1944

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A sala de visitas ainda estava lá. A mesma mobília; o mesmo chão de madeira bem polida; as mesmas paredes claras; as mesmas sombras formadas pela maneira como o luar se infiltrava pelas grandes janelas atrás dela. Mas, ainda assim, alguma coisa estava diferente... Não havia pedaços de vidro quebrado, o lustre continuava pendurado no teto, lançando inúmeros reflexos brilhantes nas paredes, não havia gritos e nem sons de explosões. Além disso, a única pessoa no cômodo era a garota caída no chão, quase incapaz de se mover por conta da dor que ainda percorria o seu corpo.

Hermione deixou uma respiração entrecortada escapar de seus lábios enquanto olhava em volta, sentindo o pânico crescer dentro de seu peito. Ela estava na Mansão Malfoy, mas... Quando? Era óbvio que ela havia viajado no tempo por acidente, o vira-tempo quebrado ao seu lado era a prova disso, junto com o fato do lugar estar em ordem, mas para quando ela foi? Algumas horas no passado? Alguns dias? Ou, pior, alguns anos? A mera idéia de ter viajado no tempo por mais de alguns dias fazia a grifinória sentir-se mal e prestes a desmaiar, mas, lutando contra tal impulso, a garota deu um jeito de levantar-se do chão, ficando em pé enquanto se agarrava nas cortinas escuras de veludo para manter o equilíbrio.

Não havia sinal de quanto tempo ela voltara... Ou pelo menos não havia nenhum que ela conseguisse perceber. Respirando fundo, Hermione soltou-se da cortina e deu um passo, apenas para cair devido à fraqueza de suas pernas. Agarrando-se à uma mesinha de canto para não voltar a se estatelar no chão, a bruxa acabou por derrubar alguns pequenos porta-retratos que haviam em cima desta. Oh, aquilo era novo. Aquela mesa não estivera ali antes. O objeto estava, agora, no ponto exato onde Draco havia parado um pouco antes. Xingando baixinho, ela pegou os porta-retratos, organizando-os em cima da mesa outra vez, antes de se levantar.

Erguendo a mão esquerda, ela ergueu a corrente prateada do vira-tempo e encarou o objeto quebrado, tentando segurar a onda de desespero que estava tomando conta de si. Sua atenção foi então desviada do objeto ao ouvir sons vindos do corredor... Passos; mais especificamente o som de saltos de botas batendo contra o chão. Hermione entrou em pânico, imaginando Bellatrix entrando pela porta da sala a qualquer segundo com a sua varinha apontada para ela, atirando-lhe maldições Cruciatus.

"Abraxas, querido, é você?" uma voz feminina chamou do outro lado da porta. Os passos pararam por alguns segundos e a grifinória ouviu o som de tecido sendo arrastado por sobre alguma coisa, antes de eles voltarem a serem ouvidos. "Abraxas?"

Hermione olhou em volta; sua respiração se acelerava a cada passo que a mulher do outro lado dava. Não havia lugar para onde correr e, mesmo se houvesse, ela não conseguiria o fazer... Não, não no estado em que se encontrava.

"Pense, Hermione, pense!" a menina sussurrou, ouvindo os passos se aproximarem cada vez mais.

Só havia uma coisa que ela poderia tentar e a possibilidade de aquilo dar errado era enorme... Não apenas porque a casa poderia estar protegida por um Feitiço Anti-Aparatação, mas também pelo fato de que ela estava exausta e aparatar naquelas condições era quase a mesma coisa que pedir por um lindo estrunchamento. Mas era a única coisa que ela poderia fazer.

"Querido?"

Destino.

"Você poderia me responder...?"

Determinação.

"Abraxas?"

Deliberação.

"Abraxas, pare com essa brincadeira!"

Uma mulher loira abriu a porta e correu os olhos pela sala de visitas vazia enquanto apertava a echárpe de pêlos que carregava, perguntando a si mesma se havia alguma chance de ela estar começando a escutar sons inexistentes dentro da sua própria casa.

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