Capítulo 1

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Abri os olhos lentamente, sentindo uma pontada de dor na cabeça quando o sol que passava pelas frestas de algum lugar bateu em meu rosto; me remexi na cama e percebi que ela não era tão macia quanto a minha, fazendo-me abrir os olhos na hora. O teto também não era o meu.

Olhei ao redor e me deparei que não era meu quarto, nem o quarto de Sara. Meus olhos vagaram até o meu lado, temerosos; um garoto de cabelos negros e de pele branca dormia de costas para mim. Não me lembrava de nada, só me recordava de ter entrado na casa de Rin, pois havia sido convidada para seu aniversário e haviam muitas pessoas que eu nem fazia idéia que fossem. Agora eu estou seminua, numa cama...

Será que...? Não! Não! Não! Eu não fiz isso. Esse pensamento me fez levantar da cama e me olhar no espelho que havia ali. Meu rosto estava todo borrado, meus cabelos desgrenhados e algumas marcas arroxeadas em meu pescoço. Varri o cômodo com o olhar e avistei meu short jeans e minha camisa jogados no chão, caminhei até eles e me vesti.

Meu celular não estava comigo, e eu não me preocupei em saber o nome daquele menino, muito menos em memorizar seu rosto. Sorrateiramente, me retirei dali e dei um jeito de sair da casa da minha amiga.

Algumas pessoas dormiam no chão, com copos e garrafas ao seu redor. Eu sabia que não devia ter vindo. Eu já sabia o que ia acontecer caso chegasse em casa, pois eu nem devia estar aqui.

E aconteceu.

Minha madrasta me aguardava com um cinto na mão, na sala de estar. Seu rosto demonstrava um pouco de raiva e preocupação, estava vermelho e a empregada a tentava acalmar, falhando quando me viu.

─ Onde esteve? ─ perguntou, me rodeando com o cinto na mão. Suspirei, sentindo medo do que viria a seguir. Mas foi culpa minha, devo arcar com as consequências.

─ N-na festa da Rin. ─ gaguejei, fitando a empregada num pedido de socorro. Agora minha perna ardia após ouvir um barulho: ela havia me batido.

─ Por que me desobedeceu?

Comprimi os lábios, evitando chorar. Eu tinha que ser forte e suportar as consequências; eu desobedeci.

─ Era... ─ minha voz falhou a outra cintada, em seguida de outra e mais outra. Aquela era minha madrasta, eu sabia que ela se preocupava comigo, por isso estava me batendo. Ela não queria que eu fosse à festa e seu simplesmente fui sem seu consentimento.

─ Desta vez eu estou falando sério, Sakura. Aprenda a respeitar os mais velhos, me respeite. Eu não considero só seu pai como marido, como te considero filha. Nunca mais me desobedeça. ─ ela joga na minha cara, saindo dali com fúria nos passos pesados.

Minhas pernas fraquejaram e eu caí no chão, aos prantos. Senti pequenos bracinhos me rodearem, e uma mão fazia carinho em minha cabeça. O cheiro de baunilha me fez saber quem era e dar um sorriso em meio às lágrimas.

─ Sara.

─ Vem. ─ ela me puxa para que eu levantasse, e com dor e dificuldade, fiz o que ela pediu. Sara é minha irmã mais nova, ela é como um tesourinho para mim, sempre estávamos juntas e cuidávamos uma da outra. Pelo caminho que ela me puxava, deduzi ser seu quarto.

Me sentei em sua cama, vendo-a pegar um spray de baunilha e jogar na vermelhidão das minhas pernas. Sorri com seu ato, um tanto surpresa.

─ Acho que é baunilha que acalma os nervos. ─ proferiu, beijando minha testa. Dei uma risada triste e a abracei. ─ Saky?

─ Hm?

─ O que você aprontou? ─ ela me olhou, soltando-se do abraço.

─ Desobedeci a madrasta.

Ficamos nos encarando, num breve silêncio. Seus olhos azuis fitavam minhas mãos e eu encarava seus cabelos róseos e longos. Éramos muito parecidas, fisicamente; a única diferença entre nós era a idade e o emocional.

─ Não faça coisa assim. Nunca desobedeça ninguém.

Ela sorriu e fez carinho em meu cabelo. Nos deitamos na cama e eu comecei a contar historinhas para ela, mas em plena manhã, acabamos por pegar no sono.

****

✔ Revisado

Coração de mãe [EM REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora