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Era impossível tirar aquilo da cabeça! Wander andava, indo em direção ao tal eletricista capaz de lhe tirar a algema anti-golem. Ele vinha de sua casa. Ela estava toda bagunçada, e o garoto não quis ficar muito tempo lá. Em cima da mesa, na cozinha, ele achara uma carta recém-aberta de sua irmã Tânia.
"Queridos Wander e Mamãe,
Por favor, me respondam! Tem alguma coisa acontecendo por aí com vocês? Vocês me prometeram escrever sempre, mas só eu estou cumprindo essa promessa. Por que não atendem as minhas ligações? Nem respondem minhas mensagens? Ou me enviam cartas? Estou muito preocupada, ainda mais agora.
Eles nos informaram que a nossa cidade está sendo isolada, mas por quê? Essa é a última carta que me deixaram enviar, para me despedir de vocês. Mas, sabe, eu ainda tenho esperanças de que, o que quer que esteja havendo, vai melhorar a tempo de eu ir para aí estas férias. Se as coisas não se consertarem, nós nunca mais poderemos nos ver!
Pelo amor de Deus, arranjem uma forma de entrar em contato, só pra eu saber que os dois passam bem. Mandem notícias, por favor.
Com amor e preocupação,
Tânia"
Era isso que estava escrito na última carta enviada pela irmã de Wander. O último contato que ambos tiveram. Pelo menos, ela não havia sido atacada e morta pelo governo como houve com Jessica.
Wander sentiu um aperto no coração... Ele queria avisar a irmã de tudo oque estava acontecendo ali. A coitada sequer sabia que agora era órfã de mãe. E isso era cruel demais.
Ele apertou mais aquele pedaço de papel em suas mãos. Quando percebeu, já havia chegado ao local informado. Entrou naquela casa acabada, hesitando. Seria mesmo uma boa ideia libertar o seu golem? E se ele se descontrolasse novamente e matasse mais alguém?
— Com licença, tem alguém aí? — perguntou Wander, da porta.
— Sim, sim! Aqui na cozinha meu jovem, a primeira porta à esquerda. — respondeu uma voz meio rouca.
Wander seguiu até onde lhe fora ordenado. O lugar que deveria uma vez ter sido uma cozinha agora estava um caos. Aparelhos eletrônicos jogados para todos os lados. Caixas e mais caixas empilhadas aos cantos. Um embaralho de fios no chão. Ao fundo do cômodo, atrás de uma mesa cheia de entulhos, estava um senhor de idade trabalhando em alguma coisa.
— Er... Olá! Eu sou Wander, Mathias me mandou aqui para que você tirasse isso de mim. — falou o garoto, apontando para a sua pulseira nada confortável.
— Ah! Sim, sim! Venha cá, venha.
Com um pouco de hesitação, Wander se aproximou do velho e estendeu os braços. O outro vasculhou as coisas na mesa até achar uma ferramenta semelhante a uma chave de fenda e outra como um cartão de memória circular. Com alguns simples toques, o braço direito já estava liberto, a algema se abrira sozinha e caiu no chão. O mesmo houve com a anti-golem do lado direito.
— Voilá! Prontinho! Agora, o que acha de "desenferrujar" seu golem, hã?
Wander ponderou por um momento, mas resolveu aceitar a proposta. Fechou os olhos, se concentrou, e invocou sua alma.
— Como vou dizer isso? — murmurou o velho — Acho melhor ver por conta própria. Abra os olhos.
Wander o fez, mas tomou um susto ao realizar tal ato. Tudo aquilo que aconteceu com ele havia provocado isso. Ele já deveria esperar por aquilo, toda a insegurança, as hesitações frequentes... O ser que fora invocado por Wander não era mais do tipo fogo, mas sim um golem de terra!
— Isso... Isso não está certo! Minha alma é do tipo fogo, e não terra! — Wander começava a tremer.
— Garoto, isso, na verdade é bem comum. Os golens podem acabar mudando conforme a personalidade da pessoa. Quando alguém passa por uma situação de sufoco, toma trauma de algo, é de se esperar que isso ocorra. Mas, acho melhor falar disso com Mathias. — o velho apertou o ouvido com o dedo indicador e revirou seu olhar para o teto — Alô, Mathias? Não, é que... Você pode dar uma passada aqui, aproveitando que está por perto, tenho algo importante para te mostrar... Sim, sim. E é justamente sobre ele o assunto... Okay, te esperamos aqui. — ele soltou o ouvido — O Mathias já vem.
Wander se escorou numa parede e os dois esperaram em silêncio até que o chefe da rebelião aparecesse, oque não demorou muito. Cerca de quinze minutos apenas.
— Muito bem, o que está havendo aqui?
Como resposta, tanto o velho quanto Wander apontaram para o novo golem do garoto, que estava num canto da sala. Mathias pareceu sem reação por um tempo, mas suspirou e disse:
— Nós temos um problema... Wander, infelizmente nós não podemos ter um garoto propaganda de golem de terra. Eles poderiam encarar isso como uma fraqueza nossa. Me desculpe, mas você não pode ser o nosso garoto propaganda.
— Ei, espera aí! Eu nunca aceitei fazer isso! Mesmo com o golem de fogo eu recusei! — Wander tinha uma certo tom de irritação na voz.
— Pelo que vejo, é muito provável que essa seja uma mudança temporária. Você ainda tem um gênio forte, só não se recuperou totalmente daquilo! Isso perfeito! Assim, não precisamos encontrar outro representante, basta esperar! — declarou Mathias, sorridente.
— Não! Eu já disse!
— Se acalme, Wander. Até lá, tenho certeza de que terá mudado de opinião.
— Argh!!! Quer saber, eu vou andar um pouco. Tchau.
Wander então fez seu golem desaparecer e foi a caminho da porta. Nenhum dos dois tentou o impedir. Ao cruzar a porta da frente, ele teve uma surpresa ainda maior que a anterior: Nos céus, ao longe, vinham naves! Mas não naves como as que os políticos usaram para fugir, e sim outras com estampas militares. E para seu desespero, vinham em alta velocidade.
— Pessoal! — gritou, e em instantes, tanto Mathias quanto o velho saíram.
— Essa não... — comentou Mathias — Wander, corra até o prédio em que estamos alojados e avise a todos para ir ao abrigo subterrâneo! Eu e o Márcio vamos ao dormitório dos soldados rebeldes nos preparar para a guerra. Rápido!
Sem hesitar dessa vez, Wander saiu correndo pelas ruas em direção ao local onde os não soldados estavam alojados. Ele correu o mais rápido que pôde e logo chegou. Ignorou as perguntas de quem estava no pátio e pulou para trás do balcão. Pegou um microfone e o ligou.
— Pessoal! Todo mundo! Temos que recuar para o abrigo subterrâneo no centro da cidade! Estamos sob ataque!!! Repito; recuem para o abrigo subterrâneo o mais rápido possível! Agora! — a voz de Wander ecoou por todos os andares graças aos autofalantes espalhados pelo prédio.
Enquanto uma multidão de pessoas corriam para as saídas e desciam as escadas, Wander ficou quieto atrás do balcão, esperando por Marah. Não demorou muito para que ela aparecesse, e logo atrás dela, vinha mais um companheiro. Rennon!
— Wander, há quanto tempo, cara!
— Foi mal aí, mas estamos sem tempo para reencontros. Me sigam, vocês dois!
Wander foi abrindo caminho entre as pessoas e Rennon e Marah foram o seguindo. Lá fora, Wander pôde ver. Não daria tempo! As naves já estavam pousando, e justo no caminho até o abrigo! Pelo visto, eles teriam que lutar!
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Alma de Golem (completo)
Science FictionUm garoto comum numa distopia, o que poderia dar errado? Wander, um adolescente dezesseis anos, está prestes a ter sua vida virada de cabeça para baixo graças a um tour de colégio pela cadeia local. Nesse mundo onde ele vive, as almas são encarnada...