Cap. 11

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Samantha

Ficamos deitados na cama durante muito tempo, jogando conversa fora. Tobias manteve o assunto da Rebeca o mais distante possível. Ele contou da sua primeira namorada, aos quinze anos, antes de se assumir. Do seu primeiro namorado aos dezessete, quando perdeu a virgindade aos dezesseis, com uma menina, ele disse que foi bom, mas que prefere com homens. Contou também de uma vez aos vinte um, quando foi a festa de um amigo, ficou super bêbado e participou de uma suruba, disse que não se lembra de muitas partes, lembra de um cara que o estava comendo por trás (bem, não tem como comer ele pela frente, isso é lógico - pensei), que outra estava chupando seu pênis, mas que não se lembra da sensação, e que queria poder esquecer aquilo, pois não gosta desse tipo de coisa.
Estou deitada com a cabeça sobre seu peito, ele está dormindo a algum tempo, o silêncio da noite e a escuridão tomam conta do ambiente, minha mente começa a se recordar de quando eu era criança e, minha mãe ficava deitada comigo, lia uma história, eu me sentia amada e protegida, como eu estava me sentindo agora.
Comecei a lembrar de quando conheci o Tobias, foi sem esperar, nunca imaginaria que conheceria meu melhor amigo em um bar. Lembrei de Della, ela foi por muito tempo minha única amiga, seu jeito de criticar, não me agradava nem um pouco. Tudo que eu fazia Della arrumava um jeito de achar o lado negativo, falar o quanto aquilo era errado, o quanto era infantil, ridícula... nunca gostei disso, mas aturava de alguma maneira, talvez medo da solidão. Tobias faz muito mais por mim, do que Della fez em anos. Afogo mais um pouco no peito do Tobias, e agradeço por te-lo conhecido, por te-lo comigo agora.
Ele é gay, mas minha mãe não sabe, por que ela não disse nada sobre ele dormir comigo? Se fosse outra mae, com certeza teria enchido o saco. Agradeço também pela família que tenho.

Meu despertador toca, tento abrir os olhos para desliga-lo, mas antes que consiga, ele já havia parado de tocar. Meus olhos se abrem, vejo Tobias, com uma toalha enrolada na cintura, tem algumas gotas de água escorrendo pela sua barriga sarada, só então, percebo que nunca o tinha visto sem blusa. Seu cabelo está molhando, caindo sobre a testa, sua barba loira nem parece estar ali, de tão clara.
- Bom dia minha flor do deserto. - me espreguiço, ainda deitada. - Dormiu bem? Ou te atrapalhei muito?
- Dormi muito bem, nem me lembrava que você está aqui... - Sorrio. - De uma forma boa. - Tobias retribui o sorriso. - E você, te atrapalhei?
- Você não atrapalha, mesmo se estivesse atrapalhando.
- Vou tomar banho, fique a vontade.
- Vou te levar para tomar café em uma padaria. - Diz Tobias, todo empolgado.
Deixo a água escorrer pelo meu corpo, percebo que estou feliz, mesmo depois de tudo que Rebeca fez, que tive um sonho, ao qual no consigo me lembrar, no entanto sei que foi bom. Quando saio do banheiro, meus dedos estão enrugados. Entro no quarto cantarolado bem baixinho the only one, não vejo Tobias em lugar algum no quarto, encosto a porta, desenrolando a toalha lentamente. Ando até o guarda-roupas pelada, quando abro uma das portas, a porta do quarto se abre, levo um susto, tampando os seios e a vagina com as mãos. Minhas bochechas ficam vermelhas, estou morrendo de vergonha. Solto um grito. Não consigo me mexer.
- Aí meu Deus. - Grita Tobias, cobrindo os olhos e ficando de costas. - Desculpa, desculpa, desculpa... - Quando finalmente me destravo, ando até onde coloquei a tolha, cobrindo-me novamente.
- Ei, relaxa. Você é gay. - Tento amenizar a situação.
- Eu devia ter batido. Desculpa. Sério. Não foi com más intenções.
- Eu sei que não foi. Até por que não existe intenção alguma. - O que não era mentira. E ele sorri.

***
Cheguei no colégio atrasada, tive que ficar na sala de espera, que estava quase transbordando de pessoas, Della está sentada olhando em minha direção, não para de me olhar desde que cheguei.
- Oi Della. - Digo a distância mesmo, e balanço a mão. Ela revira os olhos, faz cara de nojo e vira-se para outra direção.
Mesmo com todo burburinho da sala, consegui escutar "ela deve estar a fim de mim, só pode. Meio que me persegue." uma de suas amigas responde "cuidado, ela tentar te atacar, como naquele dia em sua casa, na festa do pijama". Eu não ouvi isso, desde quando eu tente alguma coisa com Della? Nunca nem encostei nela direito.
Rastejo-me até elas, que ficam surpresas, acho que não esperavam que eu fosse até la.
- Bom, eu nunca tentei nada com você Della, e aquele dia na sua casa, nunca aconteceu nada, você tem que parar de inventar coisas para as pessoas gostarem de você, seja melhor que isso, deixe elas gostarem de você, pelo que você é. - Ela engole em seco. - E outra, não é só porque uma pessoa é bi, que ela vai querer ficar com você, você não é o centro do mundo, você não é uma beleza única. Enfim, nunca quis ficar com você, e posso afirmar, que nunca irei querer.
Viro-me rapidamente, não podendo observar sua expressão facial, mas pelo que conheço, peguei bem na feriada dela, e isso machucou muito.
Não demora muito tempo e o sinal toca. Ando rumo a sala, com a cabeça baixa, procuro algo em minha bolsa. Acabo trombando com alguém, começo a pedir desculpa e levanto os olhos, quando vejo que é Rebeca, assusto-me e perco a voz, a cor também. Ela pisca para mim, e some pelo corredor.
Meu coração está disparado, como ela conseguiu fingir que nada tinha acontecido? Como pode ter piscado para mim? Agora o corredor já está cheio de pessoas trombando em mim, é como se eu fosse apenas um lixo no chão, no qual ninguém quer pegar para jogar fora.
Alguém toca em minhas costas, achei que fosse ser só mais alguém se esbarrando, mas as mãos continuam em mim. Viro-me lentamente. Vejo uma garota de cabelos ruivos, pele clara, e olhos verdes, se ela tivesse cabelo branco seria a neve em pessoa. Lembro de já te-lá visto perambulando pelo colégio, sempre sozinha, com um livro nas mãos.
- Você está bem? - Sua voz é baixa e aveludada. Faço que sim com a cabeça.
- Não sei. - Digo em seguida. Ela passa os braços sobre minha cintura, dando um abraço bem apertado. Esse simples gesto, alivia-me. Só então percebo que lágrimas escorem pelo meu rosto.
- Quer conversar sobre o que aconteceu? - Não sei o que quero fazer. - Conversar pode ser bom. - Ela pega minha mão, puxado-me para um lugar bem isolado do pátio, onde ninguém nos encontraria. - Se não quiser, não precisa falar nada, eu até entenderia, você não me conhece. - Ela sorri. - Mas o que não poderia acontecer e você assistir aula nesse estado.
- Como se chama?
- Lauren. E você é a Samantha, correto?
- Sim. Mas... mas como sabes meu nome?
- Já ouvir falar sobre você. E se eu fosse você, tomaria cuidado com a Della, ela está te difamando por uma coisa ridícula. Sua opção sexual.
- Ouvi ela falando mal de mim hoje.
- Por isso está mal?
- Não só, eu consigo lidar bem com isso. Mas foi a pessoa inútil de quem estou gostando. - E antes que eu pudesse perceber, já tinha contando toda história para Lauren.
- Relaxa. Não vou contar para ninguém. Pode confiar em mim.
- Pode da muita merda pra ela, se alguém ficar sabendo. - Estou agindo como se tivesse me arrependido de ter contando, porém não é isso, só estou me certificando de que nada vai acontecer.
Lauren sorri, dando outro forte abraço em mim, pude sentir pelo calor de seus braços, que ela nada falaria.
- Vamos o sinal está quase tocando.
***
O resto das aulas passaram tranqüilamente, prestei atenção em toda, fiz anotações e marquei o que achei mais importante.
Quando a aula finalmente terminou, passei no banheiro, ajeitei o cabelo, e só então fui para o estacionamento. Para minha surpresa, encontro Tobias, com óculos escuro, encostado em seu carro. Sorrindo para mim.
- Quer almoçar em um restaurante, ou prefere que eu almoce em sua casa?
- Minha casa, que tal jantarmos fora? Já que vamos sair para fazer uma comprinha.
- Bem pensado. - Ele bem abraça, dando um leve beijo na minha testa.

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