Capítulo 8 - A execução

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Para todos aqueles que apoiaram e incentivaram a minha leitura e amor por esse vasto e incrível universo dos livros










Wander sentia sua cabeça latejar. Ele estivera deitado sobre algo duro e frio, oque lhe causara um grande desconforto. O garoto tentava se lembrar do que havia acontecido. Ele abriu os olhos e se sentou. Estava em um apertado, abafado e escuro cômodo. As memórias lhe vieram aos poucos...

"Então está decidido. Leve-o de volta para a cela; nós cuidaremos da burocracia de sua execução", ele começou a se lembrar. Wander estava preso. E logo seria a sua execução.

Não aguentava mais, sua vida estava de cabeça para baixo. Tudo oque acontecera nas últimas horas; ou dias, ou semanas — ele perdera a noção de passagem de tempo graças aos seus inúmeros desmaios. Ele se permitiu chorar, só um pouco não faria mal, não seria um ato de maricas.

Porém Wander só estava tentando se enganar, e estava falhando miseravelmente. O garoto desandou a urrar, infeliz. Ninguém merecia aquilo que ele estava passando. As horas ou minutos que se passaram a seguir foram todas de angústia e sofrimento. Ele não fez nada além de desaguar em soluços.

Mas, em um momento, ele parou e enxugou as lágrimas, respirou fundo e aceitou seu destino.

Logo, a porta se abriu e entrou um homem forte que carregava na mão uma espécie de rádio. Mas, por incrível que parece, o homem estava tão abatido quanto Wander.

— Quem é você? — perguntou Wander, ainda com os olhos vermelhos.

O homem pareceu hesitar, mas acabou dizendo:

— Sua execução é em... dez minutos. — ao dizer isso, ele acabou engasgando.

— Quem é você?

Mais uma hesitação.

— Não... Me faça perguntas difíceis. — respondeu o homem, ele parecia estar se sufocando.

— Uma pergunta difícil? UMA PERGUNTA DIFÍCIL? Você acha que responder o seu nome é uma pergunta difícil?! Então experimente ficar no meu lugar! — a voz de Wander tremia. Ela oscilava entre seu tom de voz normal e um volume explosivo — Você não tem ideia do que eu estou passando, e tudo isso oque eu fiz foi tentar libertar o MEU pai! Um homem inocente, que nunca faria mal a uma mosca sequer e que estava preso! Minha alma foi reprimida e não pode mais voltar a sua forma física! Eu estou preso aqui nas piores condições possíveis e estou só esperando o momento da minha morte! A MINHA VIDA SE TORNOU UMA MERDA! E você me diz que a sua situação é difícil? Vá para o inferno!!!

Wander estava tremendo e voltara a lacrimejar. Ele estava começando a revelar o seu verdadeiro temperamento, alguém raivoso e explosivo. Tantos anos de esforço para não deixar aquilo transparecer jogados fora. Tudo foi para o lixo! As poucas pessoas que realmente sabiam de sua personalidade eram quem já vira o seu golem, pois os golens refletiam isso. Golens de fogo representavam usuários raivosos, golens de água mostravam-se sendo de pessoas inocentes, pouras. Os golens de ar representavam a calma, e eram os mais raros; e por ultimo, os golens de rocha, cujos donos são pessoas inseguras e medrosas.

Quando Wander olhou bem nos olhos do outro, percebeu não ser o único a estar chorando. O homem também lacrimejava.

— Por que você está chorando?!

— Eu... Sou contra isso. Sou contra o aprisionamento de bipolares, a execução de inocentes ou crianças, o maltrato aos outros... Eu não gosto nem um pouco do governo. Meu... Meu nome é Johnna, a propósito.

— Você... Então me ajude a escapar!

— O quê?!!! Você endoidou, garoto? Tem noção do que fariam comigo?

— Não adianta só odiar o sistema. Faça algo de útil na sua vida e lute pelo que acredita!

Ambos ficaram em silencio, até que, cabisbaixo, o soldado lhe respondeu:

— Me desculpe, eu não posso.

Wander ficou embasbacado com tamanha covardia de um homem já feito. Como aquilo era possível? O aparelho que o soldado segurava, então, começou a apitar.

— Está na hora. Só... pense que está indo para um lugar melhor, certo? — disse o guarda, fraquejando.

Johnna pegou o garoto pelo braço e começou a puxa-lo para fora da sala. Enquanto iam passando, Wander não mostrava nenhum sinal de resistência; ele já havia desistido de viver. Os dois desceram a escada e saíram do prédio.

Logo em frente à construção, no meio da rua, havia um palanque de madeira e um poste com uma corda, a forca. Ele foi forçado a subir e a corda foi colocada em seu pescoço. Wander se pôs em pé acima de uma escotilha e fechou os olhos.

— Queridos cidadãos, é com muito pesar que ordenei esta execução. — aquela voz era a do prefeito. "Aquele falso...", pensou Wander. O velho estava fazendo um discurso para a mídia — Fico muito entristecido ao saber que alguém tão jovem assim já está na vida do crime. Mas não se alarmem, nós faremos o possível para recapturar os bandidos libertos e nunca mais deixaremos que tal atrocidade aconteça de novo. Agora, sem mais delongas, podem... Executá-lo!

Mas, ao invés de sentir uma corda lhe sufocando, ele ouviu um grito seguido por vários outros. Wander abre os olhos para ver o que estava acontecendo. Ao olhar para trás, viu o musculoso carrasco caído na rua, morto e com uma queimadura no peito. Ele olhou em volta e viu um alvoroço. Pessoas tentando fugir e sendo atacadas, políticos e soldados sendo mortos e vários golens de diferentes espécies usando os seus poderes.

Sem perder tempo, Wander se libertou do calar de corda que o prendia e pulou do palanque. O garoto começou a correr na direção oposta àquela bagunça. Foi quando uma bola de fogo perdida quase o acertou. Assustado, olhou para trás e viu, nada mais nada menos do que um conhecido seu. Ou melhor, uma conhecida. Correndo em sua direção vinha Marah.

Com lagrimas escorrendo, Wander também foi na direção da namorada para um reconfortante abraço e um emotivo beijo.

— Wander, eu tive tanto medo por você... — disse Marah, chorando.

— Não deveria, meu amor. Eu... Eu te amo! Senti tanto medo também... Que bom que está bem.

— E por que eu não estaria? Foi você quem quase foi executado! — respondeu a namorada, se separando do abraço.

Os dois haviam até mesmo esquecido que a dez metros dali estava havendo uma chachina.

— E a minha... E a minha mãe?

Foi então que o sorriso de Marah se desfez, e ao perceber o que ela dizia, Wander voltou a chorar. O governo... Havia matado a sua mãe. E ele não deixaria isso barato!

Alma de Golem (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora