Sábado. Meu antigo dia menos favorito em toda semana. Mas isso era sobre minha antiga vida e meu antigo EU. Hoje será diferente. E para me provar isto, levanto as nove horas e me forço a tomar mais um de meus banhos gelados.
O choque da água fria com meu corpo quente fazia, ainda que só um pouco, meus pensamentos se calarem e as memórias copiarem os pensamentos.
Me envolvo na toalha e observo meu reflexo, agora melhor que o da vez passada. Pela tranquila noite de sono, as minhas olheiras diminuíram, meus cabelos negros e molhados até a cintura me deixava até um pouco desejada, e meus olhos beirando o verde estavam com mais brilho que o de costume.
Eu me sentia bem. Pelo menos até sair do banheiro e esbarrar com meu primo. Seus olhos percorreram meu corpo parcialmente coberto e pude vê-lo morder discretamente seu lábio inferior.
Sem perceber me agarrei mais a toalha.
— Bom dia prima. Acordou cedo — Ele comenta tentando tirar seu olhar de mim e caminhando na direção oposta.
— Quero...Passear — Digo rápido entrando em seu quarto e trancando a porta.
Assim que o faço solto de mim uma parcela de ar que nem sabia estar segurando. Preciso parar de pensar que todos os homens são como Vagner.
Trato de por isso na cabeça e me visto depressa, encontrando Lucas na cozinha.
— Queria mesmo falar com você, Aline.
Eu despejo um pouco de chá numa xícara qualquer esperando que continue.
— É sobre Cecília.
Reviro os olhos.
— Má... Companhia?
- Aline, sei que está na idade que quer tomar suas próprias decisões, mas... Aconteceu muita coisa nessa cidade. Pode ser que metade seja invenção, mas ainda acho que deve ficar atenta.
Ouço Lucas com atenção. No ímpeto de me alertar pode deixar passar algo.
— O nome dela sempre está envolvido com alguma coisa ruim — Conclui.
— Sei cuidar... mim mesma — Tento falar rápido, porém a dor me faz embolar a frase e desistir de tentar. Curvo meu corpo e aperto os olhos no desejo de amenizar as pontadas agudas que sinto na boca.
— Hey. Não força — Ele se levanta para me ajudar e acabamos ficando perto demais um do outro.
Suas mãos pousam em minhas costas e seu rosto analisa minha boca, sem ver que meus olhos observam cada gesto minucioso vindo do mesmo, como a respiração mais acelerada, os lábios entreabertos...
Quando percebe se afasta depressa — Desculpa.
Após alguns segundos de constrangimento ele volta a falar.
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Os Corpos de Palmas I
Mystery / ThrillerA mente humana é fascinante e bastante perigosa quando traumatizada. Esse é o caso de Aline, uma jovem com diversas tragédias do passado pronta para tentar seguir em frente. Mudando para o município de Palmas, matando seus medos e se livrando de qu...