Amortentia

1K 102 14
                                    


A primeira vez que Tom Riddle foi submetido à uma detenção fora no seu primeiro ano, depois de entrar na sessão restrita da biblioteca por acidente. Certo, talvez não tivesse sido um completo acidente, ele sabia que aquela era uma parte da biblioteca que só poderia ser acessada com permissão da bibliotecária ou de um professor, mas não foi como se ele tivesse arrombado a porta ou algo parecido. A entrada da sessão estava aberta e Tom achou que seria interessante dar uma olhada... Ele ganhou uma noite ajudando a bibliotecária a catalogar diversos livros que haviam recebido de doações do Ministério da Magia.

Naquela noite, no entanto, a detenção era muito menos interessante (pelo menos com o catálogo dos livros ele podia se distrair vendo os textos) e o fato de tê-la ganhado o fazia se sentir incrivelmente irritado. Avery não fora considerado culpado e, logo, não precisou cumprir castigo algum... Por um lado, isso era bom, pois Tom não estava com vontade de ver o rosto do colega a nenhum custo, mas por outro, queria ver o rapaz sendo punido. Infelizmente, quando a bibliotecária os encontrou, Atlas estava no chão, gritando por socorro e Riddle estava sobre ele, alternando entre socá-lo, sacudi-lo pela gola da capa e xingá-lo com todos os nomes feios que se lembrava de ter ouvido em todos os seus anos vivendo em uma parte pobre de Londres, ou seja, ele utilizou todo o seu vasto vocabulário de ofensas.

O resultado disso foi ser arrastado para longe de Avery, ouvir um enorme sermão de Slughorn e, por fim, passar uma noite limpando castiçais, armaduras e algumas molduras de quadros. Sem magia. De mal humor. Na companhia do quadro de Salazar Slytherin, que não calava a boca e parecia adorar saber sobre o que havia acontecido para ele estar ali.

"Você é Monitor-Chefe, não é? Lembro-me de vê-lo andando para lá e para cá com aquele broche no peito," disse o fundador, recostando-se na sua moldura enquanto Tom tentava limpá-la, contendo-se para não dar um jeito de descolorir o quadro. "Por que então está limpando corredores? É isso que fazem com os monitores?"

"É uma detenção," ele falou com frieza, sem erguer os olhos para o bruxo no retrato.

"Mas um Monitor-Chefe ganhando uma detenção?" Salazar arqueou uma sobrancelha, mas sorrindo de uma forma desdenhosa. "O que você fez, garoto?"

"Entrei em uma briga com um colega," o rapaz respondeu.

"Deuses, que tipo de pessoas que eles colocam como monitores hoje em dia?" perguntou Slytherin, revirando os olhos. "Ainda mais da minha casa."

"Um mestiço, senhor," disse Riddle, finalmente desistindo de tirar a sujeira da moldura do quadro e jogando a escovinha que estava usando no balde de água que tinha consigo. Sentia suas mãos tremerem de irritação. "Talvez seja o meu sangue trouxa que tenha feito eu agir com tamanha falta de decoro, não acha? Talvez o senhor concorde com Atlas sobre o fato de eu ser só mais um sangue-ruim sujo que não tem modos."

O jovem deu as costas para o quadro, ignorando a expressão satisfeita no rosto do bruxo, e chutou o balde por impulso. Mal o chutou e já estava abaixado, agarrando as bordas do balde para que ele não virasse, mas um pouco de água com sabão já havia se espalhado pelo chão.

"Merda," ele murmurou, pegando um dos panos que havia trazido e enxugando a bagunça.

"Hmm." A voz de Salazar ainda ecoava pelo corredor, mas agora parecendo perder o tom de brincadeira. "Lembro-me de um aluno meu que era mestiço e acabou perdendo a cabeça também. Não... Ele era nascido trouxa. Queria eu que ele tivesse apenas participado de uma briga boba, mas o descontrole dele foi pior."

"De que casa ele era?" perguntou Riddle, tentando se concentrar na água no chão.

"Da minha, ora! Acabei de falar que era meu aluno." Slytherin estalou a língua. "Depois daquele maldito livro Hogwarts, Um Conto ou algo assim, vocês sempre acharam que eu só ensinava gente pura. Como diabos isso iria funcionar? Helga teria me expulsado na primeira oportunidade."

Kolybel'nayaOnde histórias criam vida. Descubra agora