Primeira parte - Cap. 1

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Samantha

O sol brilha essa manhã, eu estou morrendo de calor. Os ventiladores da sala de aula não estão resolvendo muito as coisas.

E a aula de direito só ajuda a tornar a manhã mais insuportável. Tento prestar atenção, pois sei que precisarei dessa materia na hora da prova, mas não passam de meras tentativas.

Fico ali observando minha professora falar, o jeito que ela mexe a boca, o jeito tosco como sorri. Seu cabelo curto, sedoso, que parecem mais claros sobre o reflexo das luzes, talvez sejam dessa cor mesmo, eu é quem nunca havia reparado.

Aqueles olhos negros que parecem mais bolas de carvões, me deixavam anestesiada. Seu corpo miudinho, irresistível. Ela não tem seios grandes, nem uma bunda gigante, mas aquilo não a torna menos atraente.

Sua pele macia, clara, destacava sua beleza de uma forma diferente. Ela é baixinha e esta usando uma sapatinha creme que faz com que ela pareça uma barbie.

Não precisei pensar muito para entender que eu estou interessada nela. Mas como poderá eu esta interessada em uma mulher? Sei que não tenho chance alguma, ela tem uma filha, o que mostra que não é lésbica, e para complicar a situação toda, é casada.

Sinto um aperto na garganta, talvez porque nunca poderei ter algo com ela, ou simplesmente por não aceitar que sou bi.

Eu preciso pensar, entender aquilo de uma forma mais clara, o que é impossível com Rebeca bem a minha frente explicando o artigo 5.

Ela parece não notar minha existência, mas isso é normal ela nunca notou, isso me machuca um pouco. Quero que ela só tenha olhos para mim.

E meu fogo recém descoberto esta me deixando irritada, e me diminuído. Vejo Rebeca apertar a mão de uma garota, dizendo "muito bem garota. Muito bem! Estou orgulhosa de você". Queria que isso acontecesse comigo, que ela estivesse orgulhosa de mim. Porém não dou motivos para ela ficar orgulhosa.

Uma lágrima escorre meu rosto, estou sendo patética. Levanto-me rapidamente, secando o rosto com a mão. Saio da sala sem nem pedir a Rebeca.

Queria ter pedido a ela permissão para sair da aula, entretanto me encontrei em um estado de choque. Preciso respirar.

E ali estou eu, no banheiro, meu único refúgio nesse momento. Deixo as lágrimas saírem, tirando da minha garganta o sufoco.

O que esta acontecendo comigo? Oh meu Deus, por que? Já não sou estranha o suficiente e agora ainda tenho que ser lésbica, interessada em uma mulher casada a qual nunca terei?!

Alguns segundos se passam e Rebeca entra no banheiro, ela me olha com preocupação. Mas preocupação pelo que? Por já ter percebido meus interesses?

Ela se aproxima, olhando nos meus olhos.

- Desculpa ter saído daquele jeito... Simplesmente não estou legal hoje. - Estou soluçando de tanto chorar.

Ela me abraça, acariciando meus cabelos negros. E eu a deixo me envolver com aqueles braços magros, envolvendo-a com um pouco mais de força. Tendo naquele momento meu porto seguro.

Esse é foi o melhor momento para ganhar esse abraço. Forte, verdadeiro e cuidadoso. Por outro lado é o pior momento, onde meus desejos se confirmam.

- Tudo irá ficar bem, Samantha. - Ouvir Rebeca dizer meu nome, acalma minha alma. - Se quiser conversar no final da aula, pode me procurar. - Assenti sem olhar em seus olhos. - Preciso voltar. - Diz me soltando e saindo do banheiro.

Lavo o rosto com água, aquilo não podia ser verdade. Eu estou sonhando. Isso é apenas um sonho. Apesar de ser real demais.

Respiro fundo e saio do banheiro. Pego meus matérias na sala, não conseguirei assistir aula nesse estado de descoberta, ainda mais a aula de Rebeca.

Ligo para minha mãe comunicando que não estou nada bem, e que preciso voltar para o calor da minha cama.

Passo a tarde toda deitada pensando, percebo que minha reação havia sido ridícula, meu rosto se cora ao lembrar da cena.

Quero conversar com alguém, acho que me fara bem, só não estou pronta para dizer em voz alta que sou bi. Então resolvo não telefonar nem mandar SMS para ninguém.

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