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Olhei para Lucas perplexa. É assim que ele acha que vou me sentir em casa? Trazendo um médico até mim?

— Olha, se não quiser conversar eu vou entender — João diz abaixando a mão depois de perceber que não vou cumprimenta-lo.

Meu olhar não sai de meu primo, que logo pede licença a todos e vamos os dois para o quarto dele.

— F-ficou...Lo..co?

A fúria contida no meu tom de voz fazia parecer que eu realmente tinha emoções. Mas eu só estava surpresa mesmo.

— Desculpa. Eu achei que seria uma boa ideia. Ele é psicólogo e Nicole disse que é muito bom e.... — Suas mãos puxavam os cabelos demonstrando nervosismo — Eu sei lá.

Reviro os olhos. Lucas podia ter ferrado com tudo. Se João for tão bom quanto Nicole diz, logo saberá que eu matei meu pai e não demorará muito para a mulher loira da praça começar a me fazer perguntas.

Entrego um papel para Lucas e ele passa os olhos rapidamente.

— O que significa isso? — Diz assustado.

Eu sento em sua cama e ele apenas me acompanha com o olhar.

— Aline... Estão investigando você de novo? — Confirmo com a cabeça.

— Moça...Nova. Quer...Me pende..der..sabe...cadeia.

Minhas mãos apertavam a cabeça, tentando fazer as pontadas na minha língua passar.

Lucas se aproxima preocupado.

— Abre a boca.

Eu o observo enquanto abaixo as mãos relutante.

— Anda. Abre logo.

Ele logo me examina como se realmente entendesse alguma coisa de medicina.

— Está bem feio. Precisamos chamar Nicole.

Assim que ele levanta eu o puxo para perto.

— Não...Por..Não

Ele engole seco e observa minhas mãos o segurando firme. Suspira algumas vezes e resolve por fim se sentar ao meu lado.

— Aline... Isso tudo é novo para mim – Confessa e posso ver seus olhos brilharem — Eu quero que fique bem. Se sinta em casa. Numa de verdade. Nada perto de qualquer coisa que você tenha vivido com Bianca e Vagner. Mas não vou te ajudar se não me deixar fazer isso.

Ele para alguns segundos para respirar.

— Não quis ir ao fonoaudiólogo, não quer falar com um psicólogo, não quer contar a verdade para a polícia... Eu não sei o que fazer. Não sei o que quer que eu faça.

Ele confessa deixando uma lágrima cair e eu rapidamente a seco. Deito no ombro de Lucas pensando no que eu quero. Talvez, nem eu sei.

Queria descobrir se tenho algum problema, mas agora que Lucas traz um profissional eu me afasto. Quero conversar com as pessoas mas quando falam comigo eu me calo. Quero morrer, mas o que em mim já não está morto?

Lucas deposita um beijo no topo da minha cabeça como se pudesse ouvir meus pensamentos.

— Vamos dar um jeito. Juntos.

Imediatamente Nicole abre a porta e vê aquela cena com tanto ódio que poderia jurar que iria me atacar, mas tudo o que faz é engolir seco. O índio se levanta e eu seguro um sorriso. Ponto meu, e eu nem tentei fazer nada.

— Lucas — Pronuncia com a mandíbula trancada — João quer ir embora.

— Certo... — Ele me olha — Vou me despedir dele e já volto, tudo bem?

Os Corpos de Palmas IOnde histórias criam vida. Descubra agora