Cap. 8

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Samantha

A manhã estava confusa, o céu nublado, a ventania bagunçando minhas ideias, o barulho das folhas arrastando pelo chão agoniava-me. O professor de geografia não parava de falar sobre o solo, eu não queria saber disso. Minhas pálpebras começaram a pesar, meu corpo foi ficando mole, deitei a cabeça sobre o caderno, aprofundando no sono.
- Samantha... - Uma voz me chamava, mas ela era quase nula, deveria estar bem longe. - Samantha. - Dessa vez ela era bem mais forte. Alguém toca em meu ombro esquerdo, tirando-me do sono.
- Oi. Oi. - Digo sonolenta e ao mesmo tempo assustada.
- Arrume seus materiais, vieram te buscar mais cedo hoje. - Ele fala grosseiramente.
Arrumo minhas coisas ligeiramente. Porque meu pai não me avisou que viria me buscar? Odeio ser pega de surpresa. Minhas bochechas começaram a ficar vermelha de raiva. Ao sair da sala escuto alguns sussurros, seguidos de risos , não consegui compreende-los. Sigo meu caminho até o estacionamento da frente do colégio, onde não encontro o carro do meu pai. Deve ser só alguém debochando da minha cara?
Vou até o estacionamento da lateral, ele não é muito usado, somente por alguns professores. Meu pai mesmo, nunca o usava, entretanto não custava conferir. Não avisto o carro do meu pai ao me aproximar, continuo andando, cada vez com mais raiva. Minha mochila pesava, parecia que estava carregando sacos de areia.
Chego bem no meio do estacionamento e nada do meu pai. Estava na cara que isso não passava de uma brincadeira imbecil. Meus punhos se serram, tive vontade de chutar alguma coisa, chutar a pessoa que organizou essa brincadeira. Giro os calcanhares, e começo andar, dou alguns passos em direção a frente do colégio, quando um IX30 preto para bem do meu lado. Tentei identificar quem estava dirigindo, mas o vidro escuro impedia o reconhecimento de qualquer coisa.
- Entre. Agora. - Diz uma voz feminina ao abrir a porta. Não precisei nem ver o rosto para saber que era Rebeca. O que ela queria comigo? Meu coração acelerou-se, minhas mãos gelaram e minhas pernas ficaram um pouco bambas. Entro no carro sem questionar.
- Sei que você não deve estar entendendo isso. - Realmente não estava entendo nada, isso estava sendo muito estranho. - Precisava ver-te. Precisava. - Suas mãos apertam o volante. Devia estar sonhando. Isso não podia ser verdade. - Senti sua falta ontem. - Meu coração deu pulos de alegria.
Rebeca sai rapidamente do estacionamento, pegando a rua principal, que dava direto no centro da cidade. O silêncio tomou conta do carro, eu não seria a pessoa a quebra-lo, estava muito ocupada tentando entender aquela situação toda. Via
Rebeca me olhando pelo canto do olho durante todo caminho.
- Para onde estamos indo? - Quebrei o silêncio.
- Só relaxe. Não vou te sequestrar. - Rebeca sorri.
Ela realmente não iria me sequestrar, mas se quisesse eu não a impediria, sorrio.
- Que bom, né?! - Seguimos o resto do caminho, para sabe-se lá onde, caladas. O que me deixou mais tensa.
Chegamos a uma praia, mas Rebeca só estacionou quando encontramos uma simples casa branca. Ficamos ali dentro do carro, no silêncio, Rebeca observava a casa, como se tivesse se arrependido de algo.
Ela se vira pra mim, observando cada movimento meu. E segundo depois, já estávamos nos beijando. Um beijo chocho, mas que mesmo assim era perfeito.
Rebeca sai do carro, a assisto descender, era como se tudo estivesse em câmera lenta. Borboletas pareciam tomar conta do lugar.
- Vai ficar ai me encarando? - Ela interrompe minha linha de pensamento. Desço e começo a seguir rumo a casa.
A areia da praia estava toda suja, como se um furacão de folhas e pequenos ganhos tivessem passado por ali. O jardim da casa devia ter sido muito bonito, mas agora as plantas estavam todas mortas. O vento balançava meu cabelo, jogando alguns fios em meu rosto. Um arrepio percorreu todo meu corpo.
Rebeca para enfrente a porta, seguro-a pela cintura, giro-a, ficando cara a cara. Seus olhos, tinham um brilho diferente. Toco seus cabelos, que estão mais macios. Acariciando sua bochecha. Selando nossos lábios com um beijo ardente, carinhosa e a cada segundo me apaixonava mais. Não queria que o aquele momento acabasse. Tempo pode parar agora. Exijo que você pare.
Afasto-me para que pudéssemos recuperar o fôlego.
Rebeca toca os lábios com os dedos, exibindo uma expressão feliz. Ela parecia ter gostado, gostado muito, isso tornava tudo ainda melhor.
Finalmente entramos na casa, que é magnifica por dentro, aquela simplicidade ficava somente do lado de fora.
Rebeca senta no sofá, fico da porta a encarando. Estava meio boba, sem saber o que fazer.
- Entre, temos que conversar.
- É. - Concordo. - Você me deve explicações. - Sento-me a seu lado.
- Por onde posso começar? - Aquilo foi uma pergunta, mas ela só estava refletindo consigo mesmo. - Bom, peço desculpa por ter sito tão rude no dia em que você me beijou no estacionamento, não foi minha intenção machuca-la. Só não estava esperando um beijo.
- Não foi eu quem comecei o beijo. Não me culpe. - Digo com raiva.
- Não a estou culpando. Também não foi eu quem comecei aquele beijo. - Rebeca estava mesmo achando que eu havia começado o beijo.
- Deve ter sido uma força sobrenatural, então. - Digo ironicamente. O clima fica tenso.
- Enfim, você não sai da minha cabeça. - Demorei um pouco para compreender aquelas palavras. Abro a boca para dizer algo, mas ela foi mais rápido que eu. - Quero deixar claro que sou casada, tenho uma família e não vou deixar isso tudo por sua causa. Simplesmente não posso.
- Que? - Pergunto com a voz estranha, estava sufocada pelas lágrimas.
- Você é uma pessoa muito legal, te adoro muito. Queria muito ter te conhecido antes de casar. - Ela faz uma pequena pausa. - Mas o que você está sentindo é apenas uma paixão, que passará antes mesmo de você contar até cinqüenta. - Minha raiva do estacionamento tinha voltado.
- Não diga uma coisa que você não sabe. Quem está sentindo sou eu, quem sabe se é ou não uma paixão de "verão" sou eu.
- Calma, Samantha. Não estou duvidando dos seus sentimentos.
- Não? Falar que eles vão acabar antes do fim do mês é o que? - Respiro fundo. - E espero um momento, eu nunca falei nada sobre meus sentimentos por ti, como pode tu sabes? - Ela não disse nada. - Não fale de sentimentos alheios, muito menos dos que você não sabe. - Ela engoliu em seco.
- Calma, por favor.
- Nada de calma. Calma, já tive muita. Você me trouxe aqui só para falar que não vai ficar comigo? - Rebeca ficou olhando para o chão, como se tivesse o perdido. - E eu nunca pedi para você deixa sua família, nem nada. Não crie coisas. - Viro-me e saio pela porta.
- Cuide dessa porra de jardim. - Grito furiosa.
Passo no carro, que ela havia deixado destrancado e pego minhas coisas. Começo a andar pela estrada, não sabia o caminho de volta, meu caminho era inserto.
Não demorou nem sessenta segundos para ela aparecer a meu lado, imaginei que ela viesse de carro, mas ela veio correndo.
- Samantha. Espere. Por favor. - Continuo a andar, como se não tivesse a escutado. - Por favor. - Meus olhos não conseguem mais segurar as lágrimas.

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