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Passaram-se cinco dias desde que Nicole bancou a boazinha. Eu e Lucas criamos uma rotina, para a polícia não achar suspeito nossa falta de responsabilidade. Então, Lucas iria trabalhar naquela lanchonete pobre que fui e falei com Cecília a primeira vez, na verdade ela comigo.

Ele arranjou este "bico" para as despesas não se tornarem problema caso Calebe decidir demiti-lo por ser cúmplice de alguns assassinatos. Não que esta fosse nossa maior preocupação. Se isso acontecesse, Lucas teria que lidar com o fato de que ficaria ridículo com aquela calça cor de cocô do presídio brasileiro.

Enfim, ele trabalha lá algumas noites da semana, ganhando míseros 150 reais por noite. Uma mixaria para grandes centros urbanos, mais do que o suficiente para esta bosta de cidade no interior.

Eu; arrumo a casa, saio para correr todos os dias exatamente as 10 horas da manhã, visto que a casa já está absurdamente limpa, volto preparando o almoço, que é responsabilidade de Lucas arrumar a bagunça, e por último, meu psiquiatra. Estas são minhas principais obrigações.

Normalmente minha consulta dura de meia a uma hora, então volto para casa, onde Lucas está analisando cópias dos arquivos policiais extraviados por Guilherme.

Chego bem na hora. Tiro meu casaco pegando uma caneca de café quente que meu primo acaba de fazer para mim. Ele sabe que costumo ser bem pontual.

- Pronta para analisar tudo o que ele trouxe nesta semana? – Lucas se senta e eu o analiso primeiro.

"Não sente frio?".

Escrevo o fazendo sorrir. Combinamos que eu falaria só quando fosse extremamente necessário, o que foi um alerta de Guilherme. Como ele diz: as paredes têm ouvidos.

- Larga meu peito de fora e observe uma coisa que me chamou atenção.

Eu deixo minha xícara e dirijo total foco em suas próximas palavras.

- Nicole sempre usou apenas dois nomes em absolutamente tudo que fez desde pequena; trabalhos escolares, quando recebia alguma carta da diretoria e até mesmo em seu diploma, apenas aparece Nicole Rossini.

"Fala sério. Nicole? É sobre ela o assunto?".

- Eu vou chegar lá. Eu achava que era algo normal de alguém que tinha uma descendência italiana, mas mudei de ideia ao pegar isto aqui – Lucas diz pegando alguns papéis e me entregando – Esta é a certidão de nascimento dela. Estava em sua casa dentro de seu guarda-roupa, e não há nenhuma outra, pelo menos em seu apartamento.

Não consigo evitar o riso. Lucas invadiu um apartamento apenas para procurar esta merda?

Eu analiso e há apenas dois nomes escritos também. Largo os papéis na mesa e retomo as mensagens de texto via whatsapp.

"Okay. E isso prova o que?".

- Talvez nada, mas... É falsa.

Minha expressão deve demonstrar uma certa surpresa.

- É um cópia muito bem feita, eu demorei décadas para descobrir isso – Reviro os olhos – Para mim, três dias descobrindo que um documento é falso é mais que uma eternidade.

"Tudo bem, Lucas. Eu não estou entendendo onde quer chegar".

- Pedi para uma policial checar para mim uma certidão brasileira, que tivesse sido feita no ano em que ela nasceu e com estes dois nomes e... encontrei a verdadeira.

Logo ele me entrega e eu começo a ler. Eu juro que estava entediada mas posso ter sentindo algo ao ler aquele nome completo dezenas de vezes.

 Eu juro que estava entediada mas posso ter sentindo algo ao ler aquele nome completo dezenas de vezes

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"Eu falei que ela estava mentindo. Se não mentiu antes, mentiu agora, mas de qualquer forma mentiu".

- Calma Aline, talvez... Eu não sei – Lucas estava sentado no sofá e eu andava descontrolada pela sala à espera da mentirosa.

"Não sabe? O que você não sabe? Como defende-la depois disso".

- Para com isso – Ele diz revirando os olhos.

- NO EVIRA SEU OIO UCAS, QUE DOGA!

- CHEGA! ESTAMOS NESSA JUNTOS MERDA – Lucas se levanta me fazendo afastar alguns passos – Eu tenho a experiência de um policial e só estou dizendo que tem algo que não se encaixa. Quero descobrir tanto quanto você, mas culpa-la não nos trará informação nenhuma.

Abaixo a cabeça deixando meu cabelo cobrir parte do meu rosto e meu primo logo vem afastar as mechas caídas.

- Eu te amo.

- Só que eu não ei o que é io.

- Eu vou te ensinar.

Eu me afasto dele novamente e ambos nos sentamos. O silêncio se instalou por alguns minutos até eu escrever para ele. Lucas não era quieto, e posso dizer que não gosto dele assim.

"É novidade você agir assim".

Ele suspira.

- Te assustei?

Nego coma cabeça enquanto digito: "acredite, já vi piores".

- Quando a gente vive sorrindo e fazendo o que é certo, perdemos o privilégio de chorar e cometer nossos erros - Ele diz com a cabeça baixa, quase como se tivesse em outro tempo.

Eu seguro sua mão trazendo a atenção para mim e deixou o celular em seu colo.

"Se quiser chorar e cometer alguns erros, me chama. Acho que sou uma boa companhia para isso".

Ambos sorrimos e a porta é aberta subitamente revelando uma Nicole totalmente molhada.

- O que era tão sério que não podia esperar meu paciente morrer?

Eu e Lucas trocamos olhares suspeitos antes dele se levantar e pegar aqueles papéis.

- Só queríamos te fazer uma pergunta, Nico – Ele os larga encima da mesinha de centro – Por que você tem o nosso sobrenome?

República Federativa do Brasil. Registros Civis das Pessoas Naturais

Certidão de Nascimento

Nome:

Nicole Rossini Suaçuna

Nicole Rossini Suaçuna

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by SAFIRA

Os Corpos de Palmas IOnde histórias criam vida. Descubra agora