Levanto cedo e deixo todo o café da manhã pronto para Lucas e Nicole. Aquilo ali não me importa muito, mas quero falar logo com Cecília sobre o que M.E perguntou ou insinuou. E por isso, assim que acabo de comer, me visto, pego Gato e saio à sua procura.
Encontro ela na pracinha de costume conversando com Laraia, que assim que me vê vai embora.
- Ela ainda não se acostumou com você – Cecília diz se aproximando.
"Não acho que vá".
- Esquece ela. Temos problemas maiores.
Eu e a maluca que me acompanha vamos para um dos muitos becos que existem naquela cidade para podermos conversar melhor.
- Aquela loira acha que estamos juntas nos crimes. Graças ao meu transtorno ela pensa que eu tenho algo a ver com a morte de Tereza e sou cúmplice nas suas paradas.
"Que absurdo". É tudo que digito enquanto Cecília cospe seu chiclete.
- Até que faz sentido. Geral pensa que eu botei fogo na merda da família da Tereza mesmo... E sinceramente, eu sou a pessoa que mais teve motivos para isso mas não fui eu. Não seria tão jumenta assim.
Cecília tem sido o mais próximo do que eu já tive de uma amiga. Depois de Tereza, ela foi a primeira a conversar comigo, e eu conversei porque quis. Não foi algo forçado como a Tê. Então achei que essa fosse a melhor hora para lhe contar o que eu sabia.
"Pergunte a Lacraia".
- O que? Não, ela não sabe de nada. Se soubesse de algo já teria me contado, não acha?
"Uma vez, na loja onde trabalho, a vi pagando as compras de Tereza. E segundo a mesma deu a entender, aquilo era rotina".
- Não pode ser. Deve ter ouvido errado. Lacraia nunca pagaria nada para Tereza. Ela nunca nem falou com a mina, e sabia que a gente tinha ranço da cara uma da outra.
"Eu me lembro muito bem do que vi. Só estou dizendo pra ficar esperta".
- Okay. Vou ver isso depois. E seu primo? Vai te ajudar?
"Ele não é meu problema, agora".
- Qual é seu problema?
"A filha de Calebe".
- A doutora? Que merda hein. Tu só arranja inimigo foda.
Não consigo segurar o riso.
Fico apenas mais um pouco com Cecília e depois volto para casa. Gato já deu seu passeio do dia e pelo jeito está faminto. Ao chegar noto que Nicole já partiu, porém Lucas ainda está arrumando as coisas do café.
- N-noite... b-boa – Brinco colocando meu amiguinho no chão.
- Desculpa por aquilo. Eu devia ter...
- C-casa... ua..sua. Tudo... b..bem
Ele sorri de lado e continua o serviço.
- Vamos assistir GOT?
Eu concordo. Já era rotina de nossos finais de semana assistirmos essa série juntos, e se não fosse eu iria tornar uma. Ter esses tipos de momentos com Lucas me proporcionava minhas melhores recordações, então eu sempre fazia um esforço extra para estar com ele.
Ao contrário do outro fim de semana, este foi ainda melhor. Eu e ele deixamos de sair com amigos para ficarmos deitados o dia todo vendo aquela série e comendo besteiras. Eu interagi mais com "Games of Thrones" e isso proporcionou a ambos muitas risadas.
Poderia dizer que agora amo os sábados, e também os domingos, desde que eles sejam com Lucas, são meus dois dias favoritos da semana.
Acordo e percebo que dormi junto a Lucas no sofá. Estou com a cabeça e braços apoiados em seu abdômen de fora. Ele dorme tranquilamente numa posição que mais tarde proporcionará dores terríveis em suas costas, mas seu corpo quente faz com que eu leve mais alguns minutos para me afastar.
Quando finalmente meu subconsciente me convence de que preciso ir, caminho para o banheiro de seu quarto e tomo um banho extremamente frio que tira de vez minha preguiça, e depois parto rumo a cozinha para caprichar no café da manhã.
- Bom dia – Lucas diz rouco e manhoso e eu sorrio sem precisar olhar para ele. Mas quando o faço, vejo sua cara amaçada e cabelos bagunçados, músculos de fora e um bico extremamente fofo que me faz desejar mandar o índio voltar a cama.
- Bom.. – Falo ainda sorrindo – Vá T-tomar ban...banho... C-café dep..pois
Ele me obedece e eu fico satisfeita por isso. Comemos conversando muito, a respeito de diversas coisas porém nunca sobre Nicole. Sempre que o assunto surgia, ele desviava mais depressa do que veio e eu achava estranho, porém não intervinha.
Depois de arrumar a mesa, caminho lentamente para o trabalho.
Era para ser mais um dia "normal" na minha vida, mas eu fui feita para sofrer percebo que há um pequeno aglomerado de pessoas na frente à loja que eu trabalho. Pessoas, ambulância, polícia... Ah não.
- Aline! – Calebe diz se aproximando – Porque será que eu não estou surpreso?
Antes que eu possa perguntar Cecília chega.
- E ae, tio... Tudo certim? – Ela estende a mão para ele que recusa.
- Vocês duas serão interrogadas. Especialmente a mudinha aqui – Ele diz firme como se já tivesse a certeza que me colocaria na cadeia.
- O que aconteceu primeiro, vossa excelência?
- Olha o deboche em garota. Não é como se não soubessem, mas o dono dessa loja está morto. Curioso, não acham?!
Eu e Cecília nos encaramos com o mesmo pensamento; fudeu.
by SAFIRA
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Os Corpos de Palmas I
Misteri / ThrillerA mente humana é fascinante e bastante perigosa quando traumatizada. Esse é o caso de Aline, uma jovem com diversas tragédias do passado pronta para tentar seguir em frente. Mudando para o município de Palmas, matando seus medos e se livrando de qu...