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O dia amanheceu lindo, como se o sol estivesse feliz e todas as aves estivessem celebrando um novo tempo, ou talvez fosse só eu e minha mania de acreditar que um dia algo vai dar certo. Patético!

Me levanto da cama seguindo para a cozinha onde encontro o índio seminu como de costume, mas hoje ele dançava ao som de Rouge o seu clássico "Ragatanga". Eu paro na porta sorrindo analisando o molejo do moreno e sua voz mesmo que desafinada, divertida embalando o ambiente. Por que não tive momentos assim com meus pais?

- Aserehe RA de re. De hebe tu de hebere seibiunouba. Mahabi an de bugui an de buididipi.

Cantou alto fazendo uma dança estranha e eu não segurei a gargalhada, o assustando em seguida.

- Hey moça – Seu sorriso ainda era contagiante – O que foi? Todo mundo já dançou essa.

A minha risada agora se fazia mais presente que a música. É lógico que eu já havia escutado essa banda e até mesmo esse som, mas primeiro pensei que só meninas escutassem, o que foi bem preconceituoso de minha parte, e segundo... Aquela dança era ridícula e não, jamais vi alguém dançando assim.

Ainda rindo demais, vejo meu primo largar o preparo do café da manhã e se aproximar.

- Vem, eu vou te ensinar – Ele fica ao meu lado – Primeiro este braço, assim... Agora o mesmo com o outro...

Eu prestava atenção em tudo rindo um pouco menos e tentando fazer igual.

- Agora joga o polegar para um lado, e repete com o outro.

- A-aim?

- Isso. Desse jeito.

Depois de alguns minutos, eu e o índio já estávamos em sincronia e cantávamos juntos, rebolando quase como a lacraia fazia em "Éguinha Pocotó".

- ASEREHE RA DE RE. DE HEBE...

Antes de continuar uma médica entra pela porta acompanhando nosso mico de perto.

- Ual. Que emocionante – Nicole diz sarcástica e Lucas vai cumprimenta-la.

Eu volto para o quarto, arrumo roupa, tomo banho e me visto. Só tem uma coisa em minha mente agora: minha mãe. Ela não é M.

Primeiro: óbvio demais.

Segundo: ela acabou de me mandar mensagem.

"Filha, sim faz um tempo que não nos falamos. Mas precisamos e rápido. Tem alguém atrás de mim, um tal de M. Me encontre agora atrás dessa merda de Bob's – Mamãe".

Muito estranho. A droga da mensagem está igual a como M conversa comigo.

"Ai que peninha. Mamãe tem medo de mim? Hihihi – M".

Imediatamente recebo mais uma mensagem. O celular é de Lucas e assim que leio as duas, o aparelho trava automaticamente e não consigo mais liga-lo. Inferno! M quer jogar.

Jogo a porcaria longe no quintal e saio de casa. Nicole veio só para ver o estado de minha língua, mas francamente tenho coisas mais urgentes do que o falso interesse da minha... meia irmã. Eca. Me dá náuseas só de imaginar.

Passo por Cecília e mal nos encaramos. Amizades só depois de resolver o mistério. Assim que atravesso a rua, pronta para ver M ou minha mãe ou ambos, meu corpo paralisa. Observo o cadáver caído da mulher que me carregou no ventre por nove meses e não consigo deixar uma lágrima sequer cair. Não consigo sentir nada. Era para a cena me destruir? Era para me assustar? Era para me ajoelhar implorando que o assassino misterioso aparecesse?

Que pena. Não significou nada. Nem faço questão de fechar seus olhos. Tudo que faço é me abaixar analisando a rosa vermelha e pegando o bilhete deixado para mim.

"Ela sabia demais – M".

Merda! Já está na hora de conversar com M cara a cara.

Merda! Já está na hora de conversar com M cara a cara

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Lucas, Nicole e eu saímos para as compras de natal, acredite se quiser, ainda há brasileiros que se preparam antes da hora. Eu não sabia fazer isso; escolher, combinar, comprar a vontade... Nunca pude sequer dar palpite nas compras de minha mãe, então só estava acompanhando.

Evidente que não contei a Lucas e ninguém o ocorrido e as mensagens. Eles ainda acreditam que M é minha mãe, o que eu nunca acreditei, mas precisava tirar o foco do assassino deles então deixe-os pensar erroneamente. No final, eles estavam salvos. O pobre coitado procurou seu telefone o dia todo. Seria cômico se eu não soubesse o motivo de ter me livrado dele.

- Que tal nosso natal ser azul? Alguém me disse que era sua cor favorita – Nicole caminha até uma árvore de natal branca com a decoração azul e meu primo sorri.

Aquele clima "familiar" me fez lembrar do último dia que fiquei tão contente, de tudo de ruim que veio em seguida: morte de meu pai, fuga da minha mãe, interrogatório, viagem ridiculamente longa de ônibus a Palmas. Algo aconteceria e estragaria novamente tudo isso, podia sentir.

- Aline! – A voz de Lucas me desperta – Nico está tentando fazer com que se sinta bem. Podia tentar fazer parte disso.

O tom do índio não é severo e nem parecido com uma ordem, ele realmente está a fim de que tudo ocorra bem e que seja um natal feliz, E como eu nunca tive nada perto disso, eu vou ajuda-lo a me enturmar.

- N-nico – A mulata se surpreende ao me ouvir chamando pelo apelido, mas posso ver que se agrada.

- Sim?

- A-aii...Meor – Aponto para uma árvore branca bastante maior do que a que estavam vendo.

- Perfeito – Ela responde piscando um olho.

Talvez de certo dessa vez...

"Aposto que até o natal a mocinha já está na cadeia. Se eu perder eu me entrego, se eu ganhar você se mata na prisão? – M".

Ou não!

by SAFIRA

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by SAFIRA

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