O Captain! My Captain!

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Durante a noite, Londres não era completamente silenciosa. Os terrenos de Hogwarts eram silenciosos, apenas com os grilos, cigarras e corujas fazendo os seus barulhos, além de um lobo ou outro, mas a capital não... Apesar de não haver tanto barulho, havia os sons da cidade: um carro passando ao longe, alguém falando mais alto na rua, uma lata de lixo sendo derrubada por um gato. Era como se fosse algum tipo de estática produzida por grandes cidades, algo que estava sempre presente, já parecendo natural a quem o ouvia.

Naquela noite, a estática de Londres pareceu sumir por completo dos ouvidos de Tom Riddle. Nem mesmo seus passos pareciam ecoar contra as calçadas de concreto. A única coisa que o rapaz ouvia era uma versão abafada de sons e, bem no fundo de sua mente, o barulho que ouviu quando o médico legista caíra no chão após a maldição de Dolohov.

O silêncio abafado se intensificou quando o garoto entrou em seu apartamento. No escuro, ele sabia que devia ouvir os sons da rua, mas estes estavam ausentes. Sabia que devia estar ouvindo a respiração suave de Hermione, que estava adormecida na cama, mas era como se ela nem estivesse ali. Sua mente estava bagunçada e aérea, cada passo parecia ser dado em uma superfície acolchoada e seus movimentos estavam estranhos. Quando se sentou na beirada da cama, mal sentia o colchão abaixo de si e o som das molas rangendo não chegou a fazer cócegas em seus tímpanos. Era como se ele não estivesse realmente ali.

"Tom?"

A voz veio de longe. Distante e estranha, abafada pelo véu de confusão, mas que começou a ficar mais clara a medida que seu nome era repetido. Tom, Tom, Tom... Ele sempre detestara aquele nome. Ninguém o chamava de Thomas e tinha um Tom em cada esquina de Londres. Três letrinhas e um som tão simples. Mas ali, o barulho do 'T' produzido pela língua estalando contra os dentes centrais parecia um anzol o puxando para a realidade outra vez.

"Tom?" o chamado agora estava mais nítido, assim como o peso leve em seu ombro. Dedos suaves, uma mão macia. "Está tudo bem?"

O rosto de Hermione estava iluminado pela metade pela luz amarelada que entrava pela janela. Os postes de luz tentavam imitar o tom da luminosidade que entrava pela janela da casa em Hornsea todo o fim de tarde, mas o resultado era bem diferente.

"Está," ele falou, automaticamente. Sua voz estava estranha. Fraca e vazia. Ele havia soado assim quando voltou para o orfanato depois de visitar Little Hangleton. Martha achara que ele estava doente, Alexei dissera que não havia nada de errado.

"Estava na Borgin & Burke's até agora?"

Os olhos da bruxa estavam atentos. O castanho parecia quase negro naquela luminosidade, mas ele conseguia ver que alguma coisa estava sendo construída dentro da mente dela. Ela desconfiava de algo.

"Não," o rapaz respondeu e ela ficou em silêncio, mordendo o lábio inferior. Em uma situação normal, Tom talvez quisesse beijá-la ali, mas não agora.

"Eu quero saber onde você estava?" A voz de Elston estava receosa agora, hesitante.

"Não sei."

A garota puxou o ar e o soltou devagar. A mão que estava em seu ombro se ergueu, alcançando o seu rosto e o acariciando com delicadeza. Tom queria se inclinar contra o toque, mas seu corpo não respondia. O barulho do crânio do médico contra o chão do necrotério voltara e agora ele podia ouvir, mais ao fundo, soluços. Seu pai não se importara de chorar e soluçar na sua frente, depois que o Sr. e a Sra. Riddle morreram.

"O que houve, Tom?"

As palavras subiram pela sua garganta, mas ficaram trancadas em algum lugar no meio do caminho. Riddle nunca pensara que sentira vontade de confessar algo, mas ali era como se cada relato quisesse escapar por entre os seus dentes. Ele não podia falar nada. Hermione não entenderia.

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