Para todos aqueles que apoiaram e incentivaram a minha leitura e amor por esse vasto e incrível universo dos livros
Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. A sua televisão desligada. A força de vontade acabada. Estava dominado pela tristeza. O Sol se punha do lado de fora. Wander havia perdido um amigo querido há poucas horas. E nem pudera se despedir...
Desde o momento em que recebera a notícia, ele não parara de chorar. Enfim, o Sol se escondeu por completo, deixando a Wander na penumbra da escuridão. Ele tirou o rosto do travesseiro e enxugou as lágrimas. Respirou fundo. Ele precisava de ar puro. Por mais que já passassem das dezoito horas, o horário do toque de recolher, ele teria que sair e ir para rua.
Correria os riscos, precisava daquilo. Se levantou do macio sofá e caminhou até a porta. Tentou girar a maçaneta, mas ela não se moveu nem um milímetro. A porta estava trancada, era automático. Tentou abrir, ao menos, uma janela, mas todas estavam igualmente fechadas.
Não vendo saída, foi até a cozinha, preparou um sanduiche e o comeu sem pressa alguma. Ao terminar, se arrastou até o quarto, se deitou e foi dormir. O cansaço era grande e ele apagou assim que os gélidos lençóis roçaram sua pele.
No dia seguinte foi acordado de novo pelos autofalantes, provavelmente espalhados por todo o condomínio. E não havia botão soneca... Com uma força de vontade ainda menor que a da manhã anterior, ele se levantou, banhou-se e trocou as ataduras das pernas. Se vestiu com a camiseta do uniforme e uma bermuda batendo nos joelhos. Pegou uma maçã na geladeira e saiu do apartamento, comendo-a.
Desceu as escadas e começou a caminhar pela calçada. Para a sua surpresa, sentada no meio fio o esperando estava Helena, em frente ao alojamento aonde se hospedara. Sua atenção desceu para a perna esquerda de Wander. Percebera o curativo a envolvendo.
Ela se levantou de supetão. Faltava-lhe o ar.
— Wander! O que aconteceu com a sua perna?! Você está bem?
Então os olhos dela subiram ao rosto do garoto, e pareceu que sua pergunta estava respondida.
— Atiraram em mim durante a chegada dos soldados. Nada demais. Já estou melhor. Meu espírito está muito pior que meu corpo...
— O que... Aconteceu?
Wander suspirou, procurando pela melhor forma de lhe dar a notícia. Ela provavelmente nunca sequer ouvira falar de Alex.
— Você ficou sabendo daquela notícia do grupo rebelde que tentou invadir o condomínio de ar? Um amigo meu estava junto com eles e... Bem, você já sabe. — Wander dessa vez não precisou lutar contra as lágrimas, elas não vieram. Oque veio em seu lugar foi um acesso de raiva.
— Eu não sabia... Meus pêsames.
— Obrigado — murmurou Wander em resposta.
Os dois continuaram o caminho rumo à escola, rumo ao tédio, ruma às vídeo-aulas. Eles permaneceram o caminho inteiro em silêncio, sem trocar uma palavra sequer. Nenhum dos dois estava no clima para conversar.
Quando viraram a esquina, se depararam com algo que os surpreendeu: Em frente ao prédio acabado recém nomeado como colégio do condomínio fogo havia uma aglomeração de pessoas formando um semicírculo ao redor da calçada. E não haviam apenas estudantes ali, pessoas totalmente aleatórias também faziam parte do tumulto. Curiosos que passavam por aquela rua e viram a fuzaca.
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Alma de Golem (completo)
Science FictionUm garoto comum numa distopia, o que poderia dar errado? Wander, um adolescente dezesseis anos, está prestes a ter sua vida virada de cabeça para baixo graças a um tour de colégio pela cadeia local. Nesse mundo onde ele vive, as almas são encarnada...