da escola.

Garotas loiras e gostosas. Esse era o padrão da minha escola. Todas sorridentes e alegres conversando em seus respectivos grupos, provavelmente planejando as festas do final de semana.

Algumas garotas tinhas caras gostosos e populares em sua volta. Todos usando os seus moletons do Russ Bus.

Após esperar aproximadamente meia hora, acho que os alunos já haviam ido embora.

Me levantei do banco vazio e decidi entrar no colégio, acho que era a sala número 32.

Rodei a procura da sala até que a encontrei. Havia uma placa improvisada escrito "grupo de apoio". Abri a porta e logo avistei várias cadeiras formando uma roda.

Haviam alguns alunos sentados ali, mas apenas o Isak de conhecido. Me sentei em uma cadeira ao lado de uma muçulmana que usava um batom roxo extremamente escuro.

Havia uma garota loira com cabelos que batiam um pouco acima do ombro. Ela usava um batom vermelho e mexia aleatoriamente no braço do seu enorme casaco.

Ao seu lado estava sentado o Isak, que ao me ver sorriu timidamente para mim. Retribui o cumprimento apesar do desconforto. Já não nos falamos mais.

Haviam mais duas garotas, que conversavam entre si. Uma gordinha sorridente que não parava de rir e uma loira que parecia um anjo de tão ingênua que eram as suas expressões.

Ouviu-se um barulho de risadas e logo dois Penetrators entraram na sala conversando entre si. Como eu sabia? Bom, eles usavam moletons com o nome do ônibus costurado na frente.

Ambos eram extremamente bonitos, mas eu conhecia a fama de um Russ. Extremamente gananciosos, capitalistas, cafajestes e festeiros.

O garoto mais alto se sentou ao lado do Isak que se remexeu desconfortável. Ao lado dele se sentou o seu amigo que tinha um sorriso maravilhoso.

Ao lado do Penetrator de sorriso lindo havia se sentando um garoto exatamente charmoso. Ele era alto e tinha o seu cabelo jogado um pouco de lado. Mas o que mais me chamou atenção foi o maço de cigarro que estava pendurado da sua orelha.

Mais um aluno chegou, e ao perceber quem era, eu gelei. Era Jonas.

O único lugar vago era ao meu lado, o que me deixou extremamente desconfortável. Apenas abaixei o meu olhar e evitei contato visual.

Ele usava a sua habitual touca na cabeça, o que o deixava extremamente fofo. Ele era bonito, muito bonito, eu jamais poderia negar.

A atenção de todos os alunos foi capturada ao escutarmos um pigarro vindo de um homem loiro de estatura média que estava em pé ao nosso lado.

– Olá alunos, bem vindos ao grupo de apoio. Eu sou o Carl e irei ajudar vocês aqui – se apresentou sorridente – Podemos começar com as apresentações?

Toxic - Chris e Eva Onde histórias criam vida. Descubra agora