XVI

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Olá docinhos, um novo capítulo chegou e com ele um grande dilema pra Suzana. Boa leitura e não esqueçam de comentar e dar estrela.

XVI
SUZANA

A poeira já havia diminuído, quase cessado afinal já se tinha passado um dia. As garotas tinham se reunido para falar sobre o que tinha acontecido, pesquisaram, acharam várias lendas e novamente se voltaram aos grimórios, três, isso realmente era tentador. Suzana estava realmente confusa, não poderia, e não faria isso, não com sua amada, não roubaria aquele grimório, pelo menos não naquele momento, mas posteriormente, quando todos estivessem menos atentos. Por mais que ela fosse rápida e possuísse força, não poderia e nem queria usar isso contra suas amigas, estas estavam confusas e com medo, ela podia sentir o cheiro do medo, mesmo que tentassem esconder ele com uma capa de coragem.
— Su? Você poderia me deixar em casa? — pergunta Katarina tirando-a de seu devaneio. — Meus pais estão ocupados esses dias, principalmente meu pai e minha mãe torceu o tornozelo e não está dirigindo.
— Claro, deixo sim, mas seria melhor que sua mãe não estivesse em casa. — lançou lhe um sorriso torto. — Como ela tá?
— Bem… bem chata. Ela fica irritada por trabalhar demais, mas fica ainda mais impaciente por não conseguir ir para o trabalho e olha que  só está assim há um dia.
— Se quiser pode ficar comigo lá em casa, sabe que meus pais não achariam ruim, eles gostam de você.
— Lógico que gostam, eu sou um amor.
— Na verdade, eles gostam por que ainda não te conhecem de realmente. — brinca Suzana.
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Depois de deixar Katarina na sua casa, Suzana lembra que precisa passar no supermercado, sua cabeça tinha dezenas de pensamentos ao mesmo tempo: como pegar o grimório? Ainda tinha feijão em casa? Preciso de doce, que tal sorvete? Não posso roubar a Kat… humm vou levar milho-verde e creme de leite. Droga, ainda tem o trabalho de biologia. Como pode pensar em roubar algo de Kat? Deveria pegar da Lice ou da Vicky.
Ela parou em um corredor aleatório do supermercado, sentia-se tonta. Arroz! Precisava levar arroz. Foi em direção do arroz enquanto pensava: não conheço a casa das meninas, mas a da Kat, sim. Essa constatação lhe pegou desprevenida, mas deu de ombros e decidiu terminar as compras. Preciso de frango congelado.
Sem perceber a jovem já possuía material para fazer um estrogonofe e uma certeza dolorosa: mesmo com sua habilidade, não poderia roubar as amigas e teria que tramar o roubo para Katarina, pois, sabia exatamente onde o grimório ficava. Mais do que isso, também sabia que se roubasse a namorada ficaria se martirizando.
O celular vibra em seu bolso.
— Alô? — atendeu nervosamente o número desconhecido.
— Suzana? O chefe está ficando sem paciência, acho bom você se apressar.
Em seguida o aparelho ficou mudo. Ela não poderia deixar que ele fizesse mal a ela, nem que isso significasse que ela teria que fazer mesmo sem o seu conhecimento. Tinha um plano, Katarina tinha comentado da visita anual de amigos da sua avó, ela estaria distraída no dia seguinte, talvez nem estivesse em casa, ela levaria no máximo trinta segundos.
Colocando as compras no porta-mala do carro ela observa a cidade a sua volta, todos ainda estavam assustados, mas tentavam seguir suas vidas, os jornais disseram apenas que fora um fenômeno meteorológico então boa parte da população se acalmou. Claro que as senhoras da igreja faziam horas seguidas de orações e diziam aos jovens na rua que era o juízo final, no entanto, a maioria estava apenas limpando suas casas como uma limpeza de primavera. Suzana podia ouvir ao longe vizinhos comentando coisas triviais do dia a dia, via que muitos estavam sorrindo e isso era realmente estranho. Talvez estivessem felizes e gratos por estarem vivos, mas ainda assim era estranho, pois, muitos ainda estavam no hospital, alguns foram até transferidos por conta da gravidade em seus estados de saúde. Porém, de uma coisa Suzana tinha certeza: precisava caçar, controlar suas habilidades para poder entrar na casa de Katarina sem deixar rastro algum, e sem fazer nenhum som audível a humanos.
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Mais um dia tinha se passado e ao andar pela rua podia-se perceber ainda mais a mudança no humor da população — “eles não deveriam andar com medo nas ruas?” — pensa ela ao passar por um jovem que corria na praça próxima a casa de Katarina. Fazia tempo que a jovem não usava suas habilidades, na noite anterior, quando estava caçando, tinha perdido para um lobo-guará e por isso teve que se contentar com o sangue de um tamanduá-mirim. O sangue fresco aguçava seus sentidos, mesmo que não fosse  de um humano, embora esse a deixasse cem por cento quando tirado diretamente da veia, coisa que ela não tinha feito desde que saíra do cativeiro. Até hoje Suzana não entende como conseguiu de fato ter um auto controle tão grande. Lembra de ter sentido sua garganta queimar de sede, mas não atacou ninguém.
Agora ela estava ali de novo, com as forças parcialmente renovadas para invadir a casa da sua namorada, só precisava agora fazer seu cérebro mandar no corpo e realizar, de fato, o que havia tramado.  Seu celular vibra no bolso, ela estremece, mas ao puxá-lo não era seu chefe, e sim sua namorada avisando que iria passar o dia fora. Os velhos, literalmente velhos, amigos de Amélia e dela estavam na cidade. Eles não tinham aparecido no ano anterior, Suzana pensa ter sido o luto que os impediu de vir, mas pelo que Kat havia lhe falado, ela não esperava que estes viessem para a cidade. Foi uma surpresa e foi estranho, mas pelo menos essa visita inesperada lhe daria tempo para entrar na casa e pegar o livro.
A jovem se dirigiu para a parte de trás da casa de Katarina, seu coração começou a acelerar, a ponto de interferir na sua audição, sentia o sangue pulsando em seus ouvidos, e ainda assim conseguia ouvir os sons vindos da casa e da rua. Na casa, era possível ouvir o som da televisão, a respiração profunda da sogra que estava dormindo, embora ela reclamasse que não gostava de ter que ficar de repouso, ela era uma mulher que precisava de descanso. O cachorro do vizinho estava mordendo seu pato de borracha barulhento, duas casas ao lado uma criança brincava no quintal enquanto sua mãe estendia a roupa. Ninguém a veria, seria discreta, mas porque não fazia logo? Respirou fundo e entrou.
Em menos de dois minutos a garota já tinha entrado, revirado encontrado e arrumado tudo. Guardou-o na bolsa, como se fosse seu próprio diário de adolescente. Ao chegar na esquina da rua ela se permitiu olhar para trás. Seu coração parou por um milésimo de segundo, como pode ter feito isso? Antes mesmo que pudesse responder seu celular toca. Agora sim era seu chefe.
— Oi, já estou com a porcaria do livro. Onde entrego? — falou tão depressa que mal era possível entender o que ela proferia.
— Oh, calma aí meu docinho de alho. Seu trabalho ainda não acabou. — a voz do outro lado da linha tinha uma cordialidade perversa. — você apenas conseguiu um grimório.
— Como assim? — Suzana estava ficando tensa. Ele não faria isso? Iria ameaçá-la de novo?
— Outros grimórios estão mais próximo de você do que podes imaginar. — ela pode sentir aquele sorriso cínico se formando nos lábios daquele desgraçado.
— Explique-se. — tentou manter o tom de voz autoritário, mas estava apavorada. Kat estaria em perigo, de novo, se ele quisesse que ela aparecesse com mais grimórios.
— Suas amigas, elas também têm esses tesouros e eu os quero para mim. Você, docinho de alho, vai pegá-los e sua queridinha irá ficar bem.
— O que? Não, elas não têm grimório, eu nunca vi, e nem as ouvi comentar nada, não pode ser.
— E sobre a entrega desse bebezinho aí. Em breve entrarei em contato contigo para dizer a hora e o local.
Ao ouvir isso a ligação ficou muda e Suzana sem chão. Ficou parada olhando para o nada, sentia um nó se formar em sua garganta, só queria chorar. Correu para o carro estacionado logo a sua direita e dirigiu desesperadamente para fora da cidade. As lágrimas começaram a escorrer, e de repente ela já não podia mais enxergar a estrada a sua frente, freou e parou o veículo. Estava sozinha e se permitiu gritar de raiva e chorar de medo até soluçar. Passou horas, sentada ali no acostamento sentindo todas as emoções possíveis em um só momento.
A tarde chegou e já estava quase no meio.  A estrada se tornaria movimentada, ela precisava sair daquele lugar e ir para casa. Em seu celular havia oito ligações perdidas de Katarina e inúmeras mensagens, muitas delas de sua namorada, mas também tinham de Ricardo, do João, e da Vicky, eles perguntavam se ela iria ao velório. O velório, sua tarde tinha sido tão desnorteante que tinha se esquecido completamente que o prefeito tinha organizado uma cerimônia coletiva para homenagear as vítimas da tempestade de areia.
Suzana só queria ir para casa. Estava com vergonha de si mesma, e não sabia como olharia para Katarina depois de tê-la traído, mas Alana, a bibliotecária da cidade também havia falecido no dia anterior. Elas eram próximas, e por mais que pareça ser deprimente ser amiga de uma bibliotecária, Alana era a pessoa mais divertida daquele lugar. Ela trabalhava há anos na Biblioteca Municipal de Alcântara, ela que fizera Suzana se encantar pelas fábulas quando criança e pelos mistérios quando adolescente. Iria a esse velório. Por ela e tão-somente por ela, em honra à sua lembrança
Dirigiu até em casa, agora sem pressa alguma de chegar. Estacionou na garagem, deixou a chave no lugar habitual e enfim resolveu responder às inúmeras perguntas de Kat.
Estou bem.
Estava ocupada durante a tarde.
Não sei.
Também te amo.
Esta última resposta lhe doeu mais, por que embora fosse verdade, como alguém que ama pode trair dessa forma? Outra gama de mensagens estava chegando, mas Suzana não queria responder, ainda mais por ver a preocupação da namorada com ela, a sua atitude de mais cedo estava pesando ainda mais agora. Tomou um banho quente e se permitiu chorar mais um pouco, deixando que a água lavasse sua dor. Precisava ser forte, elas se encontrariam em menos de quarenta minutos. Precisaria olhá-la nos olhos, como se nada tivesse acontecido.
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Minutos mais tarde a jovem estava caminhando em direção ao ginásio. Poderia ter ido de carro, mas preferiu ir andando e prolongando sua chegada. Não se preocupou em fazer maquiagem alguma para esconder seus olhos inchados, todos pensariam ser por causa de alguém que estava morto. Muitas pessoas estavam no ginásio a garota podia ouvir com nitidez o choro sincero de familiares e as debochadas risadinhas de quem não entendia e não respeitava a dor do próximo. Suzana nunca teve apreço por velórios, naturalmente como a maioria das pessoas, mas depois de sua transformação passou a odiá-los, justamente porque conseguia ouvir todos os cochichos sarcásticos por trás de famílias devastadas. Pouco depois que chegou suas amigas chegaram, e acenaram chamando-a para se sentar com elas. Precisou respirar fundo. Precisava ser fria.
— Oi, Su. — disse Alice sem olhar direito para a jovem, o que a deixou grata, Alice tinha uma perceptividade que a assustava.
— Oi, Alice. Como vocês estão? — perguntou já sentando ao lado de Katarina.
— Bem.
— Na medida do possível... Bem.
Com um afago nas mãos Kat disse que estava bem e cochichou perguntando como ela estava.
— Estou...bem. — foi difícil dizer isso. — Como foi seu dia?
— Foi bom. Já falei que eu adoro passar um tempo com esses velhos, não é? Só não deixe eles me ouvirem chamando-os de velhos. — ela riu, e sua risada foi abafada pelo som do microfone sendo testado. A missa de corpo presente iria começar. Muita comoção estava presente nas palavras do padre Jonas, mas Suzana não conseguia se concentrar de fato no que ele dizia só pensava em Kat e no que tinha feito a ela. Como se lesse seus pensamentos, ela lhe lançou um olhar preocupado o que partiu ainda mais seu coração. A estrema unção foi dada, e o povo começou a entoar o cântico, o que a fez desviar os olhos. A multidão seguiu o cortejo e as amigas permaneceram sentadas até que tivesse espaço entre as pessoas para poderem seguir para casa.
— Hey. — sussurrou a morena ao seu ouvido enquanto esperavam. Tinha a voz triste. — Perdi a única coisa que me ligava a minha avó.
— O que, amor? — sussurrou de volta. Elas mal se ouviu de tão baixo que falou, mas Kat entendera.
— O grimório da vovó. Eu o perdi. — lágrimas se formaram no canto dos olhos da garota. — era a única coisa que eu tinha que me ligava a ela. — sua voz se embargava.
Suzana queria pedir perdão. Mas a única coisa que conseguiu fazer foi abraçá-la e segurar seu próprio choro.
Os demais observavam ao longe, sem interferir.
Depois de lanchar com as amigas a jovem seguiu novamente para casa. Não passava das vinte horas, mas ela estava exausta. Não queria continuar ali, fingindo. Nunca havia sido tão doloroso mentir sobre sua realidade antes não era assim ela era apenas uma garota problemática, e Katarina, Victoria, Ricardo e Alice mais recentemente, eram o grupo desejável. Boa companhia. Pessoas em quem confiar. Lembrou-se de um dia que realmente os invejara.
Hey, Suzana. O Marcos tá querendo provar o teu sabor. — Melissa praticamente gritava na calçada da casa. Estava bêbada. Muito bêbada.
— Vai continuar querendo então. Hoje não estou disponível. — Suzana estava com uma forte dor de cabeça recorrente a uma noitada recheada de álcool e maconha. Só queria ir para um lugar sossegado. Na sua casa não poderia ser, seus pais estavam uma fera com ela eles precisavam se acalmar antes que ela pusesse os pés em lá novamente.
Então ela avista do outro lado da rua o “trio parada dura”, Victoria, Katarina e Ricardo, inseparáveis. Estavam na sorveteria. Riam tanto que estavam incomodando pessoas ao seu redor. Era isso que ela queria, pessoas normais, pessoas boas. Alguém em quem confiar para todos os momentos, não só para beber e ficar louca, mas também para levarem aspirina e café para curar a ressaca.
Seus pensamentos voaram para uma época em que não conhecia as meninas afinco, que não eram amigas e pensou que era muito sortuda por ter saído daquilo para isso. Então lembrou como tudo começou. Foi logo depois da transformação, começou com coisas simples, como, por exemplo, dar bom dia. Depois passaram a falar de séries que gostavam de ver. Começou com Kat, claro, “tinha que ser ela”, pensou. Passaram a fazer trabalhos em grupo e sempre que acabava o trabalho, Suzana saía logo para sua casa até receber o convite de Victória para irem na sorveteria. Se envolveram, foram se conhecendo e rindo, Ricardo era o único menino no grupo, o que sempre o deixava voando em algumas conversas. Pegamos ranço das mesmas pessoas. Suzana não pode deixar de rir com as lembranças. 
Em um dia muito chuvoso e frio ela e Kat voltaram juntas depois de arrumarem o slide para o seminário, e desde esse dia foram se aproximando ainda mais, mas de onde tudo isso tinha partido? De um comando. Seu “chefe” tinha mandado que ela se aproximasse do grupo, que os conhecesse. Essa amizade era uma farsa.
— NÃO. — ela grita para si mesma diante do espelho. — Não é uma farsa, Suzana. No começo, sim, mas agora… agora vai além do que ele te mandava fazer. Você ama essas pessoas. Você ama a Katarina. Seu amor por ela não é uma mentira. Se tornou real. Vocês construíram esse amor juntas. Você se afeiçoou a eles, eles te acolheram e cuidaram de ti na tua fase de transição humana vampira, mesmo que eles não saibam disso. Então por quê? Porque fez isso com eles?
A garota deferiu um soco no espelho, partindo-o em centenas de pedaços, alguns cacos ficam presos entre os dedos. Estava sangrando, mas logo pararia, e não restaria cicatriz alguma. Essa maldição ela tinha adquirido por ser a garota que era, problemática, se não tivesse ido aquela festa, nada disso teria acontecido. As cicatrizes físicas sumiam, mas as mentais não, e ela tinha muitas, adquiridas no seu tempo de recém transformada, na tortura, na sede, na dor máxima causada diariamente para que o veneno em seu corpo reagisse e a fortificasse.
Katarina tinha feito até mesmo essas cicatrizes se esconderem, mas agora doíam, por que ela deixou triste quem mais a ajudou, no entanto, não poderia jamais, deixar que pessoas se machucassem por um mero fetiche seu. Seus pais estavam em perigo, Katarina e seus amigos. Todos que ela amava. Aquele crápula já estava ameaçando-a há anos, desde sua transformação em vampira e ela não podia deixar que nada de ruim acontecesse. Precisava ir atrás dos demais grimórios. Mesmo que isso a fizesse se sentir culpada.

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O que acharam da atitude da Su? Como será que ela vai ficar com a Kat? Quem vocês acham que é o chefe dela? E porque ele a ameaça tanto? Sexta no Globo repórter... Opa... No caso, em PNB.
Grande beijo, docinhos
Até semana que vem
#GeLaLu

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