Capítulo 17 - Os Esgotos

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Para todos aqueles que apoiaram e incentivaram a minha leitura e amor por esse vasto e incrível universo dos livros







Wander tomou a rua a sua direita, a qual era a única livre. A essa altura, a morfina em seu corpo o impedia de se lembrar de suas costas, rajadas por ferimentos de um recente açoitamento, que voltara a sangrar com a queda. Ele ouvia os pés marchando aos montes, se aproximando dele. Até agora, nenhum dos soldados em seu encalço haviam tentado atirar.

O barulho só aumentava conforme corria, estavam se aproximando de forma mais veloz que Wander previra. Fechou a sua mão direita sobre seringa vazia e apertou o caco de vidro com a esquerda, quase cortando sua pele. Ele olhou de soslaio os guardas lá atrás e, virando levemente o tronco e sem parar de correr, atirou a seringa.

A arma amadora sumiu dentre a multidão e Wander ouviu uma exclamação de dor ao fundo. Wander olhou de novo para frente e virou uma esquina abruptamente. A sua frente, ao leste, o céu tomava uma coloração escarlate aos poucos, conforme o amanhecer se aproximava. O garoto ficaria estupefato em outra ocasião ao descobrir quanto tempo havia se passado, porém não tinha tempo agora.

Meteu a mão no bolso de novo, mas trouxe-a de volta assim que sentiu seu dedo sendo furado. Sacudiu a mão, numa tentativa falha de espantar a pontada de dor. Ignorou ao ouvir os passos ficarem mais velozes atrás de si. Agarrou outra seringa vazia e fez o mesmo procedimento. Porém, quando olhou para trás, viu um musculoso soldado a poucos metros e aproximando mais e mais. Jogou a seringa como se fosse um dardo, mas a mesma bateu no guarda de lado, e não com a agulha, e caiu no chão. Se virou de volta e tentou, inutilmente, acelerar, pois logo sentiu uma mão calejada cair sobre seu ombro e o puxar de volta.

Desesperado, pegou a seringa no outro bolso de sua calça. Apertou-a em seu punho e fincou no braço que o prendia com a maior força possível, apertando o êmbolo logo em seguida, jogando o veneno nas correntes sanguíneas daquele guarda. Com uma interjeição de dor, o soldado soltou Wander e caiu num baque seco imediatamente.

Sem tempo para respirar, retornou à corrida. Aquilo retardou os guardas. De soslaio, Wander olhou oque estava acontecendo; o soldado estava caído no meio da rua se contraindo em uma concussão. Um calafrio percorreu sua coluna vertebral e o seu suor se tornou gélido. Não demorou muito para que ouvisse os pés marchando novamente, seguindo-o.

Pegou a última seringa no fundo de seu bolso, virou seu tronco e atirou ela. Porém a seringa nem mesmo chegou ao soldados, que, graças a Deus, pensou Wander, estavam a metros de distância agora.

O Sol despontou alguns centímetros ao longe, junto ao alarme. Ele soou durante vários minutos seguidos, estourando os seus tímpanos. Cambaleou, sentindo-se cada vez mais fraco e virou outra esquina a esmo.

Sentiu algo apertar contra seu pulso e o puxar. O garoto estava fraco demais para resistir, suas pernas cederam e, antes que desse conta de quem o pegara, foi arrastado para dentro de algum lugar. Ouviu uma porta batendo violentamente e uma pessoa se inclinar sobre seu corpo caído com um ar de preocupação. Era apenas um garoto, e Wander sentia que já havia o visto antes.

O som dos soldados aumentou e se esvaiu na mesma velocidade. Um feixe de luz caiu sobre o rosto de Wander quando o outro abriu um pouco a porta para respirar.

Alma de Golem (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora