UNFORGETTABLE

Se afaste

Minha cabeça latejava e meus olhos se recusavam a abrir. O chão duro daquele banheiro não me incomodava muito, aliás, nada exterior a mim o fazia.
O que mais me incomodava estava no meu interior, remexendo minhas memórias frescas. Senti duas mãos pegarem o meu rosto calmamente, e então sua voz soou naquele mesmo ar fresco de menta e eucalipto que eu amava.

-Eu te amo, mas por favor, se afaste. -Tentei abrir os olhos novamente, mas era como se meus comandos não fossem indentificados e reproduzidos por meu cérebro.
Meu rosto bateu novamente contra o chão e uma forte pontada fez com que minha cabeça quase explodisse.
-Eu realmente não quero que você pague pra ver…
É muito, muito triste ter que adicionar algumas marcas roxas àquela pele tão  clara.

Abri os olhos na mesma velocidade que o meu corpo impulsionou-se para frente. Era como se eu não tivesse respirado durante horas, pois eu puxava o ar com um desespero imenso.
Olhei em volta, estava em meu quarto, e tudo estava na mais perfeita ordem, a não ser por alguns remédios e um copo d'água em cima da bancada ao lado da cama.
Não consegui entender nada, e também não consegui repuxar as memórias para tentar entender. Deitei meu corpo calmamente na cama e virei de lado, puxando o edredom. Aquele momento fora real demais para ter sido apenas um sonho. Eu fui até a Arena de Vegas, eu estive com ele no banheiro, eu tenho certeza disso.
Só o que eu não sei, é o que eu estou fazendo no meu quarto, sendo acompanhada pelos meus próprios fantasmas e a fria brisa da noite.

-Como está a donzela?
-Ouvi a voz de Demi soar ironica e preocupada num canto distinto do quarto. Mexi a cabeça e levantei o olhar, encontrando a mesma me encarar um pouco receosa com apenas parte do corpo para dentro do quarto.
-Minha cabeça dói.
-Disse, me surpreendendo por ter encontrado a voz em algum lugar da minha garganta. Não era de se duvidar que ela saíria falha.

-Você bateu com tudo no chão, já era de se esperar por isso.
-Demi disse, passando os dedos nos fios brilhosos de seu cabelo. Uma mania sexy dela. Sorri amarelo, impossibilitada de fazer algo a mais. Demi se pôs na beirada da cama e acariciou minha perna sob o edredom de leve, me encarando logo depois.
-O que aconteceu?
-Ela perguntou e eu respirei fundo, sentindo uma lágrima descer e queimar meu rosto por onde ela passava.

Impedi que outras como ela saíssem, apertei  fortemente os olhos.
Demi  aumentou o aperto em minha perna e eu fui obrigada a abrir os olhos. 
-Eu… está doendo… sozinha…
-As palavras não saiam do jeito que eu queria e eu me xinguei mentalmente por isso. Já não bastava o vexame na frente do meu pior inimigo, eu estava fazendo o mesmo com a minha  melhor amiga 

Demi não insistiu no assunto. Ela veio ao meu encontro e depositou um beijo firme em minha testa, sorrindo fraco logo depois.
-Descanse, está bem?
-Ela disse, acariciando o topo da minha cabeça. Demi deu uma última olhada em mim antes de se levantar e caminhar em direção à porta, desaparecendo e fechando-a logo em seguida.
Não demorou também para eu ouvir algumas vozes baixas vindas de outro cômodo, e em seguida o barulho da porta principal sendo fechada por eles.
Finalmente consegui esvaziar a minha mente.
Eu sou um pouco tanto fraca para isso. Nunca quero ficar por baixo, por isso sempre tento sair por cima de tudo e não magoar a mim mesma. Primeiro eu, depois, outras pessoas.
Costumava ser assim, até eu me mudar para Las Vegas. Não contei a minha história.
Também, no grande corre-e-corre do dia-a-dia, não deu tempo de tocar nesse assunto. Também não pretendo, não agora. Tudo o que se precisa saber sobre mim é que eu não era essa boba dramática como estou agora.
Eu não costumava ter o coração quebrado pelas pessoas.