Colo de Mãe

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POV Camila

Eu já estava há dois dias no Brasil, porém mesmo assim eu ainda não havia passado em casa.

Fiquei hospedada na casa de Keana nesse período de tempo, impedindo a mesma de dizer à minha mãe que eu estava no Brasil.

Eu ainda não tinha me acostumado com os rostos diferentes dos que eu costumava ver em Vegas, e muito menos com o cheiro do provocador perfume de Lauren sendo trocado pelo poluído ar de São Paulo.

Se eu realmente quisesse ver minha mãe depois de tanto tempo de briga, sem mesmo ter mandado uma mensagem ou uma carta para mostrar que eu estava disposta a pedir desculpas, eu teria que me preparar mais.

O único problema é que eu não estava disposta a me desculpar. Ela também havia errado, e se ela estava arrependida, ela com certeza teria dado sinais disso.

Esse era o meu único problema quando se tratava de minha mãe. Eu não queria me humilhar para a pessoa que me colocou no mundo para depois ser pisoteada por ela rejeitando todas as palavras doces que eu falaria.

Eu não teria estômago para aguentar esse momento, provavelmente sumiria no mundo após isso.

Eu precisava jogar esse pensamento para longe para fazer o que o meu coração realmente queria. 

O dia passou como a brisa fresca no deserto, rapidamente e sem chance nenhuma de aproveitar. Quando você começava a tomar consciência de que ela estava chegando, ela já havia realmente acabado, e você não conseguiu desfrutar de nada. 

A noite chegou e o mesmo vazio do quarto em que eu estava acabou se tornando sufocante. Eu sentia saudades de Lauren, e simplesmente não conseguia tirar ela da cabeça.

Eu tinha um medo absurdo de que nossa relação acabasse dessa forma, e de um dia para o outro ela apenas sumisse dos meus pensamentos e do meu coração.

Por mais que fosse melhor, não era algo que eu queria de jeito nenhum. 

Encarei o teto e lembrei de seu rosto dormindo sereno ao meu lado sempre que passávamos a noite juntas. Ela realmente parecia um anjo daquela maneira, alguém que jamais seria capaz de machucar um outro alguém. Tudo pura desilução.

-Como foi a viagem, Camila? -Senti todos os meus músculos, ossos e células gelarem quando ouvi aquela voz.

Meu coração falhou e por um milésimo de segundo eu não sabia se teria forças para virar o rosto e confirmar a dona daquela voz.

Quando essa primeira reação passou, eu me dei conta de que era o melhor para se fazer. Se ela estava aqui, era porque o destino quis que aquela fosse a hora de acertamos a nossa vida.

Não era algo que poderíamos adiar mais.

-Mais intensa do que eu pensei que seria, mãe.

-Eu disse, virando meu rosto para encarar o seu e sentando na cama para poder fixar meu olhar em seus olhos e seus traços.

Ela estava diferente, parecia mais cansada do que antes. Me senti levemente culpada por isso.

-Se foi tão intensa, por que veio tão cedo?

-Ela perguntou, cruzando os braços num jeito tímido e ao mesmo tempo intimidador.

Sorri de canto com isso. Essa era uma das poucas manias que eu lembrava que ela tinha.

-Tem certeza que é cedo, mãe? -Perguntei franca e ela sorriu fraco, negando com a cabeça.

-Mesmo que nosso último encontro não nos proporcione memórias boas, você ainda é a minha filha, e eu ainda sinto saudades.

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