→ 29 ←

74 20 29
                                    

Sentada no sofá ao lado de Lucas e Nicole, aguardávamos todos por qualquer que fosse a "explicação" que Calebe nos daria ou que nós daríamos a ele.

Ele disse que queria conversar com todos, então tivemos que vir, mas claro que Nicole deixou as escutas ligadas a fim de me mostrar caso ele quisesse combinar algo com a suposta filha. Odeio admitir, mas essa garota é o motivo real de ainda existir um certo orgulho dentro de mim por ser brasileira.

Calebe volta mexendo sua xícara com chá quente e balançando sua cabeça em forma de negação.

- Ai, ai... O que fazer com vocês – Ele solta um riso forçado e se senta na poltrona de frente para nós – Tudo bem. Vamos aos fatos.

Aquela frase fez algo em mim aparecer. Não sei se posso chamar de ansiedade ou nervosismo, mas eu não gostava daquela sensação.

- Nicole é minha filha antes que digam que não e me desaponta ela estar envolvida nos seus esquemas.

A mulata abaixa a cabeça constrangida enquanto seu pai beberica mais um gole de seu chá.

- Nunca quis mentir para você filha, mas há coisas que precisam ser esquecidas... Não é mesmo Line?

Calebe me dirige um olhar que me deixa confusa – igual a todos ali. Eu já ouvi alguém me chamar assim antes...

- Conhece Aline de algum lugar? – É a vez de Lucas questionar curioso.

- Claro que sim. Era melhor amigo do pai dela.

Sua afirmação me acerta como um soco. Isto não está certo.

- Eu e Vagner nos conhecemos num bar, claro. Ele era um maldito alcóolatra, muito antes de terminar os estudos.

Suspiro. Lá vem a história. Por que não simplificar?

- Porém sua mãe me chamou atenção bem antes dele.

Levanto a sobrancelha não acreditando no que estou ouvindo.

- Ela era uma linda mulher. Aparentava ser bem jovem e era na verdade. Quando me envolvi com ela ainda era época de escola e todos gostariam de tê-la.

Eu só queria vomitar.

- Éramos malucos na época. Gostávamos do perigo do nosso "romance proibido". Sabíamos que Vagner nos mataria se descobrisse.

- Pai, agiliza isso – E mais uma vez; obrigada Nicole.

- Tudo bem. Foi o seguinte: eu me apaixonei, bem antes da sua mãe, se é que ela me amou um dia. Mas não contei. Ela sempre foi mais que louca por Vagner.

Ele pode estar inventando isso, mas essa parte é a mais pura verdade.

- Deixei escondido meus sentimentos até ela me dizer que estava grávida e só podia ser minha a criança.

Eu e Nicole nos olhamos com mais ódio do que um ser humano é capaz de sentir.

- Foi aí que eu disse o que sentia. Disse que ela podia fugir comigo para longe, eu cuidaria das duas.

Nessa parte a vontade de rir foi grande. Aposto que o imbecil achou que minha mãe o amava também.

- Ela disse que não podia, tinha sonhos e todo aquele papo. Quis abortar mas eu não deixei. Ela não precisava assumir nada, mas matar um filho meu seria algo que ela não faria enquanto eu vivesse.

Outro gole.

- Ninguém soube de nada. Quando a barriga começou a aparecer a mãe dela nos ajudou mandando ela para cá fingindo que Bianca seria ensinada num colégio católico ou algo do tipo. Eu fiquei aqui, estudando e criando Nicole, ela voltou e conseguiu ficar grávida de Vagner antes de terminar a faculdade.

Nicole levanta para abraçar o pai e tudo que eu faço é sorrir de lado. Ganhei minha aposta mentalmente.

- Enfim, ela não me amava mas eu sim, então sempre ia e tentava convencer ela a voltar. Transávamos e era bom mas ela sempre voltava para aquele imundo. Até um mês antes da morte de Vagner. Ela me ligou e disse que estava tudo pronto para vir, mas esperaria você completar dezoito anos. Assim se Vagner viesse atrás de vocês, levaria só ela. Nós compraríamos uma passagem para você, para ir para bem longe e viver sua vida.

Interessante. Minha mãe ia me deixar... livre?

- Por que isso deu errado? – Lucas, sempre sendo a vergonha do nosso país.

- Ela matou Vagner – Calebe me olha tão intensamente que eu sei que ele sabe que não foi ela – Então agora vive fugindo da polícia. Eu já tentei acha-la mas... Nem imagino onde procurar. Este fim de semana mesmo eu fui ao Rio mas como sempre, sem sucesso.

- Talvez o celular de Aline ajude – Nicole diz e eu nego sutilmente com a cabeça. Não confio nele. "M" me disse para NUNCA confiar em um homem apaixonado e isto pode ser uma sutil pista.

- O que tem o celular dela?

- Uma tal de "M" manda mensagens ameaçando-a. Achamos que é a mãe dela – Lucas conta me fazendo levantar furiosa – O que foi? Ele pode ajudar.

- Isso é perfeito – Calebe também levanta e eu reviro os olhos – Aline, eu só preciso encontrá-la.

Seus olhos suplicavam isso e eu sei muito bem reconhecer um olhar de alguém doente de paixão. Deus me proteja desse mal.

Lhe entreguei o celular sem pesar nenhum. "M" arranjará outro jeito de se comunicar.

- Isso quer dizer que eu e Aline...

- São irmãs. Desculpe-me por nunca ter te protegido, Aline. Eu só...só...

- Só foi um covarde de merda – Lucas termina por Calebe – Vamos embora Aline.

- Esperem – Calebe larga meu celular e some no corredor. Alguns minutos depois volta com um violão na mão. Um bem familiar – É seu.

Eu o seguro observando marcas fundas nele, escritas, rabiscos, e algo que realmente chamou minha atenção.

Lucas e eu voltamos para casa exaustos daquela noite porém sem sono algum, quase que um cansaço psicológico.

- Quem diria que você já era a segunda prima com que me envolvo – Observo o índio frustrado antes de cairmos na risada – Eu sou um pecador pior do que pensei.

-G...osto eus pecados...Sentada no sofá ao lado de Lucas e Nicole, aguardávamos todos por qualquer que fosse a "explicação" que Calebe nos daria ou que nós daríamos a ele.

Sorrimos antes dele depositar selinhos pelo meu rosto.

- Vamos descansar – Antes de Lucas se levantar eu sento em seu colo o surpreendendo – Aline... Não precisa forç...

Num ato impulsivo eu rebolo arrancando um sutil suspiro do homem e cortando sua fala. Assim que eu o quero. Quieto e de preferência, obediente.

- Certo... O que você quer?

Lucas segura minha cintura incentivando os movimentos mais rápido do que estavam.

Eu beijo seu pescoço uma, duas, cinco vezes até morder o lóbulo de sua orelha.

- Não...Onfio Caebe...

Onfio Caebe

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

by SAFIRA

Os Corpos de Palmas IOnde histórias criam vida. Descubra agora