Capítulo 19 - Rumo à Fazenda

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Para todos aqueles que apoiaram e incentivaram a minha leitura e amor por esse vasto e incrível universo dos livros    










Wander se afastava de seu pai, Neil, que tentava dormir. Caminhava pelos túneis de esgoto tentando se lembrar do caminho até o ponto de ônibus mais próximo. Teria de tomar muito cuidado para não ser reconhecido e pego pelas autoridades, que provavelmente ainda vagavam a sua procura na superfície. O garoto seguiu sua bússola interna através das ruas acima até chegar em um bueiro onde — acreditava Wander — daria a alguns metros de um ponto de ônibus e uma mercearia do outro lado da rua.

Wander suspirou e observou a escada de metal fixada à parede do túnel subterrâneo, por onde subiria. Estendeu a mão e tocou um dos degraus gélidos. Uma calafrio percorreu sua espinha, lembrando-o do açoitamento ao qual fora submetido a menos de uma semana. Não queria nem pensar no que fariam caso ele fosse pego. De acordo com seu pai, ele não era mais necessário. Já fora a cobaia dos testes para criar uma espécie de gás anti-golem, e agora era descartável.

— Primeiro o mais importante. Pego o mapa, e depois, se tudo der certo, roubo alguns suprimentos.

Respirou fundo mais uma vez e começou a subir. Degrau a degrau. No bueiro havia um eixo para trancá-lo. Wander destravou-a e levantou ligeiramente a tampa, o suficiente para espiar lá fora. O esgoto dava num beco vazio. Wander subiu enfim e memorizou o lugar para depois ser capaz de voltar.

Esguiou-se até a esquina entre o beco e uma avenida. Com o canto de olhou para o ponto de ônibus, que se erguia vazio e acabado sobre a calçada, logo em frente a uma marcação de estacionamento para ônibus em tinta amarela. Wander olhou rapidamente para o outro lado, também vazio, e correu velozmente até a cúpula envolvendo o banco de espera. Arrancou depressa o mapa de papel de alta gramatura das tachinhas que o prendiam à parede; enrolou-o, dobrou em dois e enfiou no bolso da calça.

— Uff, o primeiro já foi. — o garoto olhou novamente para os dois lados da rua, ainda vazia, e se virou para a mercearia — Que minha alma ilumine o caminho...

Respirou fundo e atravessou a avenida correndo até a calçada oposta. Se esgueirou do lado da porta de entrada aberta da lojinha. Espiou lá dentro.

O dono do estabelecimento estava distraído atrás do balcão, checando as finanças. Enquanto o velho espremia os olhos atrás dos óculos fundo-de-garrafa, contando vagarosamente as notas de cem de sua caixa registradora, Wander içou pela escada que levava à entrada e entrou, gatuno, no mini-box. O adolescente escondeu-se atrás de uma prateleira de barras de cereal, docinhos e salgadinhos. Estufou seus bolsos o mais silenciosamente que conseguiu e prendeu mais alguns pacotes de salgadinhos dentro de sua calça. Olhou de novo para o senhor atrás do balcão, que ainda se mantinha distraído, e disparou para a saída.

A rua lá fora continuava vazia e ele correu de volta para o beco, com dificuldade devido à carga. Levantou a pesada tampa de bueiro, prendeu-se à escada dos túneis de esgoto e recolocou a tampa, fechou o fecho e terminou de descer. Caiu no chão, cansado e ofegante. Suas costas ardiam.

Em alguns minutos ele já estava de volta ao abrigo onde vivia atualmente. Colocou os itens que roubara na mochila, estufando-a ainda mais que no dia em que chegara. Depois, balançou levemente o ombro de seu pai. Sonolento, ele acordou e abriu os olhos.

Alma de Golem (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora