Cap. 4

17.9K 902 86
                                    

Samantha

- Sam. - Minha mãe toca minhas costas. - Estou te chamando há um tempão. Ta surda?

Surda não seria a palavra correta, e sim, distraída. Não conseguia fazer mais nada direito, só pensar Rebeca, imaginar coisas que nunca aconteceram.
- Você anda muito absorta... - Sorrio, não podendo negar. - Deve ser o cansaço, andas ajudando muito aqui em casa. Vá descansar. Eu termino de lavar as louças.

Largo as louças e vou tomar um banho. Fico muito tempo com a água caindo sobre minha cabeça, pensando em tudo, no que estou fazendo com minha vida. O que estaria Rebeca fazendo? Mil respostas a essa pergunta.

Deitada na cama inquieta, o sono não chega, talvez simplesmente porque os pensamentos não deixam. Estou precisando sair, descontrair um pouco.

Levanto-me, visto a primeira roupa que vejo ao abrir o guarda roupa. Passo um batom rosa escuro, deixo o cabelo semi-preso.

Saio na ponta dos pés, fazendo o mínimo de barulho possível, torcendo para meus pais não ouvirem. Começo a andar sem saber ao certo meu rumo.

Depois de uma hora e meia andando, estando bem longe de casa. Havia passado por muitos bares sem graça, cheios de pessoas bêbadas, homens com abstinência sexual e nada do que eu precisava. Não sei o que preciso, saberei assim que encontrar.

Chego a uma parte da cidade pela qual nunca havia passado antes. Pouco luminosidade, o que me amedrontou, por estar de madrugada e eu andando sozinha pelas ruas. Não pensei nisso ao sair de casa.
Dois grandes blocos, passando por eles e subindo um pouco mais, tinha alguns restaurantes, um barzinho chamado "cabedown", com o aspecto bem aconchegante, poucas pessoas, não pensei duas vezes antes de entrar.

Sento-me na cadeira ao lado do balcão, logo o Barman aparece perguntando o que desejaria beber.

- Uma caipirinha bem forte, por favor. - Nunca bebi antes, e não vi problemas em beber agora.

- Sua identidade, por gentileza. - tirei do bolso a identidade falsa que fiz ano passado, que pela primeira vez estava servindo para alguma coisa.
Um cara até bonitinho entra no bar, senta-se ao meu lado. Ele esta cabisbaixo, algo de ruim deveria te-lo acontecido. "Um copo de 51" , depois desse pedido tive certeza que ele não estava bem.
- Querendo afogar as magoas em bebidas, também? - Diz ele. Olho para os lados para confirmar se ele realmente estava falando comigo. Faço sim com a cabeça. - Quer conversar sobre o acontecido? - Era tudo que eu precisava no momento, um estranho para me abrir.
- Que tal você falar primeiro, enquanto eu vejo qual será a melhor forma de contar. Acho que não estou pronta para admitir ainda. - Falo tomando um gole do meu drink, que esta muito forte e desce queimando a garganta. Faço uma careta e ele solta uma gargalhada.
- Não é acostumada a beber né?
- Sinceramente, não. - Digo sorrindo e virando-me para frente, ficando de lado para ele.
- Tem cara de ser bem novinha. Acho que nem tem idade para estar bebendo. - Fico calada. - Enfim, isso não é da minha conta. - Faz uma pausa. - Meu namorado terminou comigo por causa de outro. - Havia ouvido corretamente?
- Você é gay?
- Sim, flor. - Ele me entenderia pelo menos. Comecei a encara-lo, ele não parecia nem um pouco gay, deveria ser o macho da relação.
- Sinto muito. Namoraram por quanto tempo? - Realmente sentia muito.
- Um ano e meio. - Sua voz falha ao falar a última palavra.
- Ele é um cachorro. Não ligue, só ele esta perdendo. - Ele dá um sorriso triste, abraço-o. - Você vai encontrar um homem maravilhoso, espere e verá.
- E você flor, o que houve?
- Até dois meses atrás eu era heterossexual... - Faço uma pequena pausa. - E do nada comecei a me sentir atraído pela minha professora de direito, que é casada, tem uma filha. Ela tem idade para ser minha mãe. E sei que nunca podermos ter nada. - Percebi que havia falado rápido, minha respiração estava um pouco alterada.
- Nunca é uma palavra muito forte. Não sabemos o que o futuro tem a nossa espera.
- Mas nem bi ela é.
- As coisas podem mudar. - Bem que eu gostaria que mudassem. Suas palavras são belas, mas nada que posso aproveitar. Ele só esta me dando falsas esperanças. - Já falou para ela o que sente? Ou pelo menos insinuou? - Penso em como tem sido o último mês.
- Não.
- Então, ela não vai adivinhar. - Sorrio, tenho que concordar com essa parte. Meu celular vibra, me assustando. Deixando-me mais assustada ainda ao ver a hora, já passava de três e meia da manhã. Tinha que ir embora, terei aula daqui a poucas horas e o caminho até em casa é longo.
- Foi um prazer conhece-lo, mas tenho que ir, o caminho até em casa é logo. - Fiz uma pausa, mas antes dele responder já fui dizendo. - Garçom a conta, por favor.
- Como você vai embora? De táxi, né? E eu pago sua bebida. - Dou uma leve gargalhada.
- Vou andando. E não precisa, trouxe dinheiro.
- Não é questão de precisar. Você foi minha companhia, faço questão de pagar e leva-la até em casa. - Sorrio agradecida.
Depois dele ter acertado as nossas contas, fomos até seu carro, que estava perto do segundo bloco, pelo qual havia passado antes de chegar ao bar.
E quando abri a porta do carro, algo me chamou atenção no prédio, uma única luz acesa, alguém estava abrindo a porta da sacada, entrei no carro, não dando muita atenção, pra mim era só mais uma pessoa.
Quando entre no carro, torno a olhar para sacada, lá estava uma mulher com camisola branca bem curta, não demorei muito para perceber que era Rebeca.
Meu coração começa a bater mais rápido, e antes que pudesse dar mais uma olhada, o carro já estava em movimento.
Conversamos o caminho todo, eu havia o adorado. Percebi que aquilo era o começo de uma grande amizade. Ele pegou meu número e eu peguei o dele. E só então descobri seu nome, Tobias.
Abro a porta para descer, depois de já ter agradecido e me despedido, Tobias segura meu braço.
- Me ligue sempre que precisar, sempre mesmo. E não quero perder contanto contigo.
- Digo o mesmo! - Sorrio e desço contente.
- Não esqueça de se "declarar". E tente. Vire o jogo.
- Pode deixar. - Digo, depois mando um beijo.
Aquela saída realmente me fez melhorar bastante. Ainda bem que fui. Entrar em casa foi fácil, vou direto para cama. E a cena da Rebeca na sacada não saiu da minha cabeça.

O mais novo interesseOnde histórias criam vida. Descubra agora