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Estávamos carregando uma infinidade de sacolas com decorações natalinas. Eu particularmente nunca imaginei que alguém pudesse comprar tanta coisa para uma casa só. Ficaria como a casa do próprio papai Noel.

Carregamos tudo até uma das centenas de lanchonetes do lugar, uma mais arrumada e convidativa que a última em que estive. Logo fomos atendidos e pedimos chocolate quente com marshmellos e diversos tipos de cupcakes; comida nada brasileira mas este era mesmo o tema do lugar, então não me importei em abandonar meus costumes patriotas uma só vez e aproveitar.

- Esse natal vai ser incrível – Lucas dizia animado molhando seu marshmello na bebida quente.

Nicole estava a meia hora no telefone e quando se aproxima da mesa, não parece nada a vontade como alguns minutos atrás.

- Aline... Sua mãe foi encontrada morta – Ela diz séria e Lucas quase deixa a caneca cair e se quebrar.

Ao ouvir finalmente essas palavras, eu quero danças em comemoração, pular de alegria, fazer uma festa ou mandar algum demônio ir cumprimenta-la no inferno por mim, dizendo que chego logo, mas nada disso faço. Apenas abaixo a cabeça tentando demonstrar tristeza.

A médica se senta ao meu lado e faz uma espécie de carinho nas minhas costas e o clima pesado parece se instalar, mesmo eu desejando que alguém o quebre. Terminamos de comer, caminhamos para casa, tudo normal, mas eu ainda preciso ficar com cara de bunda por mais umas horas.

Calebe e alguns outros policiais querem me interrogar como sempre, mas graças a filha do delegado, posso aproveitar o meu luto em casa assistindo "O matador".

"Que coisa feia... A vadia não consegue chorar com a morte da mamãe :( Eu ainda te darei um motivo para chorar - M".

O celular apita e eu encaro o ecrã atônita. Lucas e eu acabamos de comprar celulares novos e M já tem meu número. Sorrio com a mensagem. Quem quer que seja é bom, mas eu sou melhor.

"Tente. Quer apostar? Se me fizer chorar algum dia sua morte será lenta e bastante dolorosa e sabe por que? Porque mesmo que me mate, o inferno é a minha casa e eu saio dele com mil demônios para te caçar".

Mando como resposta e apago tudo rapidamente.

- O que tanto olha para esse celular? – Lucas se senta ao meu lado pela primeira vez coberto. Também, com o frio que anda fazendo, me surpreenderia se ele continuasse sem roupa.

"Estou vendo que dia é hoje. Faz tempo que não me consulto com João".

Escrevo o deixando incomodado.

- Não precisa. Você não é doente.

Reviro os olhos e ele me encara.

O dia termina comigo praticando violão, voltando a aprender as notas, os sons, as cordas certas, a afinar e a acalmar a minha alma como antigamente acalmava. Eu lembro de como isso era tão importante antes de Vagner acabar com minha vida.

 Eu lembro de como isso era tão importante antes de Vagner acabar com minha vida

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Nicole confirmou que vai passar o natal comigo e Lucas, e para "aliviar" meu pressentimento que tudo está bem demais, ela veio logo cedo para arrumarmos a casa. Bizarro arrumar o natal um mês antes mas... Para quem nunca arrumou eu devia estar era animada e não desconfiando de tudo para variar.

A mulata tenta colocar suas músicas pop super populares nos dias atuais mas graças a meu primo maravilhoso ela não fez isso. Lucas a alertou sobre minhas preferências pelo meu país e o que há de bom nele, ou seja, nada de pop. Opinião particular claro, mas não sou obrigada. Então ao contrário de "Paradinha" da Anitta, dançamos ao som de LS Jack a famosa "O Carla", em vez de sofrermos com Marília Mendonça e sua "Como faz com ela", cantamos loucamente "Na hora da raiva" da rainha Alcione e perdemos o fôlego num inarmônico "Galopera".

Eu me diverti mais do que achei que seria capaz um dia, tenho que admitir, e a companhia da mulata não me fez querer esfaqueá-la o que para mim já é um avanço bem grande. Até a convidei para ficar mais esta noite e tanto Lucas como a médica gostaram da ideia.

"Queria te ver hoje".

Deixo um leve sorriso escapar lembrando já fazer algum tempo que não vejo meu médico, então logo marco de encontra-lo. Enquanto me arrumo, Nicole zomba de minha proximidade com João e meu primo não parece muito à vontade, mas ele se acostuma.

"Triângulo amoroso? Vamos no uni duni tê, salame minguê, a pessoa que cair, é a próxima a morrer – M".

Bloqueio meu celular e vou a praça ignorando as chacotas e avisos dos mais velhos. Chego lá e encontro Cecília distante, o que me faz querer de verdade conversar com aquele ser louco e extremamente divertido, mas o homem charmoso e intelectual que se aproxima me faz tirar a magrela da minha mente em instantes.

- Não pensei que fosse querer me ver tão rápido – João diz me entregando o que eu presumo ser milk-shake.

Sorrio e caminhamos para longe dali. Apesar de pequena, a cidade é muito bonita e tem pontos maravilhosos para se estar e pensar na vida. Nós resolvemos parar em um desses pontos. Afastado de tudo, um lugar só natureza, céu, estrelas e nós dois.

- Não foi a melhor escolha de lugar para estarmos – O moreno brinca me fazendo rir. Clima romântico demais – Quis me ver para se consultar ou...?

Não deixo que termine, logo ponho dois dedos em sua boca sinalizando o meu desejo; que ele pare de falar.

Ali, observando aquele céu incrível diversas memórias me vem à mente. Boas memórias. E o mais estranho é que são todas com Lucas. Com o fato dele estar comigo me fazendo rir nos piores dias e ser a razão principal dos melhores. Mesmo não sentindo nada por ele parecido com o que ele sinta por mim, não acho justo manipular João machucando o índio.

Imediatamente me viro indo em direção a minha casa, deixando o doutor mais confuso do que o costume.

Imediatamente me viro indo em direção a minha casa, deixando o doutor mais confuso do que o costume

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by SAFIRA

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