The Lord on the Hill

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Ele podia sentir a magia recobrindo tudo ao seu redor. O chão, as paredes, os objetos... A casa inteira parecia ter magia flutuando dentro dela; ele conseguia reconhecê-la como um calor suave dentro de si ou um leve formigar na ponta dos dedos. Tanta magia em um lugar tão comum.

"Milorde?"

O homem não se virou para ver quem falava com ele e, logo, quem o chamara entendeu tal sinal e se afastou. Todos sabiam que o seu silêncio significava uma única coisa: ele queria ficar sozinho. Sim, tudo o que ele precisava naquele momento era ficar só com companhia daquela magia poderosa para tentar entendê-la. A energia que sentia com toda a certeza pertencia à um bruxo ou bruxa poderosíssimo – bruxo, de acordo com suas pesquisas – e ele não conseguia acreditar que a fonte de todo aquele poder era a pessoa sobre quem falaram para ele. Afinal, alguém com sangue trouxa não deveria poder ter tamanha magia dentro de si; ele nunca vira algo assim antes e, até agora, tinha certeza de que morreria sem ver um sangue-ruim exibindo tamanho poder.

Mas, ainda assim, ali estava ele, parado no meio de o que parecia, um dia, ter sido um tipo de atelier, sentindo aquela energia e notando o quão trouxa e ordinário aquele lugar era... O cheiro de tinta ainda podia ser sentido e, mesmo com todas as coisas cobertas com lençóis brancos e poeira, parecia que a única coisa necessária para que aquele lugar voltasse a vida fosse a entrada do seu dono original. Tudo era muito organizado, mas, ainda assim, muito trouxa. As pinturas já terminadas – as que ele havia descoberto – não se mexiam; não, elas ficavam quietinhas, paradas, encarando-o com seus olhos petrificados e rostos imóveis.

"Milorde?" Era outra voz que o chamava agora e, para a dona desta, valia a pena virar-se.

"Sim?"

"Tem certeza de que esse é o lugar?"

O homem viu-se olhando para uma mulher alta com cabelos loiros curtos e olhos cinzas incrivelmente frios. Ela não estava usando um vestido ou uma saia como a maioria das bruxas fazia, mas sim as mesmas calças pretas, botas e capa que o resto de seus homens usavam. Com a varinha em mão – pois ela sabia muito bem o quão importante era estar sempre armada em lugares desconhecidos – a bruxa parou no batente da porta, encarando-o com uma expressão séria no rosto.

"O que você acha, minha cara?"ele perguntou, gentilmente, sorrindo para ela.

"Não há ninguém aqui, senhor..."

"Claro que não, eles estão mortos; você ouviu o que nos disseram."

"Então por que estamos aqui?"

O sorriso do bruxo permaneceu em seu rosto enquanto ele se aproximava de uma das mesas e apanhava um porta-retrato de cima desta. Ele correu os dedos longos por sobre o vidro, retirando a poeira de cima deste, e inclinou a cabeça para o lado enquanto olhava para a foto. Uma família sorridente o encarava de volta da fotografia preto e branca, imóveis.

"Diga-me, Brunhild, você sente?"o homem perguntou, finalmente movendo-se e se aproximando dela, entregando-lhe a fotografia. A bruxa pegou o retrato, hesitando um pouco, e olhou para ele por alguns segundos, antes de erguer os olhos para ele novamente. "A magia... Pare de se preocupar por um minuto, querida, e concentre-se no que está ao seu redor." O sorriso dele se alargou quando ele percebeu que o rosto da outra pareceu relaxar um pouco enquanto ela olhava em volta, antes que sua expressão se modificasse novamente. "Entende?"

"Tinha um bruxo aqui, senhor? É por ele que o senhor procura?"

O homem gesticulou para que ela entrasse no cômodo e, quando ela o fez, ele fechou a porta com um rápido aceno de sua mão.

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