A mente humana é fascinante e bastante perigosa quando traumatizada. Esse é o caso de Aline, uma jovem com diversas tragédias do passado pronta para tentar seguir em frente.
Mudando para o município de Palmas, matando seus medos e se livrando de qu...
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Continuem ouvindo Sinfonia Brasil; o melhor do MPB!
Agora Marisa Monte.
— Mãe? — Eu caminhava até seu quarto devagar, podendo ouvir sua rádio predileta e um choro abafado.
Depois de sonhar tantos anos De fazer tantos planos De um futuro pra nós...
— Mamãe? — A cada passo um novo suspiro, uma nova lágrima, e alguns novos versos.
Depois de tantos desenganos Nós nos abandonamos como tantos casais...
Quando chego no quarto me deparo com a mulher abaixada cobrindo seu rosto com as mãos. Quando percebe minha presença, finalmente me encara permitindo ver as marcas vermelhas em seu rosto.
— Já falei para não me chamar assim, Aline.
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Eu conhecia aquela música. Em cima do balcão daquela singela loja de conveniência, um aparelho de rádio — semelhante ao que minha mãe tinha — tocava "depois" de Marisa Monte em sua estação predileta.
— Esta é a famosa Aline?
— Sim — Lucas sorri aberto para um homem que caminha em nossa direção — Prima este é Tito. Um amigo de muitos anos de meu pai e dono daqui.
— É um prazer conhece-la — Tito estende a mão e eu me apresso em aperta-la — É mais bonita do que ele me disse.
Abaixo a cabeça deixando meu cabelo cobrir parte de meu rosto e esconder minha timidez. Não estava acostumada com elogios.
Os homens começam uma conversa animada e eu me afasto aos poucos, não querendo parecer antipática, mas é como se eu não conseguisse ficar perto das pessoas por muito tempo. Como se existisse uma barreira entre mim e a sociedade.
Ando alguns corredores até avistar pela janela uma menina peculiar. Aparentava ter a minha idade, tinha pele morena e cabelos extremamente brancos, longos e encaracolados. Mas o que mais chamava atenção era sua deficiência. Ela era cega. Usava uma faixa branca tapando seus globos oculares para não mostrar as marcas horríveis que o destino deve ter as colocado. Suas vestes indicavam miséria e ela estava acompanhada de um cão que a ajudava a se guiar.
Aquela imagem me deixou paralisada por alguns segundos quando notei que ela parecia conversar com o cão. Ria e gesticulava como se ele pudesse lhe compreender.
— Aquela é Tereza — A voz de Tito me tira de meus próprios pensamentos — Desculpe-me, não quis assustar.
Fiz um gesto com a mão dizendo que não importava.
— Ela vem sempre aqui. Quem sabe não se tornam amigas? Venha, seu uniforme está na dispensa. Pode começar arrumando os produtos novos que chegaram.
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— Gostou do primeiro dia de trabalho? — Lucas me pergunta enquanto fazemos a janta. Estou tão concentrada no que estou a fazer que deixo escapar um "uhum" de meus lábios fechados.
— Você fala? — Achei que ele faria milhões de perguntas, mas me surpreendeu. Novamente — Ótimo. Prefiro que me responda assim. Não parece que estou falando com as paredes.
Abro um sorriso ainda maior e abaixo a cabeça em seguida. Talvez essa fosse a sensação de se ter uma família. Uma de verdade.
Toc toc toc.
Nos olhamos e Lucas rapidamente caminha em direção a porta murmurando um "quem será". Eu me apresso para pegar a faca de cima da bancada, segurando com força e a escondendo comigo atrás do pequeno muro.
Logo meu primo vem acompanhado de dois homens uniformizados.
— Senhorita Suaçuna? Queira nos acompanhar até a delegacia.
E tudo aconteceu mais uma vez como no dia 13 daquele ano. Perguntas, fotos... Queriam ter a certeza de que mamãe havia matado meu pai; e eu daria essa certeza a eles.
— Muito bem senhorita, você deu o mesmo depoimento de antes — O policial me avisa algo que eu já sei me fazendo conter um sorriso — Porém, você escreveu tudo.
— Ela não fala — Lucas intervém — Desde quando nos conhecemos, ainda crianças ela não falava.
— E você é...?
— Lucas Suaçuna. Primo da Aline.
— Bem Senhor Lucas, precisamos de um laudo médico comprovando isso. Ou terá que dar explicações para a polícia da razão por ter mentido.
— Achei que esse caso tinha sido encerrado.
— O nosso prefeito mandou ficarmos de olho nela. Só queremos garantir.
Lucas e eu saímos da delegacia depressa. Tudo que eu mais queria era distância deste lugar.
— Tudo bem. Vamos ao médico e provamos que você não fala desde seu...
Interrompo seu andar puxando forte seu braço e balançando a cabeça negativamente. Isto estava fora de cogitação.
— Por que não, Aline?
Só me limito a repetir o gesto.
— Você precisa. Ou será investigada.
Abaixo a cabeça. Preciso impedir que a polícia daqui se meta nesse caso.
— Do que tem tanto medo?
Levanto meu olhar para Lucas e um suspiro sai de meus lábios. Às vezes arriscar tudo o que temos é necessário.
Abro a boca lentamente e Lucas leva uma de suas mãos até meu rosto boquiaberto.
— O que fizeram com você?
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