Capítulo 6 - Descoberto

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Para todos aqueles que apoiaram e incentivaram a minha leitura e amor por esse vasto e incrível universo dos livros.   



As mãos do guarda tremiam. Dava para ver que ele, claramente, estava inseguro quanto ao que fazer com uma criança. O dedo quase pressionando o gatilho do revólver.

— Parado aí, garoto! — gritou o policial no inicio do corredor.

Finalmente, Wander percebeu-o com um sobressalto.

— Espere, não atire! Por favor! E-eu só queria ver o meu pai. Eu juro que não vou contar para ninguém. — gaguejou Wander.

— Eu não quero saber. — o guarda tentou parecer durão.

— Mas...

Antes que Wander terminasse a sua frase, o homem perto da grade apertou o gatilho. O que se seguiu passou tão rápido, que Wander nem conseguiu ver: Involuntariamente, o garoto invocou o golem. E numa fração de uma fração de uma fração de segundo, seu golem apareceu numa chama. O ser do fogo surgiu de uma lavareda vermelha vinda de só-Deus-sabe-onde. O grande ser apareceu bem em cima da hora, a tempo de proteger o amo.

A bala fatal atingiu o golem de Wander e se alojou em sua barriga. Wander observou, através das chamas que constituíam a sua alma, a bala queimar até o pó e a expressão de horror bruxuleante do guarda.

O policial estava boquiaberto e paralisado. Quando ele se recuperou, resfolegou, enchendo os pulmões de ar para gritar o mais alto possível. Mas, quando Wander percebeu, deu a seguinte ordem mental a seu golem: "Esguicho de fogo!".

Sem hesitar, o golem levantou o braço direito e, com a mão, mirou no guarda. Foi quando um raio constituído de fogo saiu da palma de sua mão em direção ao policial. A chama empurrou o homem para trás, prensando-o contra a grade, e ele soltou um grito roco, que nem o prisioneiro mais próximo ouviu.

Em instantes, o carcereiro já estava preto como um carvão e imóvel como uma estátua. Ele morrera. O golem de fogo cessou o ataque e o cadáver caiu no chão. Neste ponto, lagrimas silenciosas de remorso escorriam pelas bochechas de Wander.

O garoto, então, se virou para o pai e disse:

— Vou te tirar daí. Se abaixe.

E Neil sem reação.

Wander ordenou mentalmente que sua alma usasse o esguicho de fogo de novo, e ela o fez. O golem mirou no vidro da cela de Nei e atirou. Quando cessou, Wander percebeu que a única mudança era o vapor, que agora subia do vidro.

— N-não adianta, filho. É indestrutível. Só saio daqui se a cela for aberta. — falou o pai ao se recuperar.

Wander, que não queria que seu assassinato fosse em vão, cerrou os punhos, decidido. Olhou para a grade, e depois para o pai de volta.

— Eu vou te soltar daí.

E saiu correndo com o golem na sua cola. Destrancou a grade e a abriu. Saiu de lá correndo, deixada a saída aberta para que os prisioneiros saíssem mais tarde. A primeira grade só estava fechada, não trancada, então foi só passar.

— Ei, o que... — disse o recepcionista quando o garoto passou por ele.

Mentalmente, Wander ordenou que seu golem lhe atacasse com uma esfera crepitante. O golem criou uma bola de fogo na mão e jogou contra o moço escandaloso detrás do balcão.

Os dois continuaram correndo até o outro corredor e viraram. Wander deu de cara com uma multidão de alunos e deu seu máximo para passar pelos garotos alarmado rapidamente enquanto seu golem cuidava dos dois policiais na retaguarda do grupo.

Alguns garotos gritavam e chamaram a atenção do guia, que sacou seu revólver ao ver o rebuliço. Antes mesmo de identificar o autor da confusão e nem mesmo o golem, o ser flamejante atirou uma esfera crepitante contra o peito de Mário, que caiu no chão aos espasmos.

A confusão cresceu e os alunos começaram a correr de um lado para o outro. O estardalhaço chamou a atenção de um guarda, que saiu da ultima sala do corredor assustado com a gritaria. Wander raciocinou rápido e, antes que o homem descobrisse o motivo da correria e gritaria, ordenou mentalmente um esguicho de lava nele.

O golem obedeceu e atirou um gêiser de magma contra o vigia, que caiu e começou a urrar de dor enquanto era queimado pela poça de lava que era espirrada a sua volta.

Wander julgou que aquele cômodo de onde ele saíra fosse a sala de controle. Correu até lá, saltou a poça de lava no chão e caiu dentro da sala. Fechou a porta atrás de si e mandou mentalmente que seu golem ficasse de vigia.

A sala era toda high-tech. Várias telas pela parede, cada uma mostrando uma cela. Wander correu os olhos por elas até achar a cela de Neil. O garoto se demorou um pouco observando o pai, andando para lá e para cá numa linha reta imaginaria. Seu choro silencioso voltou à tona. O que ele faria depois de resgatar o pai? O que fariam com ele e sua família se os pegassem? Sua irmã ficaria sabendo disso? Iriam a avisar? Eram tantas as perguntas de Wander.

O garoto engoliu em seco, quase arrependido pelo que fez. Quase, não totalmente.

Ele voltou a si e olhou para o painel de controles, uma mesa gigante de metal, cheia de botões, alavancas, chaves e outros aparatos. Havia até um radar ali, para quê? Algumas luzes piscavam, outras brilhavam incessantemente, e algumas outras ainda, estavam desligadas.

O garoto suspirou. Como conseguiria abrir a cela dos inocentes bipolares, coitados?

O jeito seria tentar de tudo. Ele resolveu sair apertando, girando, trocando e "alavanqueando" tudo ali, da esquerda para a direita. Apertou o primeiro botão e olhou para as telas das celas dos bipolares. Nada. Quer dizer, não "nada", e, sim, resultado ineficiente, pois o botão fez algo, ele acionou o alarme de um banco.

Naquele banco, imagine como as pessoas ficaram desesperadas à toa?

Wander apertou e girou mais uma série de botões e nada. Quer dizer, resultado ineficiente, pois ele até acionou o alarme de furacões das cidades próximas! O alarme devia ter soado por toda a cidade, Wander também ouviu de dentro da sala de controle.

Ele virou várias alavancas. Resultados ineficazes. Outros alarmes de diversos comércios soados. Pedidos de reforços militares e médicos enviados, mas nada de as celas se abrirem.

— Ah, mas que merda! — explodiu Wander.

Ele parou, respirou fundo, tentando se acalmar, e pensou em como abrir as celas. Ele olhou o cômodo de cabo à rabo, foi quando teve uma ideia. Talvez não desse certo, mas não custava tentar. Wander tinha um gênio forte por dentro, que quase conhecia. Poucas pessoas sabiam que seu golem era de fogo, pois ele mantinha sua impaciência bem escondida. Mas agora ela havia acabado total e inteiramente.

O garoto caminhou até o canto da sala, em direção a uma tomada bem grande. Agachou, segurou o grosso cabo com as duas mãos e, com força, o puxou. A tomada se desplugou tão abruptamente, que houve uma explosão de eletricidade. Você já deve ter sofrido alguma. Um mini-choque quando você vai mexer com cabos elétricos. Pois é, horrível. Imagine um cabo com centenas de volts a mais?

A explosão de energia queimou os braços de Wander com queimaduras de segundo grau e o jogou contra a parede. Antes mesmo do baque, Wander já havia desmaiado com o choque. E do lado de fora, seu golem desapareceu.

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Alma de Golem (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora