Cap. 37

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Rebeca

Saio da sala do nono ano  estressada, as crianças estavam insuportáveis, ando até a sala do segundo ano torcendo para a turma esta calma, não quero ter outra aula chata, mas se bem que o segundo é uma turma tranquila, minhas aulas sempre rendem muito.

Entro na sala, a conversa termina assim que eles me veem, tem algumas pessoas de cabeça  baixa, e eu deixo eles assim, pelo menos não irão atrapalhar a aula. Coloco meu material sobre a mesa do professor, arrumo minha caixa de som e o microfone, o celular de alguém toca. Conto até dez.

- Desta vez não farei nada. Mas que isso não volte a se repetir. - Digo em tom calmo.

Então começo a fazer a chamada. Amanda, Ana Clara... Pulo o nome de Samantha, não adianta chamar o nome de uma pessoa que abandonou o colégio, mas eu a entendo, o negocio da gravidez mexeu muito com ela, só acho que ela deveria tentar concluir o segundo, já que de um jeito ou de outra irá perder o terceiro. Ficar dois anos atrasada não é algo muito bom. Depois conversarei com ela sobre isso.

- Túlio? - Chamo

- Presente. - Responde o garoto sentado no fundo da sala.

- Professora, você me pulou... - Diz uma voz muito familiar, vindo do outro lado da sala. Viro meu rosto a procura da voz, dou de cara com Samantha, seu rosto esta marcado, esta obvio que ela estava dormindo. E por um momento meu estresse desapareceu.

- Meu Deus, não creio, você finalmente decidiu aparecer no colégio. Esta doente? - Pergunto fingindo não saber de nada.

- Estava. Mas já estou bem, obrigada. - Seus olhos brilham. Percebo a paixão existente neles.

***

Sai mais cedo da minha ultima aula, fiquei na porta da sala do segundo ano esperando os alunos saírem. Samantha foi uma das ultimas a saírem, o que facilitou tudo.

- Quero falar com você. Será que podemos sair para almoçar? - Pergunto. Não por querer realmente a companhia dela, mas sim, por não querer ficar sozinha. Não sei por que, porém morro de medo da solidão, algo nela me assusta profundamente.

- Claro que sim. - Diz ela com um sorriso nos lábios.

Saímos discretamente pelo portão dos fundos, ele não é muito usado, então acho que poucas pessoas nos viram. Não quero que elas pensem  besteira.

Levo Samantha até o restaurante mais próximo do meu novo apartamento. O ar do restaurante esta tomado pelo aroma de carne assada. Nos sentamos mais ao fundo.

- E então, você não pode perder esse ano. Ano que vem você não poderá estudar por causa da criança. E ficar dois anos atrasada é horrível. A menos que queria ser uma domestica qualquer. - Digo puxando assunto.

- Não pretendo perder esse ano. - Diz ela toda confiante.

- Mas irá, se não parar de faltar.

- Não pretendo faltar mais.

- Isso é excelente. - Digo fingindo interesse.

- Não pretendo largar o colégio. Ano que vem não poderei cursar o terceiro ano, mas no próximo quero voltar a estudar. E ter uma profissão.

Samantha fala alguma coisa, não sei o que é pois estava viajando em meus pensamentos. Faço uma cara de "isso mesmo".

- Já fez o ultrassom? - Mudo de assunto ligeiramente.

- Não...

- Acho que ainda não da para saber o sexo, mas você tem que ter acompanhamento com um medico.

- Providenciarei isso.

E com isso o nosso almoço acaba. Pego  a conta e vou até o caixa pagar, Samantha vem logo atrás, como um cachorrinho. Quando saímos do restaurante, somos atingida por uma grande brisa quente que faz minha visão fica turva, apoio em Samantha.
- Você esta bem? - Pergunta ela preocupada.
- Sim. Foi só o calor.
Assim que volto a enxergar claramente, conto a Samantha que estou morando aqui perto, conto que tinha o apartamento bem antes de me casar com Marlon, foi algo que minha mãe deixou para mim, mas que nunca foi muito usado, já que me casei muito nova. Falar do Marlon me apertou o coração, mas fingi perfeitamente bem.
- Posso conhece-lo? - Pergunta entusiasmada. Penso por algum tempo.
- Claro. - Digo por fim.

Segundos depois estamos em pé na sala de estar de um pequenino apartamento. Esta uma zona só, já que minhas coisas ainda estão todas espalhadas pela casa, mas Samantha diz não se importar.
- Eu amei esse apartamento. Só acho que poderia ter uma banheira.
- Se você quiser, posso mandar colocar uma.
- Serio?
- Serio. Faço tudo por você minha flor de lótus. - O que não é verdade, penso comigo. Mas se quero ter ela ao lado, tenho que mentir. - Você gostaria de passar a semana aqui? - Não gosto de dormir sozinha.

- Se eu gostaria? - Pergunta ela.
- É. - Digo.
- Eu amaria.

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