Capítulo 20. Ela

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   Os dias passaram se arrastando, e o enterro do pai do Junior só foi realizado 3 dias depois de sua morte, e no mesmo dia, Junior foi preso junto com um amigo e a irmã mais nova, os três armados até os dentes.

   Os três foram presos enquanto saiam do bairro, segundo os jornais eles iam efetivar uma vingança, a irmã dele foi liberada e somente júnior e o amigo ficaram presos.

   O clima estava tenso, os meninos estavam todos entocados e alguns tinham viajado pro interior, como se o Luto tivesse se espalhado por todo o bairro, mal tinha gente na rua, ninguém sabia de nada ninguém falava nada. Eu e minha irmã mal nos falávamos, era como se o assunto não existisse.

   Descobri por outras pessoas e pelos jornais o envolvimento da família do Alex e do Júnior com o tráfico de drogas interestadual, a quinta maior quadrilha do estado segundo os jornais e Alex era apontado como o segundo no comando da facção. Enquanto a Júnior, essa era além de sua primeira passagem pela polícia seu primeiro crime como membro da facção.

   Eu sentia pena da família, não bastasse perder alguém, ainda tinham que ver diariamente a noticia e a especulação na TV, com tudo isso uma semana depois todos se mudaram e alugaram a casa na qual viveram por mais de 10 anos.

2 semanas depois...

   Estávamos nas provas finais na escola mais da metade da turma estava ciente que iria ficar de recuperação, inclusive eu, mais no meu caso misteriosamente alguns scores foram arrendondados para menos, obra do meu querido professor, que apôs escutar umas poucas e boas, resolveu que eu e minha melhor amiga não merecíamos passar, e não adiantou ir na secretaria nem fazer barraco estávamos de recuperação.

   Cheguei cedo em casa, era por volta das 15:30, tomei um banho e aproveitei para dar um pulinho na casa do Mael já que ele estava de folga hoje.

   A noite como de costume eu já me ajeitava para ir lá pra fora, quando Mael me liga.

  _Oi amor.

  _Oi meu amor.

  _Tá tudo bem?

  _Tá, liguei só pra te avisar que vou sair, vou buscar umas primas no terminal.

  _Prima né, cuidado.

   Eu ri, ele riu conversamos mais algumas besteiras e ele desligou, mais eu sentia que tinha algo errado, eu fui lá pra fora mais não conseguia conversar nem prestar atenção em nada.

   Já era quase meia noite, eu e a minha irmã estávamos morgando na sala, assistindo um seriado quando meu celular começa a tocar, era ele.

   Quando atendo meu corpo gela por dentro, era uma voz de mulher, desligo na hora, e fico olhando pro celular que logo começa a tocar novamente. Eu atendo.

   Era ela, logo começamos a discutir embora o som alto, abafasse a voz dela eu ainda conseguia entender algumas coisas, e meu mundo caia aos poucos ao saber que, a errada da história era eu.

   As lágrimas começaram a cair, enquanto eu e ela discutíamos sobre quem realmente era namorada dele. Eu desliguei, as lágrimas que antes rolavam silenciosas agora davam lugar a soluços altos, minha irmã se meche na rede e me olha, curiosa.

  _O que foi irmã? Tava brigando com quem?

  _Com a mulher do Mael, aliás sabia que na verdade o nome dele é Daniel? 

   Ela me encarou incrédula, e novamente o celular voltou a tocar, e tocar, e tocar, na sétima ligação eu atendi.

  _Oi.

  _E aí? - era ele.

  _Filho da mãe covarde, eu te adeio, manda essa vagabunda... A gente não da mais certo.

  _Porque?

   A ligação caiu, retornaram em seguida, mas já era ela, que já ligou esculachando, do nada a ligação cai.

   Ligaram novamente, e eu já atendi na defensiva mas era ele novamente, ele prometeu da um jeito, que as coisas iam se acertar e que eu não deixasse que ela nos afastasse.

   E eu aceitei, confiei, acreditei nele, aquela noite foi um inferno, assim como as seguintes, ela ligava toda noite pra brigar e chingar, mas isso já não me atingia, na verdade me divertia.

   Faltava uma semana para o natal, o colégio entrou em recesso, só saberíamos o resultado das provas depois do natal, em compensação minha formatura era hoje, calço os chinelos e amarro os cabelos que já passavam do quadril em um coque, pego o dinheiro e vou pro salão, quando ia virando a esquina vejo uma mulher parada na porta da casa do dele, com o cabelo tão grande quanto o meu, desacelero o passo e posso escutar alguém gritando Carol, a tal mulher grita, já vai, e entra em casa.

   Meu sangue ferve, não por raiva dela em si, talvez ela seja até mais iludida do que eu, mais da aparência dela, não por cor da pele ou por corpo, mais o modo de partir o cabelo, o tamanho, até mesmo cor do cabelo era igual, podia ser tolice ou paranoia minha, mas será que como eu ela também tinha deixado crescer por causa dele? Será que ela teria conservado o cabelo daquela cor por causa dele ? Assim como eu?

   Sinceramente me senti um pouco burra por ter caído nesse discurso machista de que, mulher bonita é mulher de cabelo grande, agora não importava mais, eu iria mudar, não só o visual, mas tentar a todo custo mudar o que eu sentia por ele, me manter a sombra de alguém não era saudável, não era eu.

Tudo o que não fomos (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora