It was preordained that we should part

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"[...] And be reunited by and by"


Hermione escondeu o rosto entre as mãos, respirando fundo enquanto tentava ignorar a ardência nos olhos. O Profeta Diário aberto sobre a sua mesa exibia a foto de um bruxo de cabelos grisalhos e olhos claros, de expressão séria, que encarava a câmera por alguns segundos, antes de desviar o olhar. A foto não era grande e, abaixo desta, havia um pequeno texto escrito por ela na noite anterior:

"Poucas pessoas conheciam Thomas Mazarovsky fora de suas pesquisas sobre o conceito de magia branca e negra ao redor da Europa e de suas contribuições durante a Segunda Guerra Bruxa (os melhores rumores dizem que ele teve a chance de acertar o Lorde das Trevas com um soco e aqui eu reproduzo este rumor por saber que ele iria gostar que todos soubessem que isso é verídico). Quem teve essa oportunidade, no entanto, sabia que Tom era uma pessoa teimosa e fascinante.

Queria eu poder discorrer aqui sobre todas as histórias que tenho desse bruxo, mas uma coluna é muito pouco para isso. Resta apenas dizer que tive o prazer de conhecer esse homem que se tornou um exemplo de como as pessoas podem mudar.

Por fim, deixo aqui um poema que sei que Tom teria gostado de ver em seu obituário:

Até logo, até logo, companheiro
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tão pouco há novidade em estar vivo!

— Serguei Iessiênin.

Falecido dia 13 de Julho de 2017, aos 90 anos."

"Eu acho que ficou bom."

"Ficou horrível," disse Hermione, erguendo o rosto e limpando as bochechas, antes de se virar para olhar os pequenos retratos que estavam pendurados atrás de sua mesa, logo abaixo do retrato (agora vazio) de Artemisia Lufkin.

"Quem se importa? Ninguém lê o obituário," disse o homem loiro que se debruçava contra a sua moldura.

"Você lia o obituário," o bruxo do retrato ao lado falou, estreitando os olhos.

"E no que isso resultou? Ter o meu próprio obituário escrito por Lucius, que fez um trabalho de merda."

A bruxa riu, escondendo a boca atrás da mão. Ela ainda não sabia como havia conseguido convencer Draco Malfoy de lhe dar aquela pequena pintura de seu avô, apesar de que o sonserino pareceu aliviado de se livrar do quadro falastrão que volte meia reclamava da decoração da sua sala no Ministério. No retrato, Abraxas não tinha mais que trinta anos e exibia o início do que, um dia, se transformou em um fabuloso bigode loiro.

"Você teve uma página inteira dedicada ao seu obituário, Brax."

"Você teve um poema do Iessiênin, Tommy."

O homem no retrato ao lado também era jovem, apesar de este ter sido pintado quando ele já era mais velho. Hermione convencera Riddle de ceder uma foto para ter o seu retrato pintado há cinco anos e agora ele adornava a sua sala, sempre soltando um ou outro conselho ou reclamação.

A bruxa pegou-se sorrindo enquanto observava os dois discutirem sobre obituários. Aqueles quadros eram a única coisa que lhe restara, além das memórias e algumas fotos, dos dias ensolarados em uma praia calma em East Yorkshire. Era quase engraçado como ninguém tentava entender qual a razão de ela ter Abraxas Malfoy, o ricaço excêntrico, e Thomas Mazarovsky, o pesquisador introvertido, em sua parede... Era o tipo de coisa que as pessoas apenas ignoravam, assim como o tempo durante o qual ela permaneceu desaparecida ao longo da Segunda Guerra.

Kolybel'nayaOnde histórias criam vida. Descubra agora