Hermione Granger não gostava de voar. Todas as experiências que tivera até então não haviam sido agradáveis e, assim, não estar com os pés no chão lhe causava um certo desconforto. Não estar com os pés no chão e sentir-se caindo era ainda pior.
O vento zunia pelos seus ouvidos e seus olhos não conseguiam se manter abertos. Ela caía e caía, seu estômago parecendo grudar-se em sua coluna, até se sentir bater contra algo e um estrondo mais alto ecoar a sua volta. Mas, ao invés do esperado, a garota continuou caindo e, de repente, não estava mais. De uma hora para a outra, não havia mais o vendaval à sua volta e tudo o que restara era a dor em seu corpo e a sensação de estar com o rosto contra a terra, o cheiro úmido desta embrenhando-se em suas narinas.
Ela abriu os olhos. Havia árvores à sua volta e o chão era poeira e terra e folhas. Não havia raios de sol se esgueirando por entre os galhos e estava frio. A garota tateou o chão, como que para ter certeza de que não estava imaginando coisas, antes de empurrar-se para se sentar. Sua cabeça girou e seu estômago se revirou. A ânsia de vômito veio subitamente, dando tempo apenas da bruxa virar-se para o lado e apoiar-se nas mãos antes de vomitar o pouco que havia comido naquele dia.
As lágrimas vieram depois. Silenciosas e fazendo a sua cabeça doer. Ollivander não estava mais ali e o calor fresco do verão havia sido substituído pelo ar mais frio do início da primavera. Hermione não queria se mexer, não queria se levantar e aparatar, não queria saber onde estava.
Mas ela sabia que precisava fazer isso. Então, forçou-se a ficar de pé, puxou a varinha do bolso e firmou a bolsinha de contas ao seu lado. Tentou se lembrar das coordenadas que havia ouvido sobre o Chalé das Conchas e das fotos que Molly havia lhe mostrado... Só então, girou no lugar e sentiu tudo virar um borrão.
Quando seus pés tocaram terra firme outra vez, um soluço escapou de sua boca, pois a primeira coisa que notou fora o som. Um vai e vem calmo e incessante, algo que seria capaz de acalmar qualquer um, como uma canção de ninar natural. Ondas. A maresia se grudava em seu rosto e a menina permaneceu de olhos fechados. Por um curto momento, pôde lembrar-se da praia de Hornsea com suas ondas calmas e sua maresia. Mas a fantasia não durou muito tempo, pois ela sabia que não ajudaria em nada se perder em memórias, não naquele momento.
A praia que encontrou era cinzenta e maior do que Hornsea. A bruxa olhou em volta e sentiu o coração acelerar ao ver um pequeno chalé de paredes acinzentadas e com uma textura estranha.
A garota apenas correu. Tropeçando no terreno irregular da areia, ela conseguiu chegar até a casa e bater com toda a força que conseguia na porta. Não demorou até alguém abrir e Hermione se deparar com os olhos azuis arregalados de Fleur Weasley.
"O que?" a mulher murmurou, encarando-a por alguns segundos. "Hermione? Como...?"
"Harry e Ron. Preciso ver Harry e Ron!" disse Granger, empurrando a bruxa para o lado e entrando na casa.
Bill Weasley estava parado no meio da sala, com a varinha em mãos e parecendo pronto para um duelo. O rosto do ruivo assumiu uma expressão surpresa, mas não demorou muito para a atenção de Hermione ser desviada dele.
Sentado em uma poltrona, havia um homem de cabelos brancos e rosto enrugado. A garota o conhecia muito bem, nunca iria se esquecer do dia em que aquele bruxo lhe entregara a sua primeira varinha, mas agora, tudo o que conseguia pensar era em como ele havia envelhecido. Os olhos, no entanto, continuavam com aquele mesmo brilho corvinal.
"Deu certo," ela murmurou, sentindo os olhos encherem de lágrimas outra vez enquanto via Garrick Ollivander se levantar de onde estava sentado. "Estou b-bem."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Kolybel'naya
FanfictionExistiam muitas coisas as quais Hermione nunca imaginara serem tão complexas: o tempo, a morte, os sonhos e, acima de tudo, o Lorde das Trevas. NOTA: Essa história começou a ser escrita em 2012 e foi terminada em 2017, postada originalmente no fanfi...