Fomos caçados, mutilados e mortos. Os poucos de nós que sobreviveram ao massacre fugiram e se esconderam, uns continuaram em sua cidade recusando-se a fugir, outros simplesmente emigraram. Não mantivemos contato por muito tempo, tivemos uns cochicho...
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A noite tinha tudo para ser uma daquelas noites tranquilas e bem dormidas, com uma garoa batendo levemente na janela do quarto. Mas Victória se contorcia sobre a cama, sua mente era atormentada por pesadelos. Ela retomava àquela noite, desde a festa no café de Regina. O suor se formava em gotas na testa da garota começando a emanar gemidos em alto e bom som:
- Vai ficar tudo bem, Lice. SOCORRO! - A calmaria do quarto havia sido quebrada.
- Alguém por favor, nos ajude. - O desespero era algo nítido na voz dela. Estava vivenciando toda aquela experiência de novo. Gritava. Exatamente como fizera dois dias atrás tentando fazer com que sua voz sobressaísse o alto som da música.
Mas a jovem não estava em uma festa. Estava em seu quarto aos berros, o que acordou o seu irmão. Este entrou abruptamente no recinto, por sorte ela não deixava a porta trancada, não era a primeira vez que acontecia. Mas fazia tanto tempo que ele não a via assim que inicialmente não soube o que fazer, apenas ficou atônito. Era estranho... muito estranho.
- Vicky! Ei, ei. Eu estou aqui. - Ele a estava abraçando agora. - Estou aqui. Acorde.
Seu sono se acalmara. Estava acordando.
- Rick. - Sua voz era de choro, misturada ao medo. - Eu não quero perder mais ninguém. Ninguém.
O rapaz a abraçou ainda mais forte, tentando dá algum consolo para a irmã, e lhe disse que não perderia mais ninguém. Seus soluços foram cessando à medida que a noite passava. Eles permaneceram assim, até de manhã, quando o despertador tocou. Ambos estavam cansados pela noite turbulenta, mas tinham que fazer uma visita aos vinhedos. Na verdade, Erick tinha, mas não deixaria sua irmã sozinha em casa.
***
- Você pode me levar na casa da Alice antes de irmos para os vinhedos? - Pergunta a jovem enquanto procura alguma coisa dentro da bolsa.
- Posso sim. Mas tem que ser rápido.
- O.K. só quero ver se ela está bem.
- E você? Está bem? - Indaga
- Sim, eu acho. Desculpa ter te acordado ontem.
- Tudo bem, Vicky. Eu não me incomodo. Quer dizer, vou passar o dia a base de cafeína porque quase não dormi, mas tudo bem. - Isso fez com que ela risse, era algo bom. - Toma logo teu café se não a gente vai se atrasar.
Dizendo isto, ele estendeu uma xícara com café preto para ela.
Não conversaram sobre o que tinha acontecido na noite anterior, o porquê de tudo aquilo. Erick sempre deixara a irmã livre para que falasse quando se sentisse bem e não quando fosse pressionada. Eles tinham uma boa convivência. Desde que os pais deles haviam ido embora. Eram mais que irmãos, faziam o papel de pai e mãe um do outro quando era preciso, embora se virassem muito bem.
